25 de dezembro de 2010

02:07 a.m.

Um brinde aos meus bons amigos que estão de malas prontas, um brinde aos velhos amores que estão sendo velados sem lágrimas, um brinde ao que se perdeu por puro desleixo e um brinde também - e principalmente - ao que ganhei enquanto piscavam meus olhos. Para que - ou quem - brindar senão ao acaso? Não sei, será? Se não fui, se não foram ou se virão, verás, brindaremos também. Histórias e desafetos, risadas e vinho tinto, seja bem vindo, meu bem, ao Clube do Desapego. Senta, mas eu aviso: Não terás tu tempo para descansares, o novo sempre vem e derruba, deixa o velho para trás, ele não se importa se foi bom ou ruim: "O velho fica!", diz o novo em tom autoritário, no entanto, não diz onde deixar o velho, então você sempre faz como bem entende: Na memória? Talvez. Mas, pode e provavelmente irá atormentar-te, experimenta deixar o velho em seu lugar, numa caixinha enfeitada, com letras bem bonitas:  P A S S A D O.
O novo não chega se o velho não sair, só de birra, vai embora. "Não tenho mais tempo para assistir". Já viu esse filme tantas vezes, pobrezinho. Ele, por sua vez, também fica velho e entra pra história - esta que será contada em pouco tempo no Clube do Desapego. Um conselho? Cuide para que você não sinta um arrependimento ao contar essa história, você só tem essa chance de fazer diferente e deveria usar como se fosse a última, e se for? Você não vê. Talvez estivesse ocupado demais vestindo o terno das tradições, tomando o chá do bom conselho e comendo o biscoito da sorte.
Diga-me, para que lhe servem essas asas se seus pés não querem sair do chão? Poupe sua voz e seu corpo em encenar outra vez a mesma história, nesse palco o diretor nunca avisa qual é o ato final porque ele quer que você brilhe - igualmente - em todos os momentos e seja ovacionado. É preciso equilíbrio e paciência para encontrar o tom certo, para chamar a atenção da melhor forma. Você não é a única estrela, mas saiba ser único de alguma forma, cuide-se para que não te ofusquem e cuidado para não ofuscar, há de fato espaço para todo mundo, mas é preciso que você encontre (e ofereça, obviamente) o seu melhor. E é isso que farei questão de aplaudir.

16 de dezembro de 2010

Sobre manhãs e tardes sem você.

            Às vezes eu fico olhando pros papéis brancos, pras canetas pretas e pro céu azul e tenho uma vontade imensa de escrever pra você, uma carta onde eu diria tudo o que eu deveria ter dito antes de você partir. Então, eu começo a me questionar: “Por que não fiz isso antes?” e nenhuma resposta chega, pelo mesmo motivo, não escrevo de novo, de novo e de novo. Eu me sento no sofá, estico as pernas colocando-as sobre a mesa de centro, pego o controle mudo de canal umas quinhentas vezes e às vezes tenho até vontade de acender um cigarro, será que um cigarro na boca ou entre os dedos resolveria meu problema? Não, eu sei que não. Acabo me irritando e desligo a televisão, saio pela porta e dou de cara com aquele céu tão, mas tão azul que me dói os olhos – e se fossem só os olhos, tudo estaria muito bem -, a alma também dói.
            Ainda não inventaram nenhum anestésico pra alma, algo que você aplica na veia e sente a dor ir amenizando-se, pouco a pouco até ser completamente sanada. Ainda não inventaram algo ou alguém capaz de substituir qualquer pessoa que você perdeu. Ainda não inventaram ninguém que esteja a sua altura. E enquanto não inventam eu fico aqui assistindo o céu perder a cor, vejo dias chegarem e partirem e a dor que eu carrego comigo continua aqui, tende a aumentar mais e mais a cada dia. Agora me diz: De quem é esse problema? Todinho meu. Ninguém se importa se você se foi, ninguém se importa se o melhor irmão do mundo não está mais entre nós, se os meus braços não são mais suficientes para te abraçar e minha voz não pode alcançar os seus ouvidos. Então, se eu apertar meus braços contra o meu peito eu posso te apertar lá dentro? Porque de lá você não sai, não sai mais não. Se eu fechar meus olhos com muita, muita força eu posso ver você sorrindo dentro de mim?
            Permaneço na ânsia de saber se algum dia eu conseguirei me perdoar por não ter estado ao seu lado, por não ter impedido de alguma forma. Eu poderia quem sabe ter tentado uma última vez, eu poderia ter lutado mais um pouco, eu poderia. Não importa, Sê, não importa se os meus braços já estavam suficientemente cansados, eu ainda queria te abraçar, eu ainda queria remar por você e pelo seu barco furado, eu ainda podia, eu ainda faria isso por você. Nada e ninguém teria força pra me impedir, só você. Mas você não tinha esse direito, não tinha! Você deveria ter me dado a oportunidade de dizer que aquilo era a pior merda da sua vida, de novo. Você deveria ter me deixado te abraçar, só mais uma vez. Você deveria, era sua obrigação de irmão.
            Eu sei, eu sei. Agora não adianta mais nada, é melhor eu calar a boca, não é? Mas, se eu me calar vai adiantar alguma coisa? Os meus olhos continuarão vermelhos, inundando qualquer ambiente que me lembre você. Só os seus pulsos não doem mais, mas o meu corpo dói inteirinho. Por fora e do avesso, todas as vísceras, todos os cantos, todas as dobras, tudo. E nada do que eu faça dará um jeito nisso, posso viajar até pra Alemanha que isso não vai passar, Paris está fora de cogitação. Mas nada, nada vai doer mais do que sentar num gramado e ver o céu de Brasília todinho sobre mim, pesaria tanto nos meus ombros, doeria tanto, tanto que eu não sei dizer se posso aguentar.
            Agora eu olho pra tudo que fica ao meu redor e aos poucos as lembranças que eram suas vão se perdendo, aos poucos vão se findando e o que eu vou fazer quando não restar mais nada material? O bilhete de papel cada vez mais amarelado e aos poucos aquele “de quem te ama mais do que tudo” vai sumindo, será que é a promessa se quebrando? Será que onde você está, para onde você foi, você conseguiu outra coisa para amar mais do que a mim? Essa ideia fica cada dia mais insuportável, mais dolorida, mais amarga. Verdade ou ilusão? Véu de qualquer porcaria? 
          Eu queria tanto você aqui comigo agora, eu queria que fosse mentira, que um dia você aparecesse e dissesse rindo da minha cara de pateta: “Era brincadeira, Kleine, eu não morri... continuo aqui por você, pensei melhor”. Eu só queria isso e o pior, o pior é que eu sei que é pedir demais. Eu sei que infelizmente não dá pra voltar a fita, que eu não posso tentar de novo por você, que não há uma segunda chance, que nenhum apelo que eu faça aqui ou acolá terá alguma serventia.
            Só que se coloca no meu lugar, só tenta se colocar no meu lugar... Você era meu melhor amigo, eu confiava em você, desejava seu bem e lutava por isso, fazia absolutamente tudo que eu podia, é verdade que não era muito, mas era o que eu podia e de repente tudo se esvai pelo vão dos meus dedos sem eu poder fazer mais nada. De repente tudo acaba e eu não tenho uma explicação palpável, plausível. Nada do que eles me disserem vai me satisfazer, entende? A menos que eles digam: Calma menina, tudo vai ficar bem. E dentro de alguns poucos instantes fique tudo bem mesmo. Eu não acredito mais nas pessoas, eu não posso mais acreditar nelas. Você prometeu que estaria comigo pra sempre e agora, quando eu mais preciso (o tempo todo) você não está.
            Você se lembra como eu era forte quando você estava comigo? Eu podia aguentar qualquer coisa, meus braços eram grandes o suficiente pra abraçar o mundo e agora? Agora eles se cruzam apenas diante de mim mesma e eu não faço nada, eu não posso fazer nada. Eu não posso mais aguentar o peso do universo sobre os meus ombros e agora o universo não é mais apenas o meu problema com meu pai. O universo é cada vez maior, cada vez mais honra o seu nome.
            E eu tenho a impressão de que tudo seria mais fácil se eu pudesse te contar tudo, se eu pudesse abrir minha vida diante dos seus ouvidos como se abre para um diário. E que você me ajudaria a ver o mundo sempre com outros olhos, com os seus olhos. Eu penso que com você do meu lado eu poderia aguentar qualquer coisa, só porque você ia me dizer pra aguentar só mais um pouquinho e mais um pouquinho e mais um pouquinho, até passar. Era isso que você fazia o tempo todo. Você me fazia forte, eu lutava um pouco com os seus braços quando os meus estavam cansados.
            Era só isso que eu queria fazer por você. Só isso. Só queria deixar você ver com os meus olhos, pensar com a minha cabeça e enfim, lutar com os meus braços. Se isso fosse útil pra você, eu poderia fazer. Juro.
            Eu aguentaria facilmente você do meu lado, qualquer coisa com você do meu lado, olhando nos meus olhos, dizendo que eu poderia aguentar só mais um pouquinho, só mais uma vez, porque você dizia, eu me lembro de você dizendo: “Você é forte” e eu me lembro da forma como você me amava por isso.
            Não sou mais tão forte agora, ou sou forte de uma forma que eu não perceba. Porque as pancadas já não doem mais, estou anestesiada de uma forma que não dá pra contar nas cartas, explicar nos versos ou rabiscar a prosa. É por isso que não mais te escrevo. Só te amo, irmão.

2 de novembro de 2010

Fique longe de mim (Odeio-te, meu amor)

           Do lado de fora já estava escuro, o restaurante não estava muito cheio e os dois se encontravam sentados frente a frente, os olhares se cruzavam de uma forma estranhamente desagradável e o ar que ela soltava a maior parte do tempo era pesado, dava para ouvir a certa distância. Ele, que a conhecia muito bem sabia que as coisas não estavam como ela desejava, no entanto, sabia também que não era qualquer pergunta que traria a resposta correta: O que estava acontecendo? Muito clichê. Esticou seu braço sobre a mesa até que a sua mão tocasse à dela que num movimento de reflexo recuou. Algo estava – definitivamente – muito errado. Ela fechou os olhos por alguns instantes e ele teve a impressão que contava até cem para não estourar, o seu rosto corou de tal forma que parecia maquiagem, mas era fúria, apenas fúria e ele sabia bem. Não tinha dúvidas de que algo a incomodava e parecia ser a presença dele. Por quê? Por quê? Essa era a única pergunta.
           Ele levantou a mão para chamar o garçom, sem desgrudar os seus olhos dos dela. Eles sempre forneciam tantas respostas, agora pareciam tão mais negros do que de fato era e infinitamente calados. Não demorou muito para o garçom se aproximar e anotar os pedidos. Ela, Letícia sorriu para o garçom. Ele sentiu-se ainda pior. Ela era mesmo complicada, estava sendo gentil quando a sua expressão gritava seu ódio e seus olhos calavam sua dor? Quem entenderia? Não ele, não naquele momento. Dezenas, centenas, milhares de pensamentos se misturavam a cada milésimo de segundo e ele fez a única coisa que poderia fazer:
           – O que te aflige, Letícia Marie?
           Os olhos dela o fuzilaram de tal forma que assistindo a cena você poderia questionar-se quanto tempo ele demoraria para começar a derreter, as ondas do calor de seu ódio poderiam ser vistas, sentidas ou simplesmente imaginadas. A resposta não demorou muito e deixou claro que não era obra da imaginação dele:
           – Você quer saber Fre-de-ri-co? Você tem certeza que quer saber? Porque no seu lugar eu não gostaria de ouvir as coisas que tenho vontade de dizer-lhe.
           – Acho que você me conhece suficientemente bem a ponto de saber que eu nunca faço perguntas em vão, não é? Então, Letícia, me diga. Se for o que você pensa, me diga.
           – Sim, é o que eu penso. Mas, nem sempre a verdade é o que queremos ouvir. Existe um tipinho de pessoa que prefere viver de ilusões. Você quer mesmo que eu lhe diga? Depois não vale dizer que não foi avisado. Se fazer de vítima.
           – Você, como pessoa culta que é, deveria saber que existe uma pujante linha entre o que as pessoas pensam e o que é verdade. Pensamento, na maioria das vezes é fantasia, Letícia. Mas, vamos: coloque as cartas na mesa.
           – Tudo bem, Frederico. Vou falar e você tira suas próprias conclusões. Entretanto, há uma exigência para que eu diga o que tanto me incomoda. Uma única exigência.
           – O que você quiser.
           – Você não pode se levantar antes que eu diga que terminei. Você ouvirá, mas ouvirá tudo.
           Frederico apenas assentiu com a cabeça, estava deveras curioso para saber o que se passava por trás daqueles olhos, daquela face tão delicada e que ele sabia, escondia um demônio. Gênio forte, difícil e indomável. Palavras que facilmente descreviam-na ou como ele mesmo proclamava aos quatro ventos – ordinária até a tampa. Letícia que não se sentia nem um pouco acuada começou a despejar as verdades sobre a mesa, foi direta:
           – Eu detesto você!
           – Aham – Completou ele, usando de uma grosseira ironia – Se você me detesta o que é que está fazendo aqui agora? – Olhou para o relógio – São exatamente vinte e uma horas e quarenta e cinco minutos, você está num restaurante na zona sul, longe do seu apartamento, área central da cidade porque você precisava dizer que me detesta? Faz-me rir, Letícia, faz-me rir. Você nunca teve talento pra piadas, andou tendo algumas aulinhas?
           – Eu falo e você escuta, Fred. Eu te detesto não foi o bastante? – Ela bufou e olhou ao redor, seus olhos logo voltaram a enfrentar os dele e ela continuou – Eu preciso ser mais clara para que você entenda? Você nunca me entendeu mesmo!
           – Sim, você precisa ser mais clara. Se for possível, transparente. Porque não faz nenhum sentido, o que você está dizendo não faz sentido.
           Respondeu Fred, sabia que estava cutucando a onça com vara curta e riu, o que a deixou ainda mais furiosa. Questionava-se: Por que diabos esse demônio está rindo da minha cara? Pareço uma palhaça? Só pode ser. E mais uma vez decidiu entrar no jogo dele:
           – Tudo bem, Frederico, tudo bem. Você quer mais? Eu dou. Eu sempre faço as coisas do seu jeito, não é? Pois bem, se você quer mais. Você terá. Serei frígida e darei detalhes sórdidos sobre o meu ódio por você. Se você precisa que eu seja cruel para que entenda, bem, lá vamos nós, quero dizer - eu e minha crueldade. Eu detesto a forma como você fala, eu detesto todos os seus trejeitos e as suas pausas também.
           Ele não parecia nem um pouco incomodado, cruzou os braços diante do próprio corpo e permanecia ouvindo atenciosamente cada palavra que saía da boca dela. A cada instante ela se irritava mais, no entanto isso só era perceptível pela sua face que ficava mais e mais vermelha, o seu tom de voz era o mesmo desde o primeiro instante, nem baixo e nem alto demais, apenas audível e firme, não era do gênero dela dar barraco em lugar algum, tampouco num restaurante daquele padrão.
           – Eu não gosto de maneira nenhuma da forma como você me olha e sabe quando você analisa meu corpo inteiro quando me viro de costas pra você? Eu também acho medíocre. Você pensa que eu não sei? Toda mulher sabe quando é olhada da cabeça aos pés e ela nem precisa estar te vendo.
           Tudo que ela teve como resposta dele, foi a cabeça balançando para cima e para baixo, assentindo e como um pedido de: Vamos, será que você sabe mesmo brincar de ferir? Eu pareço alguém magoado? A indiferença aparente nos olhos dele era pior do que vê-lo dando um murro na mesa por ódio, quebrando os pratos e gritando, chamando-a de maluca. Ela queria e precisava de uma reação que parecia não vir. Ela se perguntava se faltava muito tempo para ele dizer que aquilo era coisa da cabeça dela. Homens. Levantou seu tom de voz em apenas um décimo para exclamar como forma de continuidade:
           – Meu Deus, como eu pude esquecer? Eu odeio quando você é grosseiro e segura meus dois pulsos com as suas mãos me impedindo de qualquer reação mulherio. Eu odeio quando você bebe. Eu não suporto quando você roça a sua barba por fazer na minha bochecha, no meu pescoço ou em qualquer parte do meu corpo pequenino.
           – Ah, então você está querendo dizer que eu sou a pessoa que você mais odeia no mundo? Continua não fazendo sentido. Você veio aqui por que mesmo? Afinal, você só começou a dizer por que eu tanto te incomodo quando eu perguntei, se eu não perguntasse você continuaria guardando tudo pra você e jantaria hoje comigo e outro dia, em outro lugar. E outros dias, em outros lugares, enquanto eu te convidasse e suportasse essa sua cara fechada? Letícia, de que planeta você veio?
           – A questão é justamente essa, você não agüentaria minha cara fechada por muito tempo, Fred. Você está acostumado com a Letícia que mais parece uma vaquinha de presépio, fica balançando a cabeça e te dizendo sim o tempo todo. Isso te incomodaria, isso te incomoda, isso te incomodou tanto que você perguntou, enfiou o dedo lá na ferida e fez tudo vir a tona. Você é curioso, você precisa de todas as respostas o tempo todo. Só acredita no que pode ser explicado, no que é óbvio. Por isso você não acredita em Deus, por isso você acha que eu não faço sentido pra você, eu não sou óbvia. Eu sou, como diria Clarice, um paradoxo incontestável. Eu sou isso aqui e daqui a pouco não sou mais.
           Ele se mexeu na cadeira, talvez tentando se acomodar diante das incômodas palavras que ela atirava contra ele. Era realmente ruim imaginar que a mulher pela qual ele morria de amores pensava tão mal assim dele, o odiava tanto. Ela percebendo seu desassossego inclinou um pouco seu corpo na direção da mesa, como forma de desafio e perguntou:
           – Você acha que está acabando? Nem pense em levantar daí, meu doce Frederico, quando eu acabar eu aviso e você enfia seu rabinho entre as pernas. Mas por enquanto seu único direito é permanecer sentado e em silêncio, de preferência. Quase como num tribunal, tudo o que você disser - e fizer - pode e será usado contra você. Qualquer ação sua pode me lembrar de algo que eu detesto, odeio ou não suporto em você, afinal, eu odeio tudo, – ela diminuiu em oito décimos o seu tom de voz e falou quase como num sussurro, como se fizesse uma confissão para ela mesma e apenas para ela. – Ou quase tudo mesmo. – Tomou um pouco de fôlego e sua voz voltou ao tom perfeito para aquelas palavras. – Então, para não arriscar a sua vida, permaneça sentado e em silêncio por que eu continuarei falando. Eu odeio o quanto você é grande. Eu odeio o quanto você se gaba por saber das coisas que sabe. Eu odeio cada palavra que saiu da sua boca desde o dia que você entrou na minha vida, todas elas. Detesto sua necessidade quase infantil de sempre querer me proteger. Eu não suporto enfrentar os seus olhos. Acho todas as suas piadas um saco e odeio quando você começa a falar línguas. Tá legal?
           Houve uma pequena pausa quando ela viu o garçom se aproximar, sorriu outra vez para o mesmo garçom enquanto ele servia os pratos e as bebidas. Desculpou-se pela pequena demora e se afastou, enquanto ele tomava certa distância Frederico se perguntava em como aquela mulher poderia dissimular uma felicidade que inexistia naquele momento, sem perder a pose, sem parecer maluca, sem parecer – sequer – dissimulada. Não atreveu-se a interrompê-la, vai que ela dissimulasse ser um dragão e soltasse de verdade fogo pelas ventas para fazê-lo crer? Letícia, no entanto, assistia a expressão confusa dele. Cortou seus pensamentos como se sua voz fosse uma faca realmente afiada:
           – Como se tudo isso não fosse o suficiente eu tenho toda uma lista. Mas, para não tornar isso tão monótono, porque a sua bunda deve estar ficando quadrada à uma hora dessas né? Então serei o mais direta que eu puder, tudo bem pra você ser desprezível? Eu odeio você inteiro, todinho, por completo. Todas as suas vísceras e vícios, da cabeça aos pés – passando por esse coração, ele bate por alguma coisa? -, odeio todas as palavras e atitudes, odeio até o seu nome e odeio aquela música (que por acaso tem o seu nome no plural) também.
           O barulho da faca de prata no prato de porcelana irrompeu a melodia única da voz dela, ele encolheu os ombros como se pressentisse que aquilo lhe traria alguns problemas. Aproveitou a deixa e sentiu-se no direito de dar uma resposta, como réu, no tribunal tinha o direito as palavras em sua defesa; quase perguntou para ela onde estava a bíblia para ele por a mão sobre ela e começar o discurso com o tradicional: “Juro dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade em nome de Deus”. Mas, soube que poderia ser estrangulado ali mesmo ou que no mínimo, ela o mandaria calar-se e daria o veredicto final sem as palavras dele.
           – Pois bem, dona Letícia, respondendo a sua pergunta: Sim o meu coração bate sim por alguma coisa. E eu não preciso dizer pra você pelo quê, você é muito mais inteligente que eu, lê tudo o que fica nas entrelinhas, não preciso deixar tudo claro como água. Eu não acho que sou um ser tão desprezível quanto você me desenha, você acha mesmo que está sendo justa? Volto à questão inicial, você acredita estar dizendo mesmo a verdade? Ou isso tudo é apenas o que você quer acreditar? Você apenas quer, não é? Não vejo nos seus olhos você acreditando nisso, de fato.
           Ela se sentiu invadida com as palavras dele. Não sabia o que era pior, se ele contra-atacando ou sufocado atrás da inércia. O que ela de fato queria com aquilo? Pergunta, que nem ela saberia responder. Feri-lo como ela se sentia ferida? Coagi-lo como ela se sentia coagida? Não, ela não sabia qual era o objetivo principal de todo aquele desabafo. Adiantaria alguma coisa? Letícia soube, assim que as palavras terminaram de sair da boca dele, o que ele queria dizer com elas. Era por ela que o coração dele batia, do jeito grotesco dele, mas era por ela e isso ela não poderia mudar. Foi por aquele homem que ela tinha se apaixonado e se mudasse uma vírgula no que ele era, não seria ele. Seria o bastante? Não, nunca. Ela não acreditava no ódio que sentia por ele, embora o sentisse. Como ele disse, havia uma diferença entre pensar e ser fato, e também havia uma diferença entre sentir e crer. Orgulhosa como ela sempre fora, por mais que visse a derrota diante dos seus olhos, não se daria por vencida. Apenas para o seu travesseiro que outrora seria afogado por suas lágrimas salgadas, mas para Frederico, não.
           Viu ele levar a primeira garfada até a boca e em seguida, provou o vinho branco que ela tinha escolhido, limpou os lábios com o guardanapo de papel que estava ali, encaixou uma mão na outra e declarou-se todo ouvidos:
           – Por favor, continue, Lê.
           – Urgh! Odeio até a forma como você mastiga e como levanta o copo, odeio tudo em você. Você por inteiro. E por isso eu queria que você fosse pro inferno! E todo esse ódio não existe por acaso. Tudo isso tem um motivo e se você quiser eu te explico, é tão gostoso te torturar e mantê-lo sob o meu poder. Enfrentar os seus olhos e ver a sua curiosidade saltando pra fora, todas as minhas atitudes anulando a sua inteligência e te ver implorando para que cada palavra que eu diga pra você desvende um pouco de mistério, ou pelo menos te faça entender algum detalhe. Quando eu era criança eu aprendi que nós humanos só somos capazes de odiar aquilo que nos faz sentir inferior. Por isso, o meu ódio por você não é pequeno, é gigantesco! Você me faz sentir muito menor do que de fato sou.
          – Até que enfim uma razão. Agora e somente agora as coisas começam a fazer sentido para mim. Você me odeia por que se sente inferior, acha que eu quero fazer você sentir-se assim? Quanta bobagem.
           – Pare de ser ridículo e não me interrompa, você pediu para ouvir então ouça! Você quer motivos, eu os darei. Um por um. – Depois disso, todas as palavras poderiam ser ouvidas com um tom de choro, ainda que as lágrimas não saíssem de seus olhos e nem estivessem aparentes, as palavras soavam doloridas, como um desabafo. Toda a autoridade anterior fugiu para onde ninguém sabe. – Eu detesto a forma como você fala, porque você sempre sabe como me deixar sem palavras, a minha respiração é cortada a cada sílaba que sai da sua boca e as palavras que são minhas amigas, quando estou perto de você fingem que nem me conhecem e passam a milhas e milhas de mim. Os seus trejeitos são detestáveis também porque eles prendem o meu olhar de forma que eu decoro cada um deles. Isso sem falar nas suas pausas, elas me levam a loucura! Tem como não odiá-las? Eu não consigo, me fazem pensar no que você pensa e com elas fica muito mais fácil ouvir a sua respiração, que droga! Como eu posso gostar da forma que você me olha se essa é a forma que minhas bochechas se coram mais facilmente? Você conhece alguma mulher que gosta de se sentir envergonhada? Você me deixa sem graça com os seus olhares sobre mim. E quando eu me viro de costas e sinto o seu olhar sobre o meu corpo inteiro, da cabeça aos pés? Sobe um arrepio pela minha espinha e é difícil disfarçar, mas você insiste, você sempre faz da mesma forma.
           Frederico não sabia como deveria reagir, se a tomava pelos braços ou brigava com ela. Por quê? Não era preciso odiá-lo por aquilo, aquilo era ele, aquilo era o que ambos sentiam e não precisavam lutar contra. Era lindo, era imenso e melhor do que qualquer coisa, era simplesmente real. Sim, diferente de todos os contos de fadas, sim! Mas, o encanto estava exatamente ali. Na beleza da realidade. Então, interrompeu-a com uma pergunta, tentando fazê-la recuperar o fôlego, amenizar a dor. Ser a calmaria na tempestade dela.
           – Por que você me acha tão grosseiro, Letícia? Eu faço tudo o que posso por nós. Olhe só, quatro anos juntos do nosso jeito e estamos aqui, juntos do nosso jeito. E daí que os outros não entendem a nossa relação? E daí que todo mundo olha pra gente e pensa: Eles são malucos? Eu te pergunto, Lelê, e daí? Eu me preocupo com você.
           Ela, por sua vez, considerou melhor ignorar todas as meias verdades inteiras que ele também quis expor e continuou, como se só tivesse ouvido a primeira pergunta:
           – Pergunta errada, Frederico. Eu não te acho grosseiro, você É grosseiro. E não me venha com aquele papinho de que o que eu acho é diferente da realidade. Aliás, me faça um favor, não me venha com papinho algum. Chega de papinho, estou farta. Então eu respondo a pergunta correta: Por que eu odeio quando você é grosseiro? Isso é tão simples, eu me sinto como um bicho coagido que não pode fugir, porque quando você é grosseiro aquele amigo paciente, leal e atencioso que parece estar sempre ali, vai embora. E então, o que eu tenho em troca? O homem que mexe comigo das mais variadas formas, o canalha que me deixa sem reação alguma. Aquele mesmo que quando me vê a ponto de ter um ataque de nervos segura os meus pulsos, o que por sinal, eu também odeio. Mas, vale deixar claro, Fred, que não é só porque você aperta sem dó nem piedade e acaba me deixando dolorida e sim, porque inevitavelmente você me puxa para mais perto de você e caramba, eu sinto o calor do seu corpo, ouço a sua respiração com uma facilidade sem tamanho e inalo o cheiro do seu perfume que a essa altura já se misturou com o meu. Sem contar que assim você me impede de qualquer reação. Diga-me, você acha possível eu socar os seus ombros com os meus punhos fechados se eles estão seguros entre as suas mãos? Pense, querido, pense. Minha força nem se compara com a sua. Abaixe a taça de vinho, Fred, eu sei que foi eu quem escolhi, mas eu odeio quando você bebe! Eu odeio, porque você não colabora comigo. Eu trabalho o tempo todo para não pensar em você, para te esquecer e quando você bebe, em trinta minutos destrói tudo, a minha mente que estava começando acreditar que é melhor eu fingir que você nunca existiu e que está na hora de partir pra outra, chamar pelo próximo da fila que se quer saber, é bem bonitinho, você acaba com tudo. Vem dizendo coisas que eu não quero ouvir, na verdade, as coisas que não deveria ouvir para conseguir esquecer. As coisas mais lindas do mundo, quando você bebe fica transparente. Esquece a armadura de Chuck Bass e quem aparece é você, o cara que me roubou de mim. E quer sinal mais claro do quão frágil eu me torno perto de você como quando você roça a sua barba por fazer em mim e o meu corpo todo se arrepia como se implorasse mais e mais pelo seu toque? É por isso que eu te odeio, porque eu não consigo esconder o quanto você mexe comigo. Fica claro o quanto eu sou vulnerável perto de você.
           Se algo que o Frederico dissesse poderia ajudar Letícia em alguma coisa, ele não sabia o que era, por isso optou mais uma vez pelo silêncio. O que não a incomodou de forma alguma, quanto mais rápido ela pusesse tudo pra fora e pudesse ir embora, era melhor. Pelo menos, era o que ela estava pensando quando continuou:
           – Eu odeio o quanto você é grande e mais ainda, com todas as minhas forças a facilidade com a qual seu corpo envolve o meu e me faz sentir protegida de todas as coisas, de todos os males que existem no mundo. Coitadinha de mim, pobrezinha, você não acha Fred que eu deveria ser menos ingênua e saber que o maior mal do mundo pra mim é não estar nos seus braços? Eu odeio de verdade o quanto você sabe das coisas e me deixa pasma a cada argumento. Eu odeio o fato que você é a única pessoa que me vence em uma discussão, ainda que pelo cansaço. Você sabe disso, não sabe? Eu te odeio. Odeio cada palavra que você disse para mim desde que nos conhecemos e me odeio ainda mais pelo fato de não conseguir esquecer nenhuma delas. Por que, Senhor, por quê? Sem falar no quanto eu detesto sua necessidade quase infantil de me proteger como se eu fosse um tesouro, como se eu fosse quebrar. Odeio de tal forma que nem tenho palavras pra você. O que é que você tem na cabeça? Me proteger de quê? Pra quê?
           Por mais estranho que pudesse parecer, Frederico continuava comendo. Sabia que nada do que ele dissesse para fazê-la entender que não era preciso odiá-lo, ou qualquer palavra simples em sua defesa seria inútil, além de tudo, Letícia era cabeça dura, quando colocava algo ali, nada fazia desistir daquela idéia. Então, a postura dele foi simples: Olhava-a o tempo todo nos olhos e vezenquando acenava positivamente com a cabeça, entre uma garfada e outra para mostrar-se interessado. Nenhuma atitude além dessas lhe convinha.Uma hora, ela se sentiu pressionada e desabafou de forma mais clara e infinitamente sincera:
           – Eu não suporto enfrentar os seus olhos e ver neles o quanto é real tudo o que você diz e até o que você não diz, como por exemplo, agora: Você não diz nada, mas eu sei tudo o que você está pensando. O quanto você está planejando cada atitude sua para que eu não surte, não diga que você não está prestando atenção ou algo do tipo. Eu já disse que odeio entender o seu silêncio, a sua fuga? Pois é. E as suas piadas? Pode me dizer por que eu rio delas? Devo ser mais tosca do que você para rir de piadas tão toscas, patéticas, ridículas. Eu não sei nem porque eu rio delas, não sei nem porque eu rirei se você disser: “Vou te contar uma piada... Letícia!”, é tanto interesse em você que eu odeio isso. Sim, sim, quando você fala italiano eu também odeio, assim como quando fala alemão ou latim, eu odeio quando você acha um meio novo e inusitado de prender minha atenção. Toda minha dedicação a você ainda não é o suficiente? Eu odeio isso. Eu odeio não parecer o suficiente e tenho tanto medo.
           E tinha tanto medo. Tinha medo de não ser compreendida, medo de ser colocada de lado como um troféu que já foi conquistado e não tinha mais valor. Porque sim, Frederico já tinha conquistado-a desde o primeiro instante, o primeiro sorriso, o primeiro cuidado. E era isso que ela odiava, a essência do relacionamento deles: a facilidade com a qual ele lidava com tudo o que para ela era tão complicado. Ele simplificava até a matemática, coisa que ela não entendia e não suportava. Por que para ele era tão fácil? Por que só ele conseguia? Era tudo o que ela queria, uma resposta: uma exclamação onde para ela era apenas uma interrogação cheia de ênfase. E por isso, ela prosseguiu. Estava decidido, iria até o fim:
           – Odeio-te inteiro e conheço cada detalhe, de cor e salteado, de frente pra trás e de trás para frente, de cima abaixo e de baixo até em cima. Se você quer saber, acho que posso te desenhar com requinte de detalhes, com os olhos fechados, quer fazer o teste? Pegue a venda e um pedaço de papel. Eu faço, anda, vamos!
           Ele riu não sabia se de nervoso ou por ter certeza que aquela maluca tinha sido feita para ele, era a forma perfeita. Então ele esticou a mão ao encontro da mão dela e desta vez, ela não recuou, ele continuou brincando com os dedos sobre o dorso da mão delicada e macia dela. E quando viu a insistência dela para que ele arrumasse caneta e papel para ela brincar de caricaturista, respondeu:
           – Não, meu amor. Não precisa. Eu acredito em você.
           – Odeio todas as suas vísceras, todos os seus vícios e tudo que há em você. Odeio, odeio, odeio, odeio-te, meu amor. Odeio também o seu nome e aquela música que tem o seu nome no plural, um só já não é o suficiente, meu Deus? Não sai da minha cabeça, da minha playlist, da minha vida e parece que foi você que escreveu pra nós, felicidade é ter a minha mão na sua? Ah, me poupe, odeio ela também, odeio muito. Odeio a forma como o seu maxilar se movimenta quando você mastiga e odeio seus olhos quando me mastigam e me devoram também, como agora. E quando você levanta o copo sem desviar seus olhos de mim? Veja bem, meu amor, se eu mereço! Eu odeio.
           – Você merece. – Disse ele com um sorriso um pouco discreto e as palavras pareciam brincar entre seus lábios que a convidavam a todo o momento, embora ela também teimosa, reclinasse.
           – É eu mereço. Já garanti a minha, a sua, a nossa passagem pro inferno de primeira classe, com direito a champagne francês e conversinha com o piloto na cabine. E tudo é culpa minha, ou sua. Na verdade, qual é mesmo a diferença? Não somos a mesma coisa? Metade é metade, não importa qual delas. Se você, ou eu. De qualquer forma, eu odeio, detesto, não suporto. Que merda! Quem você acha que é, hã? Diga-me, por favor, porque eu não consigo entender. O que foi que você fez comigo? Quanto você pagou pela metade da minha alma? Eu pago o dobro pra você me devolver, eu pago. Caramba, porque eu sou tão sua? Eu não fiz essa escolha, eu não quis me entregar de bandeja assim pra você e acabou acontecendo.
           – Pra quê o pânico, amor? A maioria das pessoas do mundo passa a vida inteira procurando a tal metade da laranja, a alma gêmea ou essa pessoa que você é a na minha vida e eu sou na sua e você está nessa paranóia? Eu não acho que sou ninguém, ninguém além da sua outra metade e eu também não escolhi fazer isso, não paguei por nada e também me senti acuado quando me vi diante dessa situação: Mas, escuta Letícia, o que é que eu vou fazer? Por que é que eu vou reclamar se estar com você é a melhor coisa do mundo pra mim? Se nenhuma pessoa do mundo me faz tão bem quando você com um simples sorriso, eu te amo ou até com essa paranóia toda? Se fosse qualquer outra pessoa apontando tudo isso em mim como defeitos eu já teria levantado e ido embora nos primeiros cinco minutos. Agora não, eu estou aqui com você.
           – Esse é o problema Fred, é exatamente esse. Você está aqui agora. E daqui a pouco? Eu fico sem saber como agir e se quer saber, nem sei se devo agir de alguma forma. Daqui a pouco você vai embora e eu continuo aqui, sendo apenas metade. Isso é muito ruim. Se fosse qualquer pessoa eu poderia continuar sendo a Letícia autoritária, mandona, chata, ordinária, fresca, mimada e todos os outros adjetivos subseqüentes, no entanto, quando é você é diferente. Eu sou só metade. As outras pessoas fazem parte da minha vida? Sim. Devo muito à elas? Exato. Mas, é só você que faz parte de mim. E é por isso que eu odeio tudo isso, não dá pra você, por obséquio, decidir onde quer ficar? Agora quem te pergunta sou eu: Onde está o sentido de tudo isso? Porque você faz tudo isso pra depois ir embora? Você acha justo? É por isso que eu te pergunto: Quem você acha que é? Quem te garantiu todos esses direitos e onde foi que eu assinei? Por favor, me mostre ou apenas me diga quais são as vantagens. Se você quer ir embora, não sou eu que vou te segurar, não serei eu a pessoa que vai chorar e espernear até você ficar com pena e decidir ficar de vez, pra no primeiro problema você olhar pra minha cara e falar: “Se eu estou aqui foi porque você pediu”. Não vou te obrigar a ficar pra você se achar no direito de fazer o que bem entender. Não vou, essa não sou eu. Essa não é a sua metade. Sabe o que eu fico pensando? Você sabe? Não, você não sabe.
           – Então, por favor, simplifique as coisas e me conte.
           – De que adianta eu dedicar uma atenção minuciosa as suas palavras e permitir que minha respiração compactue com o seu silêncio se daqui a pouco você fecha a porta atrás do seu corpo e me deixa aqui, sozinha? Será que eu decoro seus trejeitos todos para conseguir respirar quando você me abandona? Por que você faz isso? Anda, fale agora senhor de todas as respostas, vamos! Está aí, mais uma de suas pausas que eu entendo, você não tem argumentos agora. Sua respiração está assim tão pesada porque você está nervoso, meu amor? Não fique assim, apenas me diga por quê. É só isso que eu estou te pedindo, é tão difícil? E depois que você fecha a porta, você me olha da cabeça aos pés através do vidro? Você é detestável e ainda assim eu consigo te amar. Sou pior que você?
           – Uma de cada vez. Você sabe de todos os motivos pelos quais eu vou embora, assim como para você, para mim não é fácil ver isso que eu não entendo acontecendo com a gente. Mas, você sabe que nem por um segundo eu deixo de pensar em você, de me preocupar com você. É claro que é difícil, Letícia, tanto pra você quanto pra mim e para qualquer outra pessoa, se passasse com isso também chegaria bem perto da loucura. Você não é pior, você é única.
           – Fred, não adianta você se preocupar comigo. Saber que você pensa em mim não diminui em hipótese alguma a minha saudade. É difícil? É. Minha sanidade está sempre por um fio, mas você não acha que seria muito mais fácil pra nós dois enfrentar tudo juntos? Agora se eu não tenho você aqui nem para ser grosso comigo, é a pior coisa do mundo, sabe? É pior que todos esses questionamentos. É pior do que aguentar o seu mau-humor. Lidar com a saudade é terrível, me pergunto o tempo todo onde está você. Torço pra você chegar e me dizer qualquer coisa, até sei lá: Você é idiota. É melhor ouvir isso do que a aturar a presença tão solitária da sua ausência que é minha companheira na maior parte do tempo. Você quer uma dica? Quando não souber o que fazer segure meus pulsos e vamos brincar de quem pode gritar mais alto, quem tem forças pra criar uma ferida mais profunda, qualquer coisa, menos isso. Venha, macho fecundador, quando você quiser um tempo pra ficar longe de mim, se aproxime de mim e eu te dou motivos para isso. Você não quer me impedir de espernear e de deixar claro o quão infantil, mimada e ridícula eu posso ser? Deixe-me te bater, descontar todo o meu ódio de você em você. Não vai doer você sabe... não porque eu sou pequena, não porque eu sou frágil, não por isso, mas você nunca ouviu falar? Tapa de amor não dói, deixa eu te espancar com as minhas verdades.
           Ela respirou fundo e tomou fôlego antes de continuar com as palavras que doíam mais nela do que em qualquer outra pessoa e isso o incluía:
           – Você é ridículo, me roubou de mim e faz o que quiser, estou aqui para me pedir de volta! Eu preciso de mim. Fez a barba por que, mocinho, não quer encostar-se em mim? Não quer? Tudo bem, fique longe, mas me devolve. Eu fecharei os olhos enquanto você estiver por perto, pra que você não perceba, quem sabe dessa vez eu consiga fingir. Fingir o quê? Bem, qualquer coisa já é um bom começo. Não dar tanto na cara que eu gosto mesmo de você bem do jeito que você é, seria ótimo.
           – As coisas não são exatamente assim e você sabe. Mas, nada do que eu diga será suficiente para te convencer, né? Você é cabeça dura, Letícia. Você é. Coloca a ideia na cabeça e nunca desiste dela. É demais pra mim.
           – Tem coisas que eu me pergunto o tempo todo. Uma delas é: Será que é bom ser cabeça dura assim? Porque se eu não fosse, certamente teria jogado tudo pro alto. E tem mais, de que adianta você ser tão grande se essa distância que você impõe é maior ainda? Você fala de mim, mas é pior. Quando você decide que a melhor opção é ficar longe, parece que acredita que não é só a melhor opção, como a única saída. Você tranca a porta e eu fico de mãos atadas. Por que você me abraça, se depois você vai embora? Por que é sempre a mesma história? Por que, Deus, por que eu não posso fazer diferente só dessa vez? Venha agora, exponha os seus argumentos e me faça calar a boca, me dar por vencida, mas é pra já. Amanhã não interessa. Quem garante que eu vou estar aqui em cinco minutos? Posso muito bem pegar minha bolsa, entrar num táxi e sumir da sua vida. Você disse todas aquelas palavras para ficar tanto tempo em silêncio, agora? E você tem essa maldita necessidade de me proteger do mundo pra depois fazer com que eu me sinta uma menor abandonada? Onde está o sentido? Você não sente mais nada? Feche os olhos, não deixe que eu te leia agora ou você vai cair no vão do seu papel de vilão. Ok, pode chegar, eu não vou fazer você se sentir um babaca rindo de qualquer coisa que você disser, mas diga. Faça-me sentir o bastante pra você. É só isso que eu quero.
           – Você é o bastante e se você não se sente assim, eu não sei o que fazer. Você pode me ler, eu não preciso te esconder mais nada. Tudo o que eu sei está nos meus olhos, na minha testa e o meu corpo todo explica como eu me sinto ao seu lado, Letícia. São sinais pequenos, mas se você unir um a um você vai ver que você é a pessoa mais importante da minha vida e com uma diferença absurda da pessoa que se encontra em segundo lugar.
           – Você também é assim. Na minha vida é: Você, você, você, eu e depois um alguém que me faz sorrir, que me escuta. Não importa quem, qualquer um pode chegar e tomar esse posto à qualquer momento. Mas o seu lugar não. E por isso o ódio que eu sinto por você não se compara a nada, a nenhuma outra coisa do planeta que eu deteste, até no ódio você é superior. Odeio, continuo odiando o quanto eu presto atenção em cada detalhe, por menor ou singelo que seja ele. Tudo bem, se você quiser, eu jogo fora todos os meus rascunhos de você, eu aceito o agora sem pretensões futuras, o final feliz eu deixo pro final. Mas que inferno, homem, venha. Se for preciso eu ignoro a música na playlist cada vez que ela começar a tocar ou então eu canto, eu grito pros vizinhos ouvirem. É só você me dizer o que quer e decidir ficar para sempre. Quero assistir o movimento do seu maxilar quando seus lábios contarem do que está cheio o seu coração. Eu quero, por favor. Volte, se for para sempre ou fique longe de mim, mas só se for a sua vontade. Eu só não quero o meio termo: Adeus ou até daqui a pouco, afinal, eu odeio-te, meu amor.

10 de outubro de 2010

Ao Pequeno Príncipe


           Devo me apresentar por educação ou formalidade? Sou apenas uma garota que pode ser confundida com outras cem milhões de garotas, porque ainda não te cativei. Escrevo do planeta Terra, este que você conhece tão bem e o faço porque assim como você um dia teve, eu tenho agora a necessidade de um amigo. E depois de ter lido suas histórias narradas através do olhar encantador e emocionante do seu amigo Aviador, penso que não pode haver no mundo ou em outro asteróide que não o B612, alguém capaz de ocupar este posto – de amigo – tão bem quanto você, pequenino. Atualmente aqui na Terra quase todas as pessoas agem como se fossem pessoas grandes, até as crianças e é complicado possuir um amigo quando quem está à sua volta não entende a necessidade disso. Você sabe, meu principezinho, não existem lojas de amigos e pelo que vejo, as pessoas grandes não se importam com isso, com a falta que um amigo faz; elas preocupam-se com a seus empregos e com a falta que fará o bônus no final do mês, se preocupam em quanto custa aquela roupa de marca que está na moda, mas nunca em como surpreender um amigo e ganhar um sorriso seu. Elas simplesmente não se importam.
            Não peço que me cative, pois mesmo sem me conhecer, já cativou e como sei que a autoridade repousa sobre a razão eu ordeno que me deixe cativar você, mas só se quiser. Lembro-me de você a cada vez que vejo os campos de trigo, eles me remetem aos seus cachos louros, você pode se lembrar de mim ao ver o céu escurecer, afinal, meus cabelos são tão negros quanto à noite. E sempre durante ela, estou a olhar o céu, assim como o aviador, procurando seu riso nas estrelas.
            Como vai a sua tão linda e orgulhosa Rosa? Mande lembranças minhas para ela, aposto que eu ego inflar-se-á ainda mais. Pode me contar sobre a emoção de reencontrá-la? Especulo, pois estou certa de que o carneiro não comeu a flor. Penso com um pouco de dor no coração em como foi difícil para ela ficar um ano longe de seu melhor amigo, entretanto, eu gostaria muito de vê-lo mais uma vez em meu planeta casa. Creio que o Aviador e a Raposa haveriam de experimentar uma alegria infinita. Sei da sua preocupação com os Baobás e entendo suas razões, no entanto, preciso dizer-lhe que aqui no meu planeta a única coisa que me amedronta são as pessoas grandes. Como você deve se lembrar, elas são bem menores do que os baobás, mas oferecem tanto risco quanto eles.
            Assim como você, penso ser uma bobagem essa preocupação com os números, pois quantidade sem conquista não vale nada. É quase como ver um jardim cheio de rosas; são belas, contudo, vazias. Não foram cativadas, ninguém parou para sentir seu cheiro e como você sabe muito bem, não se pode morrer por elas. De que vale uma casa de R$ 200.000,00 sem um amigo para fazer companhia? E se eu sei de tudo isso, devo à você, meu principezinho.
            Você repetiu tanto a fim de não se esquecer, será que ainda se lembra do que lhe disse a Raposa? “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Você é responsável por mim, pequenino. Cativou-me e eu quero lhe cativar, para que me conheça. Você não pode ter esquecido, só se conhece bem as coisas que cativou. Mas, caso não queira ser cativado por mim, para não correr o risco de chorar, eu estarei indo ver o pôr do sol por 43 dias seguidos, já que no meu planeta, só se pode ver o sol se pôr, uma vez ao dia. Lembro de você dizendo que quando a gente fica triste, gosta de ver o pôr do sol, aquela mistura fantástica de cores deve servir de alguma coisa. Por que não, talvez, como uma injeção de alegria?
            Mas, eu espero uma resposta sua e desde já o meu coração se alegra com essa possibilidade, espera e se prepara para a sua chegada. Porque eu não sou como um cogumelo.
            Com amor,
Joyci Letícia Dias.

3 de outubro de 2010

(C)alMinha.

Para ser lido ao som de Alma

Ela: - Me dá.
Ele: - O quê, menina?
Ela: - A tua alma, o que mais poderia?
Ele: - Qualquer coisa, é. Você merece qualquer coisa.
Ela: - Então me dá...
Ele: - Não posso.
Ela:- Como não pode?
Ele: - É o que eu sou.
Ela: - Uma vez eu li sobre isso...
Ele: - Leu sobre o quê, menina?
Ela: - Isso, sobre almas.
Ele: - Me conta.
Ela: - Você vai rir...
Ele: - Não vou. Me conta.
Ela: - Você promete?
Ele: - Sim, menina.
Ela: - Li que na verdade nós não temos uma alma, temos um corpo. E que somos uma alma.
Ele: - Gêmea –, sussurrando.
Ela: - O quê?
Ele: - Nada.
Ela: - Só você, menino.
Ele: - Mas, menina, como você se sente em relação a isso?
Ela: - Isso o quê?
Ele: - Dividir.
Ela: - Não entendi.
Ele: - É que, menina... Não te disseram, mas na verdade você tem só metade de uma alma.

Silêncio. 
Mais silêncio. 

Ele: - E ela é minha.

8 de setembro de 2010

Preciosa.

Você inspira poesia

Na hora do almoço, de noite ou de dia
(Saudade - Pimentas do Reino)

É exatamente assim, você inspira poesia. Você com esses olhos pequenininhos tem o poder de me fazer enxergar dentro de mim. Você. Ainda tão pura, ainda tão inocente, ainda tão anjo, ainda tão doce, ainda tão minha. Ainda. Mas, meu pequeno beija-flor, eu sei que o mundo lá fora espera por você. Vai pra lá, volta pra cá, vai na esquina, vem brincar, vai comer, vai nanar. Vai. Daqui a pouco você cresce e eu nem vi, o tempo voa e eu ainda aqui. O tempo vai passar, vai voar e eu continuarei aqui, ou ali, onde estiver lembrarei de você. Voar. Você aprenderá a sonhar, sonhar com coisas possíveis, sonhar com o que nós - que crescemos e conhecemos a ilusão - chamamos de impossível, aprenderá a sonhar alto. Alto

Você ainda vai voar alto.

Eu estarei indo embora em pouco tempo, devo adiantar o motivo pelo qual eu escrevo agora? Sentirei sua falta. Falta de você. Você. Não verei você crescer, você vai crescer, crescerá e muito nesse meio tempo que fica no seu início. Crescerá. Tão pequenina, agora. E eu não posso fazer nada em relação à isso, e eu não posso te impedir. E. E com isso, perderá seus medos... o medo do escuro, o medo da tia que parece má, o medo de ficar sozinha, você vai perder todos eles. Perderá. Eu diria que isso é bom, muito bom. Mas, por favor, meu pequeno talismã, não perca a fé. Não, não perca não. Fé é acreditar e você precisará disso para sobreviver, fé é o que você precisa pra continuar. Você conhecerá algumas pessoas, alguns amigos, alguns lugares, algumas músicas, alguns motivos. Algumas. Conhecerá também algo que nós conhecemos muito bem, ilusões. Ilusões de que o mundo não é cor de rosa, é da cor que você pinta (o bom é que, menininha, você pode pintar com uma cor a cada dia). Ilusões de que nem sempre é amigo quem se diz ser. Ilusões infinitas. Ilusões. E depois, um pouco antes, ou um pouco depois, começará sua fase de contestações, mas eu não quero, mas eu não gosto, mas eu não vou, mas é assim, mas não é mais, mas, mas, mas... Mas. Mas, isso passa. Tudo passa. Tudo passará tão rápido, você mal pode imaginar. Quando menos pensar, já passou. Passará. Vai conhecer uma palavrinha que fará você fazer milagres: Por.Por quê, por onde, por quem, por enquanto. E verá que tudo, tudo, tudo, tudo na vida tem um motivo, que nada acontece em vão. Tudo. E o motivo pode ser comer uma pizza de madrugada com seus amigos não porque você está com fome, mas porque a borda daquela pizzaria é a melhor que você conhece. Ou ver o filme com o namorado com o pretexto de ficar abraçada. Com. E quando você tiver um namorado, tudo vai ficar mais engraçado: você não vai querer uma roupa, você vai querer a roupa. Você não vai querer uma festa, vai querer a festa. E eu tenho certeza, você será A namorada. A. Certamente ele vai fazer a sua cabeça, ele estará na sua cabeça durante a maior parte do tempo e quando quiser terminar com ele por algo errado que ele tenha feito, desejá cortar a cabeça dele fora ou a sua. Cabeça. Pretinha, as coisas são tão simples. Faz sentido pra você? Pode acabar com você por um dia, dois, três, um mês... não pela vida inteira. Terão problemas muito maiores e sua cabeça estará erguida, sempre. Eu tenho certeza. Não se esqueça: Erguida. Erguida.


Você crescerá e perderá algumas ilusões. Mas, passará por tudo com a cabeça erguida.




21 de agosto de 2010

With you. ♥

“I need to grow older with (a man like) you”

         Não, um homem “como você” não seria o suficiente. Um homem que torce pro mesmo time que você, mora no mesmo bairro que você, tem os mesmos sonhos, as mesmas manias e até o mesmo sotaque, os mesmos vícios orais e qualquer outra coincidência que você, ele, eu ou qualquer outra pessoa que te conheça assim tão bem quanto nós, aponte não será suficiente, porque serão coincidências, não sendo você, não basta. Portanto, corrijo: “I need to grow older with you”.
         Porque é de você – e não de alguém como você - que eu tenho vontade de saber tudo. É para você – e não para alguém que tenha o mesmo sotaque que você - que eu tenho vontade de ligar durante as madrugadas só pra dizer ou ouvir-lhe dizer: “Preciso de você, te amo”. Porque é o seu cheiro – e não um cheiro parecido com o seu - que eu desejo que fique impregnado em minha pele. Porque é a sua voz – e não uma voz que se parece com a sua - que me sacode a alma e me leva pra dentro de mim. Porque são os seus sonhos – e não sonhos parecidos com os seus - que eu sonho também. Porque é você – e não alguém como você - que eu vejo no altar de madeira em frente ao mar, vestido todo esportivo me esperando e sorrindo ao ter me visto com um vestido branco e curto, flores na cabeça e os pés descalços, para o sim, para a vida. É você – e jamais alguém que se pareça com você – que eu desejo que me espere a vida toda, que eu desejo que cinco minutos longe pareça a vida toda. É por você - e em hipótese alguma, por alguém como você – que eu estou disposta a esperar as viagens a trabalho com o seu prato favorito para o jantar. É com a sua caligrafia – e nunca com a caligrafia que se parece com a sua – que eu desejo tatuar o nome do nosso filho – e não do filho de alguém que não é você – na minha pele. Eu desejo acordar todos os dias da minha vida com você – e não com aquele que dizem que lembra você. Porque foi e é por você – e nunca, por um outro alguém – que eu esperei tanto tempo. É a sua voz – e não uma que se parece com a sua – que arrepia a minha pele. Porque o meu jeito menina que quer (e sabe ser) mulher encantou você - e não à alguém que tem os mesmos gostos que você. Foi por você que eu me converti ao Tricolor e não por nenhum outro tricolor do mundo. Porque eu sinto falta de você e não de alguém que por algum motivo qualquer e que não nos diz respeito, age como você. Porque foi você – e nunca alguém (que nem precisava ser) como você – que me fez acreditar e proclamar à quem estivesse ouvindo que almas gêmeas de fato existem. Por que envelhecer parece mais fácil e gostoso com você e não com alguém como você. Porque é você – e não alguém que pensa como você – que coloca as verdades em meu caminho. É você – e não alguém que age como você – que me faz perder todos os medos. Porque é para você – e nunca foi para alguém como você – que eu reservei meu tempo. Porque o meu caminho é você e não alguém como você. E eu prefiro estar com você, a estar com alguém como você.
Até porque – definitivamente -, alguém como você não existe.



É pra você e você sabe disso, meu anjo do amor.

12 de agosto de 2010

O dia seguinte.

O telefone toca, ela demora para atender e quando olha para a bina, sente o coração palpitar, era ele. E eles não se falavam há tempo, o que para ela era um crime. Ela atende, com a voz de sono, mas tudo dentro de si parecia bem atento:

— Alô?! É você mesmo?!

— Não, cabrita… quem mais poderia ser?

— Não sei, a gente não se fala há tanto tempo, talvez alguém ligando pra dizer que você saiu do coma.

— Eu nunca estive em coma!

— Não é o que parece. Mas, diz o que você quer? Me acordou…

— Dizer bom dia?

— Não, você não é do tipo Gentleman.

— Eu sou de que tipo?

— Do tipo que não liga no dia seguinte. Do tipo que não manda flores. Do tipo que acha que não sabe amar. Do tipo que bebe aos fins de semana e não quer ir a casa da sogra aos domingos. Do tipo que facilmente me deixaria pra ver futebol…

— Letícia, por que está dizendo isso?

— Porque é verdade. Você sabe disso.

Os dois respiram fundo e ela fica sem saber o que dizer, pensa por alguns segundos e resolve começar:

— Mas, bom dia. O que é que você quer?

— Nada.

— Só “nada” mesmo pra fazer com que você me ligue, Frederico.

— Você está na TPM?! Só pode…

— Só porque resolvi ser sincera? Não seja cínico!

— Eu não sou cínico!

— Você é… e está sendo agora.

— Lelê, não fala assim…

— Eu falo.

— Eu nunca menti pra você.

— Porque eu faço poucas perguntas.

— Quer desligar?

— Se eu quisesse, pode apostar que já o teria feito.

— Então o que é que você quer?

— Usar seu sobrenome.

— Depois de tudo isso? Eu sou cínico, mas você é maluca!

— Eu sou, é. É isso, devo ser… MA-LU-CA! Obrigada por me lembrar. Ninguém em sã consciência amaria você.

— Disponha, bebê.

— Não me chama assim… você sabe como isso sempre acaba.

— Não, acho que tem algo que você não sabe.

— O que é, Fred?

— Isso nunca acabou.

Ela se cala. Ele continua.

— Nunca vai acabar.

Ela repete quase muda, sem forças:

— Nunca vai acabar?

— Nunca.

— O que é que a gente está fazendo aqui, então?

— O que a gente sabe.

— O que é que a gente sabe?

— Se amar, brigando.

— É.

— É o quê, Letícia?

— Você é um canalha.

— Ahn?

— Um canalha. É o que você é.

— Um canalha?!

— Sim, você sabe. Você é sujo. Você sabe exatamente como me manipular, me faz fazer as coisas da forma como você quer e isso sem usar muitas palavras. Você sabe quando pode falar grosso comigo e quando deve usar o tom manso. Você sabe todas as cartas do meu jogo, você as marcou. Eu fico sem o que fazer e é assim sempre. Você é tudo isso que eu disse. Um canalha, cínico, podre… mas sabe amar.

— E te amo, maluca.

— Eu sei. Ou não sei, mas isso não me importa.

— O que importa então, Letícia?

— O que importa é que eu te amo. Porque você é humano.



_

Letícia ataca mais uma vez, né? Lembro que quando eu postei um texto "dela" pela primeira vez a Nanda me disse que ela deveria voltar mais vezes, demorou algum tempo - eu diria até que -, muito tempo. Mas, ela está de volta. Talvez seja só mais uma dessas mulheres que amam um homem de verdade, sem muitas idealizações e aceita (do seu jeito) o jeito dele. Ou apenas eu mesma, a (Joyci) Letícia Dias. haha.

Vou responder os comentários dos dois últimos posts, obrigada aos que nunca abandonam o Pequena, é por vocês que eu apareço, ainda que de vez em nunca e não tranco os comentários. Vocês são o apoio, sempre.

Um beijo enorme aos que me lêem,

Pequena.

8 de agosto de 2010

Uma carta que você não recebeu. (Dia dos Pais)

            Minha mãe sempre foi tudo o que eu precisei, sempre me educou e fez de mim uma criança feliz. Nunca me faltou nada, nada além de um pai. Quero dizer, até os 7 anos eu tive um pai. Os meus 7 anos funcionaram como um divisor de águas, talvez não o único, mas certamente o primeiro. Aos 7 anos conheci você e perdi meu pai, tudo bem que você deve estar se perguntando: “O que é que você está querendo dizer?”. Mas, no fundo, ainda que bem no fundo, quase com a profundidade da mágoa que eu carrego de você – você sabe o que eu quero dizer. O meu pai, não, não é você, embora o exame (desnecessário) de DNA prove que o sangue que corre nessas tuas veias imundas é o mesmo que corre pulsante aqui também, talvez por ódio, talvez porque seja minha única opção. O que eu quero dizer é que até meus 7 anos de idade a pessoa que representou o papel de pai no filme da minha vida (merecendo, inclusive, o Oscar) foi meu avô, sim, o senhor Antônio Pereira Dias, o maior amor que eu tive, o maior amor do mundo. Mas, será que você sabe o que é amor? É vida, exatamente aquilo que você tentou roubar de mim, mas que a Mulher Da Minha Vida (sim, assim com letras maiúsculas) me deu direito e mais de uma vez. Só que é óbvio que você não sabe das outras vezes, afinal, você deu o fora na primeira.
            Aos 7 anos eu conheci você, na porta de um bar, você me chamando – penso hoje, que possivelmente de forma irônica – de “filhinha”, eu me lembro embora o melhor fosse esquecer. E no dia 7 de Abril deste ano (2010) você me viu de novo e nem para dizer “Bom dia, idiota” você se prestou. Não pense que me fez falta. Não, não fez. Porque você não sabe, mas eu tenho pessoas incríveis na minha vida. Pessoas, que ao contrário de você dariam a vida por mim. E deixando a modéstia de lado (talvez, esse seja o único ponto que nós temos em comum, a falta de modéstia), eu também sou uma pessoa incrível, especial e muito amada, tenho caráter (de você não posso dizer o mesmo), inteligente, teimosa e justa, muito justa. E de você, tenho pena. Porque carinho, amor, afeto, atenção e outras coisas que os bons pais dão as suas filhas, eu não preciso. O espaço que havia dentro de mim e há em toda filha que se preze, foi ocupado por outras coisas, por pessoas e sentimentos bons.
            Para mim, você não é nada senão um cogumelo. Um pobre coitado que perdeu a grande chance da sua vida de ser amado, de poder correr para o meu abraço quando precisasse ou ser o primeiro a saber: “Vou me casar”, “Estou grávida”, “Fui promovida”, “Darei a volta ao mundo”. Você não é para mim, nada além de um estranho, que só leva o título de pai (biológico) porque há um documento que diz o mesmo. Aliás, eu deveria dizer que para mim, você é muito pior do que um estranho, pois nada tenho contra os estranhos e tudo tenho contra você. E, mais... Todos os estranhos (exceto você, claro) do mundo têm a chance de que um dia eu goste deles, de que um dia eles venham a me cativar. Portanto, recolha-se em sua insignificância, porque eu sei que a culpa não é de ninguém além de sua. E você não merece nada além do meu desprezo. 

8 de julho de 2010

Irmãe.

Você se lembra qual a primeira palavra que eu disse? Foi um chamado por você, eu obviamente não me lembro, entretanto suponho de que eu estava precisando da sua presença. Eu era ainda mais indefesa do que sou agora, eu era ainda menor, eu não sabia falar coisas que fizessem sentido e a única forma que eu tinha para me expressar era o choro. Palavra saiu de minha boca e era por você que eu chamava - Dei. E até hoje é assim, quase sempre. Você sempre pode ser o meu socorro, o meu alívio, o meu consolo e você sempre foi mais do que isso. Sempre quis ser bonita como você quando crescesse, inteligente como você, saudável como você, doce como você, compreensível como você e mulher como você. E - na maioria das vezes - eu só consigo ser o seu oposto, nem tão bonita, possivelmente não tão inteligente, saudável sim, periodicamente ácida e nada compreensiva, mulher? Sim, nasci assim. Às vezes acho que tenho a força que você não tem, outras vezes me dou conta de que não é bem assim. Mas, existe uma coisa da qual eu não tenho nenhuma dúvida e isso chama orgulho, eu tenho orgulho de ter você como minha irmã, de ouvir os seus conselhos ou de rir quando sua filha vem perguntar pra mim se "aquele é seu namorado" porque você quer saber. É bem verdade que você não sabe muito do que acontece comigo, porque não convivemos diariamente. No entanto, o que podem dizer quando estamos nós três sobre os cobertores nas férias de julho com preguiça de levantar pra fazer brigadeiro? Somos cúmplices inclusive na preguiça e convenhamos, não é pouca. Sempre tive uma relação muito saudável com você e nem sei se isso pode ser chamado de irmandade, porque irmãos brigam e isso nunca aconteceu com a gente. Sou ciente de que você é a minha maior ponte com o meu passado, você lembra de todas as minhas histórias da infância e me faz rir até as bochechas corarem das coisas que eu dizia, você é como uma segunda mãe pra mim e sabe disso. Imagino que seja complicado ser a "irmã" mais velha de uma filha "única", mas você cumpre o seu papel muito bem. Tenho guardado o bilhete que você enviou para minha mãe quando eu nasci e você estava de "castigo" com a perna engessada. Você nunca foi fácil, você nunca baixou a guarda, você nunca deixou que fizessem de você algo que não fosse compatível com os seus princípios e isso eu também não, e nisso somos iguais. Você sempre foi a irmã que eu não teria, caso você não ocupasse esse papel e você sabe que mesmo com os meus irmãos que tem o mesmo DNA que o meu, eu nunca terei essa relação e embora você não tenha dito nunca, eu sei que você também não tem essa relação com os seus irmãos, porque isso é nosso e ninguém poderá roubar. Obrigada por ser minha (irmã)! Obrigada por ser você! 

Com amor, 
Jojó.




14 de junho de 2010

Criador.




Cria e atura. 

O que dizer se as palavras não são mais suficientes para alcançar o seu sorriso? Eu espero que estejas bem... porque eu estou aqui com algo que eu criei - a dor. Faz falta o seu sorriso, faz falta a sua atenção, fazem faltas as suas palavras,  a demora do seu silêncio torna ainda maior esse monstro que eu mesma fiz. Sorria, não para mim, não importa (a quem), sorria é o seu dia. O meu abraço não vai confortar, as minhas palavras só tendem a se calar e você cada vez mais distante, diante de mim e assim, ausente. 
Ocupo-me das suas preocupações e preocupam-me essas ocupações que não acabam. Ocupa-se de desculpas e preocupa-me: "De quem é a culpa?". Não é culpa, foi o fim. Escorreu-me pelos dedos como água, o que eu pensava ser sólido, fez-se gelo. Qual é o preço para derreter seu coração? Eu pago. Se você quiser - O dobro. Aposto e gosto de persistir no jogo que não é novo e quem inventou fomos nós, somos nós? Não, está desfeito. Eu seguro a corda de um lado e você do outro, aumentando assim o espaço que não é mais do abraço e acaba aqui. 
Pensava eu que você era o criador e eu a criatura. Você criou a dor e eu aqui, aturo. Preciso de verdade, preciso de explicação, aceito o não se vier com motivos. Fica mais fácil de digerir, como se colocasse azeite na pedra, é só mais uma desculpa para me convencer. 
Estarei sempre aqui, se quiser voltar. Não precisa querer me consolar. Hoje é seu dia, vá festejar. 

2 de junho de 2010

O amor que há em mim. (♥)


    O canto dos meus lábios atormentados por um sorriso que quer sair, minha boca chama seu nome. E você? Onde está, eu não sei. Os olhos fecham-se desnecessariamente e meu pensamento é tomado mais e outra vez pela sua imagem. Lindo. De repente me chama e eu posso ouvir de verdade, vejo seus lábios desenhando delicada e deliciosamente as duas sílabas domeu nome, chama com força, talvez desejo ardente; eu posso ver e sentir,qualquer um perceberia. Por uma fração de segundo me pego pensando em Newton e o que ele disse acerca de dois corpos não ocuparem o mesmoespaço, tudo bem discuto isso num outro momento, mas intriga-me saber o que ele diria se fosse questionado sobre “um corpo ocupar dois ou mais espaços (distintos) ao mesmo tempo”. Porque você está sempre presente no meu coração, nos meus pensamentos quando não nos meus sonhos e presente no seu corpo. Você ocupa minha vida e a sua. Newton, com toda sua sabedoria jogaria a bomba para Freud e se você quer realmente saber, nem Freud explica o quanto eu te amo e exatamente o que você significa para mim, porque para explicar é preciso delimitar e não, não tem fronteiras.
            Tudo o que eu poderia lhe dizer disso são todas as coisas que eu já disse nas centenas de coisas que escrevi para você. Volto a você, o ponto deequilíbrio de tudo o que acontece comigo. Se triste ou feliz, existe uma parcela de responsabilidade sua e senão existe, um gesto seu seria capaz de virar o jogo. Digo isso, não querendo fazer com que toda essa responsabilidade pese sobre seus ombros. Mas, é assim que tudo acontece de fato. Posso estar chateada ou irritada com um fato corriqueiro ou incômodo de minha vida e você vier, me der um sorriso – só isso basta, não precisafalar mais nada, já que meus olhos entendem seu silêncio – eu fico feliz, por saber que não estou sozinha. E caso eu me encontre feliz com qualquer coisa e acabar discutindo por uma bobagem qualquer, toda a alegria anterior seráem vão, porque sem você absolutamente nada vale a pena. Portanto, na sua ausência eu posso ser feliz, até posso. Mas, a alegria só será plena se vocêestiver comigo. É exatamente por isso que eu digo que você é meu ponto de equilíbrio. E eu sei que posso ser o seu também, sorrio se quiser ver-lhe sorrir. O melhor de tudo, sabe o que é? É saber que eu posso segurar a sua mão na beira do abismo e ver que nós (com toda a intensidade que essa palavra possui, os nós de nós) somos mais fortes que tudo isso, sentir que você está comigo para o que der e vier. É poder sonhar com você e ainda lhe possuir como minha doce realidade.
            Pode parecer mais um clichê; mais um texto bobo de uma adolescente apaixonada. Mas, paixão acaba. Paixão tem (quer queira, quer não) um prazode validade. E não é paixão. É amor, o maior amor do mundo. Do nossomundo. Este, que nós começamos a construir no dia que nos conhecemos e vamos continuar batalhando por ele, até o dia que nossas almas (gêmeas que somos) tiverem de partir daqui para a eternidade. Já que esse tempo que nos deram na terra é tão efêmero perto do que nos pertencerá quando estivermos entregues a eternidade. Entretanto, mesmo consciente de tudo isso eu não quero esperar chegar lá para te amar, é muito amor para esperar, o amor é paciente, mas eu sou humana e preciso do meu lado anjo para viver e para amá-lo. Você é meu lado anjo, você é a parte boa de mim, você não ésimplesmente a melhor parte de mim, você é a maior também. Minhas asascoloridas batem festivas ao ver chegar a outra parte de mim. E isso é capaz de fazer toda uma vida valer a pena, todas as penas das nossas asas.


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Porque eu sei e você sabe, felicidade é ter a minha mão na sua

Gente, eu queria agradecer pelo carinho gostoso de cada um de vocês... vocês são lindas! E lindos, por quê não?
Sim, esse texto é pro meu anjo do amor. ;)

29 de abril de 2010

A doce redenção de quatro mãos.

O que te faz sofrer? Quem dera saber, pra te tirar daqui, te levar pro lar, te levar pro mar. Um lar a beira mar. Um Lara beir Amar. Porque posso ser o seu prodígio, a sua poesia solta. E você, a minha prosa presa (e preciosa). O que te faz sofrer? Tudo que sei que da dor, é que ela é música. E essa dor não é só sua... Você sabe, né? Sua dor, minha dor. Nossa melodia. E a reciprocidade é inegável, mútua: um ciclo. E ciclos não têm fim. É por isso, porque nós não temos fim, sempre assim, uma aliança. E, como em todo ciclo, o começo também se perde pelo simples fato de termos a certeza de que aquilo já estava escrito. Escrito pelos dedos de Deus, no colorido das minhas asas. Asas que vieram lhe salvar - de você mesma, inclusive. Asas que vieram lhe estapear quando isso é preciso, mas, acima de tudo, dar amor. Muito amor. Todo amor que há nessa vida. E como você ousa esquecer do mais importante? Asas, essas que levam pra liberdade do que é ser sem medo, coisa que você aprendeu a fazer, a ser, a sentir comigo. A liberdade de ser quem se é, sem medo do que acham que você seja... E então, o que te faz sofrer? Seja lá o que for, deixe-me ser hoje, amanhã e pra todo o sempre a sua cura, a sua redenção.




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Você tem a certeza que faz parte de um ciclo quando não sabe mais o que lhe pertencia (antes) e o que passou a pertencer (depois) de entrar nele. Com a gente é assim, essa história de amor sem começo, meio ou fim, quanto orgulho de ter você pra mim. E meus olhos, agora cheio de lágrimas, choram a sua dor, que também é minha e a minha dor, que também é sua. Choram também todas as alegrias que você aí, que mesmo localizada a quilômetros de distância de mim, me toca como muitos ao meu lado não tocaram ainda, não tocarão jamais. Sabe por quê? Porque eu escuto na sua voz do outro lado da linha o que eu preciso para me acalmar, porque você não está ao lado e sim do lado (de dentro), você sabe... Eu sei que você sabe, eu sempre tive o sangue vermelho, branco e azul, a genética o fez assim, com uma "baianidade" nossa. Mas, o meu coração pulsa assim no ritmo do Olodum e tem uma explicação: VOCÊ! Minha boneca, minha baeana, minha Sex, meu orgulho, minha BFL, meu poema e minha prosa. Você, Fernanda Rodrigues Leal. Você que tem até no nome a maior qualidade que um ser humano pode ter, eu te amo! Eu te amo para sempre. E nem sei porque o digo, já que num ciclo não cabe o fim. 


Da sua e sempre sua, 
Boneca.

13 de abril de 2010

Escre(vi)vendo. ♥

            Escrevo porque minha alma grita ao entardecer, quando o crepúsculo toma meu céu azul e só o devolve no outro dia, na madrugada ela está ferida pela ausência de cor e chora. Escrevo para o alívio, nunca para a compreensão - o entendimento cabe na palma da minha mão e a dúvida ocupa todo o horizonte. Não escrevo apenas para que me leiam, embora seja esta uma das mais agradáveis conseqüências, escrevo para vomitar o que está preso na garganta desde sempre, como se o papel fosse a pia de um banheiro imundo que me causasse uma ânsia imensa de verdades nunca ditas por mim a ninguém e naquele momento eu sinto subir tudo de forma súbita, perco o controle sobre mim e escrevo (vomito). Escrevo também para que a sensação de liberdade me tome pelos braços, me coloque sob suas asas – é que na escrita eu tenho a forma que eu quiser, posso ser bruxa ou fada, amante ou amada, palhaço ou piada. Escrevo como se caminhasse por uma estrada infinita rumo ao desconhecido, escrevo como se conhecesse o céu e minha casa ficasse na lua. Escrevo porque ouvir, muitas vezes machuca, então coloco no papel o que eu mesma não tenho coragem de me dizer ou temo que me digam e, na escrita ainda posso me consolar, calar meu pranto. Escrevo por distração, eu posso viajar no mundo magnífico que criei com as palavras, curo meu tédio sem receio de me perder no vale do medo, é que nesse mundo encantado que criei agora, o deixei de lado de fora. Escrevo por fé, acredito que as palavras são capazes de qualquer coisa e nelas, são. Escrevo porque ainda não me deram uma varinha de condão, o caminho do perdão e não me tiraram o medo da escuridão. Escrevo para dar cor ao que é branco e sem graça, rabisco minha letra nesse papel cru e sem vida, nunca lhe contaram uma história antes de dormir, como poderia ele ser feliz? Escrevo para não encher a cara, essa tua cara gorda de bolachas. Escrevo para calar o que foi ontem e deixar ali no passado – gravado – para poder folhear as mil histórias que contei quando quiser e um dia, talvez, eu possa arrancar essa folha e fazer com que você engula - as palavras não voltam atrás. Escrevo para ser presente e não deixar de existir no dia em que morrer, como se não tivesse tido importância alguma, vivido nada e sido apenas uma ilusão, um pensamento insano durante um devaneio que ninguém sabe se realmente existiu. Escrevo para contar e ser história. Escrevo porque duvido que meu sangue seja constituído da mesma forma que todos os outros, penso que deve correr a arte ainda sedenta e sem forma - pronta para vir à tona - em minhas veias. Escrevo em verso e em prosa, para soar como música ou exilar o sufoco, para fazer companhia ou me deixar sozinha. Escrevo porque ainda me resta essa opção, ainda não me proibiram de ser em palavras. Escrevo pelo meu pranto e pela minha glória. Escrevo passado, conto presente e invento o futuro. Escrevo para não beber conhaque, para não rir do sotaque e para não arrancar-te o cavanhaque. Escrevo o que não falei, o que já chorei e o que nunca menti. Escrevo porque ainda pisco, sorrio e choro. Escrevo porque o ímpar ou par aqui não importam. Escrevo o que dispensa compreensão. Escrevo o que não cabe no abraço e calo o que não sei (d)escrever. Escrevo porque meu coração pulsa ou pulsa porque ainda escrevo?






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Olá galera da blogosfera. Devo primeiro me desculpar pela ausência que vem sendo tamanha. Tenho vários textos para postar e não tenho tempo. Minha vida tá sendo corrida, mas sabe quando você sente que realmente não pode reclamar de nada? Que todas suas preces estão sendo atendidas? É claro que sempre tem uma coisa ou outra fora do lugar, mas não é nada que esteja me abalando. Quero dizer que daqui para frente o meu tempo para esse blog estará cada vez mais escasso, afinal eu estou no terceiro ano, tenho um super TCC a ser desenvolvido (porque eu estudo em escola técnica), vestibular no fim do ano e agora um namorado dengoso para cuidar, então já sabem né? Mas, eu prometo que virei aqui quantas vezes meu relógio e minha inspiração me permitir. O que quero contar a vocês é que eu estou com um blog "novo". Bem, não é novo de todo o jeito. Criei ele em janeiro, mas são poucas as pessoas daqui que já tiveram acesso, o nome dele é Meus Versos Tortos. Onde eu publico poemas de minha autoria, só tem um até agora que não é meu, mas foi feito para mim por uma pessoa muito importante, a minha boneca Fernanda Leal. E por ser lindo demais e em minha homenagem, eu coloquei lá. Todas as visitas por lá serão sempre muito bem vindas, mas os comentários para a felicidade dos preguiçosos estão trancados, porque eu não quero ter a obrigação de responder ninguém... Quero postar lá só por postar, até porque eu não tenho tempo nem de cuidar daqui direito, mas críticas, sugestões, elogios e afins são sempre bem vindos, pode mandar pro scrapbook do orkut ou por aqui mesmo. Prometo também que assim que eu conseguir eu coloco um "selo" dele ali do lado para facilitar o acesso. Mas, vocês podem segui-lo. Ele é muito bonzinho e não morde ninguém. Acho que por hoje é só. Respondê-los-ei, meus pequenos gigantes.




Um beijo enorme, um abraço carinhoso e uma vida de luz.




Pequena.