25 de julho de 2011

Tease(r) me.


Minha alma de mini-saia.
Entre um movimento e outro, palavra.
Um mostrar sem querer revelar, não posso expor.
Mas, cabe a você – se quiser – supor: Proposta indecente?
Fernanda Mello

         A questão é que sempre fiz por prazer. Ou quase, algumas vezes contrariada; não dava pra fazer do meu jeito. Sabe quando a outra parte acha que sabe de tudo e não aceita nenhuma sugestão? Detesto, fica chato. Mas, era o que tinha de ser feito, quase como obrigação embora eu sempre tenha achado uma ponta de prazer –  ainda que mínima –, no ato. E consumava. Eu não posso fazer nada se é o meu jeito, se ali eu encontro meu refúgio. Não que eu não tenha feito cara feia, não sou tão boazinha quanto me digo, mas nunca ninguém reclamou de nada até porque eu estava fazendo e não cobrava nada. Muita petulância da parte de qualquer pessoa ainda se achar no direito de reclamar, é o que eu penso.
 Tem gente que faz por dinheiro, não condeno, só não consigo. Odeio cobrança abusiva, me deixa em paz. “Faz assim”, “você não acha que ali é melhor?”, “mexe aqui”, “muda ali”. Tem outra coisa também, não gosto de muito barulho, no máximo uma música de fundo que tenha a ver com o clima e só. Nada de conversinha, troca de elogios ou crítica. Pra que, alguém me explica? Porque sinceramente não entendo, não vejo sentido. Não ajuda em nada, eu juro.
Não me lembro da primeira vez, faz tanto tempo. Será que foi bom? Valeu a pena pra alguma das partes, será que me olhou com cara de inquérito e perguntou: “foi bom pra você?”, será? Não sei. Esqueci. Talvez porque não tenha sido tão bom assim, mas nem tão ruim senão eu me lembraria, certamente, de algo do que me queixar. Mediano, pode ser. Algo que eu tenha merecido um cinco ou sete, foi justo? Talvez eu tenha me culpado ou então nem doeu o suficiente para que o fizesse. Só sei que aconteceu, não é o que dizem? Sempre tem a primeira vez. Deve ter sido na época do colégio, devo ter compartilhado a experiência com alguém. Você se lembra? Me liga, me conta. Me procura talvez a gente repita a dose, hoje com mais experiência, pode ser melhor. Devolve pra mim a lembrança, esquecida que sou não sei onde deixei.
Agora já tenho alguns longos anos de experiência. O quê? Não sei com exatidão, talvez uns sete ou oito anos; que me dá prazer é isso. E mesmo assim, acho que seria muita prepotência da minha parte me considerar profissional, dar dicas, ensinar, corrigir. Não! Preciso de muito mais para tanto e quando o muito mais vier, ainda vou achar pouco. É assim, não me acho boa o bastante, mas também não entrego os pontos fácil. Tenho meu valor.
Já fiz de tudo, é verdade e de muita coisa sinto vergonha, se eu pudesse esquecer, assim como esqueci a primeira vez, seria ótimo. Como faz? Vivo achando que desaprendi, então pratico, pratico, pratico e a todo instante quero estar melhor para qualquer um. A gente nunca sabe né? Adoro quando vejo alguém devorando e depois saindo satisfeito, quem se satisfaz – ainda mais – sou eu. Não sei explicar, me sinto viva.
O problema está apenas em compartilhar, não é tudo que dá para se dividir, certas coisas são tão íntimas, tão minhas. Não cabe assim em qualquer lugar, para qualquer um. E quando isso acontece procuro me preservar ao máximo, escondo, omito. Meu jeito, juro! Sem maldade. Não é porque o resultado é positivo, ou negativo. Isso não quer dizer muita coisa, só que eu não quero gritar pros quatro cantos. Privacidade, já ouviu falar? Exatamente isso.
Alívio. Prazer. Descanso. É isso, palavra, que você significa pra mim. Eu não me lembro da primeira vez, desculpa. Mas, já faz parte da minha rotina te procurar quando eu preciso me esvaziar. De tristeza ou de alegria, você é sempre o melhor escape pra eu começar e ser nova outra vez. Talvez algum dia eu aprenda a te usar pra ganhar o pão, promete não me culpar e nem me ofender? Não quero me sentir uma prostituta, encontrar no prazer uma forma de fazer dinheiro. Será que vai ter o mesmo sabor? Não sei, palavra. São coisas que só o tempo (e você, é claro) poderão me dizer.




Feliz dia do escritor a todos! (:  

12 de julho de 2011

In sanidade.

Enlouqueci-me. Não, não houve nenhum diagnóstico onde um especialista me certificava de que eu estava louca, no entanto, aconteceu. É tão delicada a linha que separa a sanidade da insanidade e eu nem pude perceber – o exato momento em que ela – se apagou. Porque na verdade não, você não fez pergunta alguma pelo simples motivo de que você já sabia de tudo. Então eu arrumei mecha do meu cabelo que caiu sobre os meus olhos e tampava de uma maneira tão deseducada a minha visão de você. Naquele momento eu não sabia se era uma visão boa ou ruim, minha capacidade de discernir as coisas já havia sido afetada, ainda agora eu não sei, mas era uma visão de você. Os meus olhos negros te olhavam aliviados, não mais tão tristes apenas com uma profundidade que chegava ao desconhecido de mim, quietos, como quem já viu muito e não quer dizer mais nada. Somente mergulhavam no oceano silencioso das minhas águas, negras também. Eu pedi para você afrouxar a sua gravata e você o fez, sem me questionar, embora eu tivesse resposta para te fornecer: ela de uma forma que eu não podia entender me sufocava. Meus dedos, sem as mordaças do que é certo ou errado, moviam-se lenta e carinhosamente pela sua face, a ponta deles tocava com cuidado a barba que estava por ser feita e os seus lábios sorriam como se soubessem – e eu tenho a impressão que sabiam – que eu tinha enlouquecido.  Eu acho que quem me enlouqueceu foi você com o seu silêncio que dizia tudo o que eu queria escutar e eu calava respondendo tudo o que você queria como resposta e acho que enlouqueci justamente por não me importar em responder o que não era perguntado e assim, calados, eu tinha com você o diálogo mais interessante de minha vida inteira.