16 de setembro de 2009

A alma diz pra onde quer voltar. ♥

Sentou na cama assustada e sentia-se gélida, como se estivesse fora de si. Apalpou seu próprio corpo para sentir se ainda era tempo de respirar, os olhos varriam o quarto para ver se estava tudo bem, ou se algo havia acontecido. O pijama claro e curto deixava a mostra seus pêlos arrepiados como num apelo não atendido pelo calor vital. A mediunidade não era bem vinda por todos e nem mesmo por ela, temia que aquilo fosse real e tudo indicava que era, o relógio anunciava que era hora de levantar, se havia sido sonho ou não ainda era necessário continuar, mesmo que lhe faltasse força. Colocou os pés no chão que parecia intangível, a sensação era de horror e medo, não se acostumaria fácil com aquilo, ainda que se tornasse freqüente. Levantou e por alguns instantes conseguiu se esquecer do que havia acontecido, ao certo não tinha esquecido... Conseguiu por um tempo não pensar.
Enquanto tomava o café ouviu ser chamada, olhou tudo ao seu redor e só sua mãe estava ali, não havia sido ela. Aquela voz grave não teria saído de tão delicada criatura, a menos que fosse uma brincadeira de mau gosto, mas não faria sentido. Como nenhum dos outros acontecimentos o fazia, seus pensamentos estavam sendo atormentados pelas mais diversas dúvidas, quando conversava com o seu irmão de alma ele sempre dizia a ela que ela era mediúnica, devido a diversas situações que ela tinha vivido. Tomou os livros pelas mãos e foi se dirigindo ao ponto de ônibus, todos os dias ela fazia isso... pegava sempre o mesmo ônibus para ir ao colégio. E sempre observava atentamente as ruas passando consigo, imaginava mil histórias durante o trajeto que não era muito maior que vinte minutos. Durante esse tempo sentiu a alça da bolsa cair do seu ombro, como se alguém tivesse puxado-a, o que seria impossível e logo depois sentiu um arrepio, mais um grande sinal de que ele estava por perto. Recordou-se do que havia acontecido naquela noite e tinha deixado-na tão assustada. O medo que ela sentiu só não poderia ser maior que a saudade que ela tinha dele, essa saudade atormentava-a sempre e fazia feridas que nunca poderia se fechar, a menos que o reencontro acontecesse e tinha acontecido, não era só mais um sonho ou um pensamento, não tinha sido um susto, era realidade. Eles estiveram juntos mais uma vez, as almas dos dois se reencontraram. E tudo o que ela precisava naquele momento era poder compartilhar com alguém aquele reencontro, mas o alguém não era qualquer. Poderiam rir da cara dela, poderiam chamá-la de maluca, de ridícula ou mentirosa. Mas, o coração não mente, apenas sente e ela estava sentindo aquela saudade um tanto amenizada, passou o dia na busca da pessoa correta e não foi possível.
Quando voltou para casa abraçou o travesseiro e se colocou a chorar, era um choro desmedido e merecido, as lágrimas corriam a sua face, não estava com medo do que tinha acontecido naquela noite e sim do que os outros pensariam quando descobrisse. Aquelas coisas não eram brinquedo com o qual poderia se brincar e depois deixar de lado, aquela não era uma história fictícia que ela veria no cinema e voltaria pra casa como se nada tivesse acontecido, ela era a personagem principal e o roteiro havia sido escrito pelo vida ou pela morte.
Sentiu lhe afagarem os cabelos. Ela olhou de lado e encontrou alguém que estava disposto a ouvir e não julgar, alguém que demonstrou interesse em conhecer uma história que tinha acontecido do outro lado da vida, uma história que nem todos estão dispostos a conhecer e nem todos vão viver. Lamentavelmente, sempre existe um alguém em nossas vidas para quem nós nunca gostaríamos de dizer adeus, ela sentia enquanto chorava que dizer adeus era necessário, aquela poderia ter sido a última visita do anjo a terra, poderia ter sido o momento em que ele conseguiu se desprender das coisas que ele tinha aqui, não era bom, não era satisfatório, mas era algo que precisava acontecer para o bem dele e dela. De qualquer forma era inegável que havia sido perfeito, mesmo em circunstâncias tão distantes. Foi quando cessou o choro e ouviu a voz que queria acolher aquela história.
- Anda, diga-me o que tanto te faz chorar...
Com a voz ainda embaraçada pelo choro e envolta por soluços, ela se acolheu ao colo da amiga e foi contando o que havia acontecido:
- Ele veio me visitar, eu não quis acreditar que tinha estado com ele quando acordei, mas foi real, foi tão real. Eu senti... – A amiga não quis interromper, apenas consentiu para que a aquela criatura ali em seu colo, se fazendo tão pequena, pudesse continuar. - Foi em sonho, eu até acordei assustada. Ele tinha vindo da Alemanha para o Brasil com a Camila e um filho, era filho deles. Eles tinham se casado e ele estava tão bem, com uma alegria que eu só conseguia ver quando estava por perto. Era tão sério com os outros. Eu trabalhava em um orfanato no qual a minha mãe era dona. E ele tinha vindo deixar o bebê, estava se separando da Camila que queria ficar no Brasil e voltando pra Alemanha, não consegui compreender os motivos que o fez tomar essa decisão. Mas, o engraçado é que ele não sabia que o orfanato era meu, ele tinha escolhido porque era um bom lugar, um lugar lindo... parecia uma casa no campo tinha uma árvore enorme e brinquedos por todos os lados, quando eu o vi dentro do carro foi impossível de controlar... eu saí correndo na direção dele. – um suspiro saiu dela, mas ela não se abalou. – Eu gritava como teria gritado se ele aparecesse agora ali na porta, eu gritava correndo na direção dele de braços abertos, como era a minha vontade de recebê-lo de volta. O bebê que ela trazia nos braços era a coisa mais linda de se ver, era loirinho e tinha os olhos azuis, eu acho que era menino e se chamava Josh, a Camila não queria deixá-lo, ou queria. Não falei com ela, deixei-a com outra pessoa, pra cuidar de toda a papelada e fui à varanda da casa matar a saudade do meu irmão. Ele me dizia que estava tudo bem com ele, melhor, muito melhor do que antes e que eu não tinha porque me preocupar, ele dizia que também sentia a minha falta e que nunca ia me esquecer, por um momento achei que ele sumiria da minha frente. Ele me pedia incansavelmente para que eu não deixasse meus estudos e eu disse que queria ir com ele, queria ir embora com ele porque a falta era demais. Eu o abraçava durante todo o tempo. Ele me disse que a Alemanha não era algo tão bom quanto eu pensava, que o Brasil era bem melhor, eu defendia que era bom porque ele não passava todo o tempo aqui e ele dizia que o povo brasileiro era muito mais receptivo do que os alemães. Pedi para que ele ficasse e foi em vão... Ele pegou as chaves do carro e chacoalhou-a na minha frente, fazendo tilintar e disse que precisava ir, as malas estavam no carro. Quis morrer com a partida, debrucei sobre a janela do carro dele, quando ele já estava sentado e ficava dizendo que ele sempre me faria muita falta. – A explicação foi interrompida por um grande silêncio, a amiga que prestou atenção em tudo o que lhe foi dito, voltou a afagar os cabelos da menina. Apenas sorriu como se concordasse – eu acredito em você.



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Esse texto eu escrevi a pedido de uma grande amiga, que disse que queria um reencontro, ainda que fosse um sonho. O sonho realmente aconteceu, eu realmente já tinha sonhado com isso, se aconteceu, se foi só um sonho, se foi real, se foi experiência mediúnica, como dizia o próprio personagem dessa história verídica, que eu tinha fica a critério de vocês. Eu acredito e isso é suficiente. Um beijo pra vocês todos! ♥

5 de setembro de 2009

Sobre um amor que não terminou...

Era (aparentemente) mais uma tarde tediosa, onde não acontece nenhuma história que eu um dia teria prazer em contar aos meus queridos netos. Vivo sonhando que quando eu tiver a honra de ter netos, serei a avó mais perfeita do mundo. Deseducarei todos eles, com muito gosto, os levarei para passear nos parques da cidade, nos circos e em todos os lugares que eles quiserem ir, mas as noites serão sagradas, eu os colocarei aos meus pés e contarei todas as histórias das quais eu tiver orgulho de ter vivido. Não serei aquelas vovós que sabem fazer tricot, afinal eu não tenho nem um pingo de paciência para essas coisas, mas contar histórias. Ah, como eu amo... E essa história vai ser uma daquelas que eu vou começar contando: A história de hoje, meus amorezinhos... é sobre um amor que não terminou... Eles vão falar: Essa a gente já conhece, vovó! E eu certamente fingirei que não ouvi, já que recordar é viver e eu sinto tanta falta desse tempo.
Essa história é sobre um amor que não terminou. Um dia há algum tempo atrás eu conheci uma pessoa especial, uma daquelas que vocês nunca saberão se existiu mesmo ou não. Porque nem eu, que convivi com ela, consigo saber. O amor que essa pessoa fez despertar em mim não terminou e nunca terminará eu me prometi isso desde o dia em que... Bem, vamos a história. Era um alguém de serenidade visível, um alguém que sabia como tratar outro alguém, eu sempre o disse que ele era um gentleman e ele me proporcionou tardes de risos altos e sinceros. Ele era branco e sensível, um alguém que eu sempre vi como um protetor, tinha nome: Sebastian, para mim o Alemãozinho ou como eu digo até hoje, minha metade alemã. Nós tivemos muito pouco tempo, nem sempre as coisas acontecem como nós desejamos, mas era como um encontro marcado, todas as tardes estávamos unidos. Eu adorava ouvir as histórias que ele tinha pra me contar, adorava ser o ombro amigo quando ele precisava desabafar e ser a “mamãe” quando precisava de bronca, apesar dos cinco anos que contavam a mais no RG dele, eu sempre fui tachada de irmã mais velha, apesar de só me chamar de “mein kleines” (minha pequena). Referíamos-nos um ao outro sempre com uma ternura que vinha de outras vidas, era o que nós acreditávamos outras vidas existiam para nós. E nós iremos nos reencontrar numa próxima, ou nessa ainda se... É. Ele era um alguém que tinha muito medo, não se sentia amado pela mãe que tinha o mesmo nome que o meu e sentia muita a falta da namorada que estava do outro lado do oceano. Eu nunca soube detalhes, na verdade nem ele sabia muito bem quando ela voltaria e isso o machucava ainda mais. Ele sempre buscou meios de esquecer-se desses problemas que o atormentava, uns mais apropriados e eficazes: como amigos e outros mais inapropriados e pouco eficazes: falsos amigos. Eu sempre ficava martelando na cabeça dele que amigos de verdade nos levavam para caminhos bons e os “amigos” nos levava ao deserto. Deserto me remete a uma frase que me lembra muito ele: Num deserto de almas também desertas uma alma especial reconhece de imediato outra. Do Caio, o grande. Eu o reconheci, a alma do Sê sempre reluziu para mim. Ele me apresentou coisas que eu me prendo até hoje, para nunca esquecê-lo, uma delas a mais importante: O perdão. Eu aprendi a me perdoar pelos meu erros e não culpar os outros pelos erros que não eram deles, eu aprendi a desculpar quem quer que fosse e por qualquer ofença, qualquer ferida. A minha metade alemã era uma coisa que eu sempre quis ser, poliglota. Outra coisa que me faz nunca esquecê-lo, a minha promessa. Ainda serei poliglota e todos os meus diplomas, serão dedicados a ele. Para ser muito, mas muito e precisamente sincera: muita coisa me lembra o alemão mais especial de toda a minha vida, o meu irmão. Eu poderia ficar a noite inteira contando essa história aos meus netos, ou a quem ousasse me dar ouvidos, porque eu tenho muita coisa a falar. Os risos descontidos tomavam conta de qualquer ambiente em que estivesse eu e ele. Também houveram lágrimas, sinceras e doloridas. Quando ele insistia em dizer que eu era quem tinha grandes problemas e vivia sorrindo e ele não tinha problemas e ficava os procurando, como numa caçada onde não se sai sem sua presa, procurava tanto que acabava por encontrar. Ninguém podia negar que cumplicidade era a nossa marca, nós conversávamos sobre todo e qualquer assunto: desde religião até o céu de Brasília, que, diga-se de passagem, nós consideramos o mais bonito do mundo. Insisto em contar a história como se ele estivesse presente, porque ele está. A presença dele dentro de mim é tão forte que eu posso sentir, eu posso ouvir-lo dizendo que agora está tudo bem. Mas, eu preciso chegar ao fim da história, antes que as lágrimas não me deixem continuar, o soluço embrome a minha voz e vocês tenham que sonhar com o fim, que não será tão sincero e descontente como o verdadeiro. Houve um dia que eu fui procurá-lo no lugar de sempre e ele não pôde ser encontrado, lá estava só um bilhete: O mais importante e triste que eu recebi em toda a minha vida.


Jooo! To passando só pra me despedir... Eu queria agradecer por tudo, tudo e tudo que você fez por mim cara! Você foi e ainda é uma das pessoas mais importantes pra mim, na minha vida! Até peço desculpas por estar fazendo essa "caca", como tenho certeza que você diria se estivesse falando comigo agora rsrs mas realmente não ta dando mais pra suportar! E tipo... Dessa vez eu não volto cara! Eu prometi pra mim mesmo e vou cumprir, eu sei que não vou melhorar! Só quero que você não se esqueça de mim, porque você sabe que independente de onde eu estiver, eu vou estar olhando por ti, te protegendo... Apenas quero que você respeite minha vontade de querer partir! Mas enfim, vou ficando por aqui... Eu te amo muito, muito, muito, muito, muito e muito Jo
*-* pra toda a eternidade e em todas as minhas vidas! E quanto a visita que eu iria te fazer... Deixa pra próxima quando nos reencontrarmos! um enorme beijo de quem te ama mais que tudo... Sê!"
6 de março de 2008, 19:59
Ninguém estava presente quando as lágrimas cobriam o meu rosto e eu achei que não teria mais forças pra continuar sem ele. Mas não é remorso o que me aflige porque na última vez que eu o vi, o deixei com palavras doces e verdadeiras, eu o tinha dito que o amava, porque amava e ainda o amo. Eu sempre tentei fazê-lo desistir desse adeus tão dolorido eu sempre tentei conformar a dor que o atormentava, mas essa decisão não cabia a mim. Ele sempre foi uma pessoa muito especial, desde o primeiro instante e que apesar de não ter o mesmo sangue que o meu, nós tínhamos todo o restante para nos considerarmos irmãos, o amor, o afeto e a cumplicidade. Coisas pelas quais eu não tenho pelos meus irmãos do sangue. Eu sempre acreditei que a alma era uma coisa muito mais importante que a genética, o físico. Nós tínhamos uma alma parecida, nós éramos (somos) irmãos da alma. E isso é bem maior que o sangue. Sempre sentirei falta das aulas de português que ele me pedia, já que as gírias eram difíceis de ser compreendida por ele assim como advérbio de modo temporal. Ele fazia uma tempestade com isso e eu o explicava com as palavras mais simples que eu podia. Assim como sinto falta dele falando em alemão a frase que mais marcou a estada dele na minha vida: Se amar é viver, eu vivo além da vida... porque eu te amo além do amor. E minha metade alemã sempre soube que isso não era apenas um clichê, ele sabia que vinha de dentro do meu coração. O que me conforta é saber que você olha por mim, o que me conforta é pensar que certamente você está bem melhor do que estava por perto, os sonhos nos quais você vem me visitar pra mandar notícias também cabem como um pequeno alívio, gosto de sentir que você está em paz. Afinal, foi tudo o que você buscou durante toda a tua estadia na terra. Eu me enganei quando acreditei que você era um anjo Terrestre, você era um anjo que estava só de passagem. O céu te mandou e o céu te buscou. Olha por mim. ♥


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Galerinha, quero indicar dois vídeos pra vocês. Um que é um curta metragem do conto do Caio Fernando Abreu que eu postei pra vocês um dia - Os Dragões não conhecem o paraíso. E o outro é um que eu acabei de assistir no YT, sobre apaixonar-se pela vida. Os dois são bemmm bacanas, quem puder assistir garanto que vai ser bem legal. Respondo os comentários de vocês depois, porque eu vou pra feira agora. E queria agradecer também pelo carinho que vocês tem, é muito bom receber ele. *-* amo mt tudo isso! Seguem os vídeos:


É só clicar no título e se divertir, beijos!