10 de outubro de 2010

Ao Pequeno Príncipe


           Devo me apresentar por educação ou formalidade? Sou apenas uma garota que pode ser confundida com outras cem milhões de garotas, porque ainda não te cativei. Escrevo do planeta Terra, este que você conhece tão bem e o faço porque assim como você um dia teve, eu tenho agora a necessidade de um amigo. E depois de ter lido suas histórias narradas através do olhar encantador e emocionante do seu amigo Aviador, penso que não pode haver no mundo ou em outro asteróide que não o B612, alguém capaz de ocupar este posto – de amigo – tão bem quanto você, pequenino. Atualmente aqui na Terra quase todas as pessoas agem como se fossem pessoas grandes, até as crianças e é complicado possuir um amigo quando quem está à sua volta não entende a necessidade disso. Você sabe, meu principezinho, não existem lojas de amigos e pelo que vejo, as pessoas grandes não se importam com isso, com a falta que um amigo faz; elas preocupam-se com a seus empregos e com a falta que fará o bônus no final do mês, se preocupam em quanto custa aquela roupa de marca que está na moda, mas nunca em como surpreender um amigo e ganhar um sorriso seu. Elas simplesmente não se importam.
            Não peço que me cative, pois mesmo sem me conhecer, já cativou e como sei que a autoridade repousa sobre a razão eu ordeno que me deixe cativar você, mas só se quiser. Lembro-me de você a cada vez que vejo os campos de trigo, eles me remetem aos seus cachos louros, você pode se lembrar de mim ao ver o céu escurecer, afinal, meus cabelos são tão negros quanto à noite. E sempre durante ela, estou a olhar o céu, assim como o aviador, procurando seu riso nas estrelas.
            Como vai a sua tão linda e orgulhosa Rosa? Mande lembranças minhas para ela, aposto que eu ego inflar-se-á ainda mais. Pode me contar sobre a emoção de reencontrá-la? Especulo, pois estou certa de que o carneiro não comeu a flor. Penso com um pouco de dor no coração em como foi difícil para ela ficar um ano longe de seu melhor amigo, entretanto, eu gostaria muito de vê-lo mais uma vez em meu planeta casa. Creio que o Aviador e a Raposa haveriam de experimentar uma alegria infinita. Sei da sua preocupação com os Baobás e entendo suas razões, no entanto, preciso dizer-lhe que aqui no meu planeta a única coisa que me amedronta são as pessoas grandes. Como você deve se lembrar, elas são bem menores do que os baobás, mas oferecem tanto risco quanto eles.
            Assim como você, penso ser uma bobagem essa preocupação com os números, pois quantidade sem conquista não vale nada. É quase como ver um jardim cheio de rosas; são belas, contudo, vazias. Não foram cativadas, ninguém parou para sentir seu cheiro e como você sabe muito bem, não se pode morrer por elas. De que vale uma casa de R$ 200.000,00 sem um amigo para fazer companhia? E se eu sei de tudo isso, devo à você, meu principezinho.
            Você repetiu tanto a fim de não se esquecer, será que ainda se lembra do que lhe disse a Raposa? “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Você é responsável por mim, pequenino. Cativou-me e eu quero lhe cativar, para que me conheça. Você não pode ter esquecido, só se conhece bem as coisas que cativou. Mas, caso não queira ser cativado por mim, para não correr o risco de chorar, eu estarei indo ver o pôr do sol por 43 dias seguidos, já que no meu planeta, só se pode ver o sol se pôr, uma vez ao dia. Lembro de você dizendo que quando a gente fica triste, gosta de ver o pôr do sol, aquela mistura fantástica de cores deve servir de alguma coisa. Por que não, talvez, como uma injeção de alegria?
            Mas, eu espero uma resposta sua e desde já o meu coração se alegra com essa possibilidade, espera e se prepara para a sua chegada. Porque eu não sou como um cogumelo.
            Com amor,
Joyci Letícia Dias.

3 de outubro de 2010

(C)alMinha.

Para ser lido ao som de Alma

Ela: - Me dá.
Ele: - O quê, menina?
Ela: - A tua alma, o que mais poderia?
Ele: - Qualquer coisa, é. Você merece qualquer coisa.
Ela: - Então me dá...
Ele: - Não posso.
Ela:- Como não pode?
Ele: - É o que eu sou.
Ela: - Uma vez eu li sobre isso...
Ele: - Leu sobre o quê, menina?
Ela: - Isso, sobre almas.
Ele: - Me conta.
Ela: - Você vai rir...
Ele: - Não vou. Me conta.
Ela: - Você promete?
Ele: - Sim, menina.
Ela: - Li que na verdade nós não temos uma alma, temos um corpo. E que somos uma alma.
Ele: - Gêmea –, sussurrando.
Ela: - O quê?
Ele: - Nada.
Ela: - Só você, menino.
Ele: - Mas, menina, como você se sente em relação a isso?
Ela: - Isso o quê?
Ele: - Dividir.
Ela: - Não entendi.
Ele: - É que, menina... Não te disseram, mas na verdade você tem só metade de uma alma.

Silêncio. 
Mais silêncio. 

Ele: - E ela é minha.