1 de março de 2024

Além da vida e do amor.

 Santa Bárbara d'Oeste, 01 de março de 2024


Oi, Mami. Como vão as coisas ai do outro lado? 

Estou certa de que muito bem, isto - claro - se desconsiderarmos essa saudade que nos atravessa todos os dias, dá pra ver nos olhos, né? Às vezes, eu sei que daí de cima você vê, ela é tanta que além de me atravessar, me inunda e escorre pelos olhos. Eu sei que você também ouve os soluços.

É mami, já se passou mais de um ano e eu me lembro com clareza do nosso último dia juntas (enquanto você ainda estava consciente), lembro também do momento em que os médicos te levaram e você me olhou com os olhos mais amorosos do mundo e me pediu: não fica nervosa. Quando mais tarde, os médicos me permitiram uma rápida visita e quando eu saia da CTI, por uma pequena fresta você me olhou e disse o quanto me amava e sempre amaria. Fico feliz em saber que as nossas últimas palavras uma para outra foram sobre a nossa maior verdade e fonte de toda nossa força - o amor -, mas veja bem, mami, de novo choro por saber que nunca mais teremos isso.

Eu tenho certeza que todas as pessoas que neste interim me disseram o quanto sou forte, não sonham com a dor dilacerante que carrego no peito. Ainda na semana passada, enquanto dirigia, uma música tocou e dizia assim: "os olhos mentem dia e noite a dor da gente". E esta minha, só eu sei. 

Na maior parte do tempo sou feliz por tudo que dividimos. Porque sei que ai de cima você deve seguir orgulhosa da mulher que sua eterna bebezinha tem se tornado, apesar de brava com as tatuagens. Mãe, se Deus me concedesse um único desejo, com certeza ele seria mais um tempinho no seu colo, um pouquinho do seu cafuné e um cheirinho no seu cangote. 

Semana passada chorei porque eu queria comer sua comida. 

Todos me dizem, quando eu lamento de saudade, que você está do outro lado cuidando de mim, olhando e intercedendo por mim ao lado do Pai. Eu sei o quão poderosa são as orações das mães, ainda mais com este nome, né Maria?!  Eu não tenho dúvidas, muito pelo contrário, mãe, você me ensinou muitas certezas. Mas, eu só queria te ouvir. Ter uma resposta, um conselho, um apoio, um puxão de orelha...

Esses pouco mais de 30 anos (se considerarmos a vida intrauterina, onde já éramos parceiras e cúmplices) não foram suficientes para este amor que vai além da vida e do amor. Entretanto, por tanto amor, ainda sou grata! 

Mãe, a vida do lado de cá continua. São tantas novidades que as vezes chego pegar o celular entusiasmada para te contar. Sempre foi assim, né?! 

E tudo bem. 

Sigo te amando daqui.

Você é tudo. Tudo que eu amo. Tudo que eu queria por perto. Tudo que eu sei. Tudo.

Obrigada por tanto.


Beijos com amor,

sua menina.

Pequena pra quem vê, gigante pra quem ama.



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30 dias de escrita: Cara para alguém que você ama ou já amou.


4 comentários:

The Locksmith disse...

É raro conseguimos valorizar algo durante nossa convivência com aquilo. Sentir saudades de uma pessoa fala muito mais sobre o que ficou, do que o que se viveu.

No seu caso é gostoso ler e entender que você viveu algo único, e com certeza aproveitou isso de todas as formas.

Obrigado pela chance de ler essa carta, me esquentou nesse dia frio.

Michelle Capasso disse...

Lindo texto. Profundo e cheio de pontos para pensar. Parabéns Joy!!!!

Anônimo disse...

Pelo amor de Deus 😭❤️

Anônimo disse...

Chorei aqui! Parabéns e obrigada por dividir. Nadi sz