26 de outubro de 2011

(singu)Lar

"Lar é a pessoa ou o lugar que você quer voltar sempre e sempre."
Autor desconhecido

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                 Confesso, eu já tinha entregue os pontos. Depois de quebrar a cara e ouvir por aí que o amor não é pra qualquer um fica difícil de acreditar e como procurar algo em que você não acredita? Foi justamente por isso que eu parei de levantar os olhos e me perguntar: Será que é? Nunca tinha sido, nunca passou de ledo engano. Naquela altura do campeonato amor para mim era tão somente literatura. Não é o que dizem? Se você quer esquecer, transforme em personagem. Deve ser por isso que te escrevo tão pouco ou menos que gostaria e, certamente, quase nada perto do que você merece, sem esquecer é claro do medo de parecer clichê. Desculpe, não encontrei outro meio de contar essa história sem dizer que quando eu desisti de procurar, você me encontrou. Porque foi exatamente assim. O destino me fez esbarrar em você que chegou ocupando o lugar que sempre deveria ter lhe pertencido, guardaram pra você.
            O mais bonito foi que apesar de eu me encontrar permanentemente vestida numa armadura para não sair ferida de qualquer tropeço, você não se importou. Você me despiu de qualquer medo que eu pudesse sentir, você me deu muito mais do que força quando eu precisei, viu além do que eu quis mostrar e conquistou muito mais do que eu estava disposta a oferecer. Eu não sou fácil de lidar, sou tempestade, furacão, mar em fúria, falo grosso quando acho que devo e nem sempre tenho razão. Tenho ascendente e força de um leão, mas eu sou geminiana e tenho medo, cuida de mim? Eu não lembro quando – exatamente – eu te enxerguei com olhos de mulher, mas não é assim que funciona um ciclo? Você não vê início e não tem fim. Você não tem medo de estar perto de alguém que não sabe o que fazer? De tudo, eu só sei que eu nunca vou ferir você e se eu rugir é só pra afugentar meu próprio medo, como se dissesse, ainda que indelicadamente pra ele ficar quietinho. Segura minha mão, toma. Isso é pra você, guarda com carinho.
            Você é a paz que a vida trouxe, o presente que o universo me deu. Seu sorriso é capaz de limpar qualquer tempo ruim que me cerque e sua voz ainda é (e sempre vai ser) meu som favorito. Não me pergunte se eu lembro do que eu nunca esqueci, meu sorriso encontrando o seu sem poder atravessar, meu corpo diante do seu girando no ar, no meio da rua como se quem estivesse olhando não fosse ninguém além de coadjuvante. Só nós dois que pra mim é um – singuLar – nó. Que não desata.  
Te amo. Simples assim, sim. 

17 de setembro de 2011

[Não insira um título aqui]


Não me escreva um texto para tentar me convencer que ainda dá tempo. Suas palavras não vão acordar aquela velha sensação de que estava escrito porque ela já não dorme mais, depois de algumas tentativas nas quais você sempre chegava no momento em que eu apontava uma arma para o peito dela e me fazia desistir, dessa vez você não veio e o tiro foi certeiro; eu matei a idéia de querer você pra mim, querer uma coisa que nunca me pertenceu.
Você esteve o tempo todo fora do meu alcance e tudo que fez foi irremediavelmente do seu jeito, mas quem levou nome de menina mimada no fim da história que não acabava nunca fui eu. Sem contar na sua mania de colocar uma lente de aumento nos meus defeitos que sei que não são poucos e se esquecer que, apesar de eu te chamar de anjo, você é e sempre foi demasiadamente humano. Sobre-humano em você é apenas a sua capacidade de argumentação, você sempre foi todo errado e de uma forma que até hoje não consigo entender me convenceu que era o que eu mais precisava.
Entenda que eu nunca precisei de você. Só sabia o quanto era bom poder contar com alguém que soube como me ganhar e me perder agora quando o jogo estava quase ganho.  E as desculpas que você nunca me pediu não são o suficiente, nem todas juntas. Não me mande rosas e um cartão, já me bastam todos esses seus espinhos que deixaram minha pele em carne viva. E se agora eu visse uma estrela cadente o meu último pedido seria: Não me escreva aquele texto.
Agora não é mais necessário, não vai me convencer outra vez do quanto eu te amo. Suas palavras tortas não cabem mais nas minhas linhas, tampouco entre elas. Eu não quero mais saber como seria a comemoração dos seis meses do namoro que nunca aconteceu, não me escreva sobre aquela conversa que você teve com o Pedro enquanto tomava aquele chopp sobre os meus “milagres”. Não quero saber o que você fez depois daquela tempestade acabar com a energia da sua casa e deixar você no escuro pensando sobre o que faria se tivesse os poderes de Deus, você não os tem e eu não sou, nem nunca fui o bastante pra você, que dirá a mulher perfeita. Não me mande um postal dizendo que pretende voltar pra minha vida, aqui não é mais o seu lugar. Fique onde está talvez ele não te pertença, mas é o que você tem agora. Não precisa mentir pra mim naquele texto, não mais. Eu não vou acreditar.

Não assine aqui. 

19 de agosto de 2011

Minhas verdades (nuas, ácidas e cruas).

Queria algo novo, uma mudança que mostrasse talvez outros desafios e que estes, fossem mais árduos e deliciosamente envolventes. Estava querendo apenas sentir a diferença escorrer entre meus dedos já que as coisas iguais, os lugares comuns, as frases feitas nunca fizeram efeito nenhum sobre a minha verdade, aquela... que eu sempre gostei de inventar. Pode não fazer sentido para ninguém, mas o meu mundo é bem assim mesmo, não precisa fazer sentido; precisa tão somente acontecer e sendo assim valer a pena. O zodíaco já adiantara a todos que quisessem saber: Eu seria inconstante. E segura da minha inconstância, não tenho medo assim do meu amanhã ser totalmente novo, eu não encaro a diferença como um problema. Afinal o igual me cansa os olhos, o novo me encanta.
E talvez seja por isso eu seja tão passível ao perdão, não me dói perdoar, enquanto perdoei nunca perdi nenhum pedaço meu, pelo contrário a cada perdão o meu coração ganhava um pedaço novo e acabou ficando assim... Todo colorido, cheio de remendos e histórias, cheio de vida.
Eu gosto de mudanças, porque viemos ao mundo para evoluir e não apenas para ficar parado, observando e criticando a mudança do outro. Não consigo imaginar como estarei no fim dos meus dias, já que diariamente tento me reinventar, não que funcione... Não acordo todos os dias diferente e também existem aquelas coisas, por mais sutis e delicadas que sejam, que nunca deixam de ser como sempre foram.
Tem dias que eu acordo com aquela vontade absurda de não ver, não falar e não ouvir ninguém. Outros tanto a vontade é de cortar o cabelo e pintar de uma cor esdrúxula. Tem dias que a vontade é de colocar a mochila nas costas e ganhar o mundo, ou então correr pro abraço do melhor amigo, vontade de chorar, de correr, de gritar, de amar, de sorrir, de cantar, de olhar, de sentir, de defender, de mostrar, de esconder, de amassar, de apertar, de ganhar, de reinventar, de melhorar, de mudar, de aconchegar, de espantar, de comer, de saciar, de ser... de existir sem preceitos ou regras. De existir de acordo apenas com os desejos, os mesmos que sempre tomam conta do seu ser e que muitas vezes você aperta ele e coloca naquele cantinho escondido que ninguém possa ver, por que assim... só assim não vale a pena.



Escrito em 13 de setembro de 2009, como eu disse (escrevi) certas coisas não mudam nunca, a vontade do novo permanece em mim (a cada dia).

25 de julho de 2011

Tease(r) me.


Minha alma de mini-saia.
Entre um movimento e outro, palavra.
Um mostrar sem querer revelar, não posso expor.
Mas, cabe a você – se quiser – supor: Proposta indecente?
Fernanda Mello

         A questão é que sempre fiz por prazer. Ou quase, algumas vezes contrariada; não dava pra fazer do meu jeito. Sabe quando a outra parte acha que sabe de tudo e não aceita nenhuma sugestão? Detesto, fica chato. Mas, era o que tinha de ser feito, quase como obrigação embora eu sempre tenha achado uma ponta de prazer –  ainda que mínima –, no ato. E consumava. Eu não posso fazer nada se é o meu jeito, se ali eu encontro meu refúgio. Não que eu não tenha feito cara feia, não sou tão boazinha quanto me digo, mas nunca ninguém reclamou de nada até porque eu estava fazendo e não cobrava nada. Muita petulância da parte de qualquer pessoa ainda se achar no direito de reclamar, é o que eu penso.
 Tem gente que faz por dinheiro, não condeno, só não consigo. Odeio cobrança abusiva, me deixa em paz. “Faz assim”, “você não acha que ali é melhor?”, “mexe aqui”, “muda ali”. Tem outra coisa também, não gosto de muito barulho, no máximo uma música de fundo que tenha a ver com o clima e só. Nada de conversinha, troca de elogios ou crítica. Pra que, alguém me explica? Porque sinceramente não entendo, não vejo sentido. Não ajuda em nada, eu juro.
Não me lembro da primeira vez, faz tanto tempo. Será que foi bom? Valeu a pena pra alguma das partes, será que me olhou com cara de inquérito e perguntou: “foi bom pra você?”, será? Não sei. Esqueci. Talvez porque não tenha sido tão bom assim, mas nem tão ruim senão eu me lembraria, certamente, de algo do que me queixar. Mediano, pode ser. Algo que eu tenha merecido um cinco ou sete, foi justo? Talvez eu tenha me culpado ou então nem doeu o suficiente para que o fizesse. Só sei que aconteceu, não é o que dizem? Sempre tem a primeira vez. Deve ter sido na época do colégio, devo ter compartilhado a experiência com alguém. Você se lembra? Me liga, me conta. Me procura talvez a gente repita a dose, hoje com mais experiência, pode ser melhor. Devolve pra mim a lembrança, esquecida que sou não sei onde deixei.
Agora já tenho alguns longos anos de experiência. O quê? Não sei com exatidão, talvez uns sete ou oito anos; que me dá prazer é isso. E mesmo assim, acho que seria muita prepotência da minha parte me considerar profissional, dar dicas, ensinar, corrigir. Não! Preciso de muito mais para tanto e quando o muito mais vier, ainda vou achar pouco. É assim, não me acho boa o bastante, mas também não entrego os pontos fácil. Tenho meu valor.
Já fiz de tudo, é verdade e de muita coisa sinto vergonha, se eu pudesse esquecer, assim como esqueci a primeira vez, seria ótimo. Como faz? Vivo achando que desaprendi, então pratico, pratico, pratico e a todo instante quero estar melhor para qualquer um. A gente nunca sabe né? Adoro quando vejo alguém devorando e depois saindo satisfeito, quem se satisfaz – ainda mais – sou eu. Não sei explicar, me sinto viva.
O problema está apenas em compartilhar, não é tudo que dá para se dividir, certas coisas são tão íntimas, tão minhas. Não cabe assim em qualquer lugar, para qualquer um. E quando isso acontece procuro me preservar ao máximo, escondo, omito. Meu jeito, juro! Sem maldade. Não é porque o resultado é positivo, ou negativo. Isso não quer dizer muita coisa, só que eu não quero gritar pros quatro cantos. Privacidade, já ouviu falar? Exatamente isso.
Alívio. Prazer. Descanso. É isso, palavra, que você significa pra mim. Eu não me lembro da primeira vez, desculpa. Mas, já faz parte da minha rotina te procurar quando eu preciso me esvaziar. De tristeza ou de alegria, você é sempre o melhor escape pra eu começar e ser nova outra vez. Talvez algum dia eu aprenda a te usar pra ganhar o pão, promete não me culpar e nem me ofender? Não quero me sentir uma prostituta, encontrar no prazer uma forma de fazer dinheiro. Será que vai ter o mesmo sabor? Não sei, palavra. São coisas que só o tempo (e você, é claro) poderão me dizer.




Feliz dia do escritor a todos! (:  

12 de julho de 2011

In sanidade.

Enlouqueci-me. Não, não houve nenhum diagnóstico onde um especialista me certificava de que eu estava louca, no entanto, aconteceu. É tão delicada a linha que separa a sanidade da insanidade e eu nem pude perceber – o exato momento em que ela – se apagou. Porque na verdade não, você não fez pergunta alguma pelo simples motivo de que você já sabia de tudo. Então eu arrumei mecha do meu cabelo que caiu sobre os meus olhos e tampava de uma maneira tão deseducada a minha visão de você. Naquele momento eu não sabia se era uma visão boa ou ruim, minha capacidade de discernir as coisas já havia sido afetada, ainda agora eu não sei, mas era uma visão de você. Os meus olhos negros te olhavam aliviados, não mais tão tristes apenas com uma profundidade que chegava ao desconhecido de mim, quietos, como quem já viu muito e não quer dizer mais nada. Somente mergulhavam no oceano silencioso das minhas águas, negras também. Eu pedi para você afrouxar a sua gravata e você o fez, sem me questionar, embora eu tivesse resposta para te fornecer: ela de uma forma que eu não podia entender me sufocava. Meus dedos, sem as mordaças do que é certo ou errado, moviam-se lenta e carinhosamente pela sua face, a ponta deles tocava com cuidado a barba que estava por ser feita e os seus lábios sorriam como se soubessem – e eu tenho a impressão que sabiam – que eu tinha enlouquecido.  Eu acho que quem me enlouqueceu foi você com o seu silêncio que dizia tudo o que eu queria escutar e eu calava respondendo tudo o que você queria como resposta e acho que enlouqueci justamente por não me importar em responder o que não era perguntado e assim, calados, eu tinha com você o diálogo mais interessante de minha vida inteira. 

24 de junho de 2011

Só enquanto eu respirar...

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Estava tudo tranqüilo. Eu ainda não tinha me abalado o necessário com a notícia de que você tinha se acidentado, talvez isso se deva ao fato de que – quando eu soube – já estava tudo aparentemente bem. Você estava em casa, medicado e o que denunciava o acontecimento era apenas os três pontos no supercílio. Eu soube até dar risada com você. Foi só dois dias depois que a ficha caiu, eu estava sozinha e de repente os primeiros acordes de “O anjo mais velho” começaram a tocar e tocaram tão fundo que doeu. Um choro angustiante veio até a minha garganta e eu precisei – mais do que colocá-lo pra fora – dizer o quanto eu te amava, te amo.
Eu sei que é um erro dizer que você é um anjo. Para isso, o que te falta não são somente as asas e em tanto tempo de vivência eu já acredito conhecer todos os teus defeitos, nenhum me surpreende mais. De repente se no meio de uma tarde chata você disser que vem e não vir de fato, não me surpreenderei. Você é assim mesmo, tem uma mania séria de prometer o que muitas vezes não está a fim de cumprir. Porque sim, o fato de você “não estar a fim de” é o bastante para que não se concretize.
Todas aquelas brigas de todos aqueles dias, você se lembra? Sim. Você se lembra. Posso ouvir você dizer num tom risonho: “Era você quem brigava comigo”. E como brigava. Nem tudo isso, todas as coisas negativas pelas quais já atravessamos foram suficientes para me fazer desistir de ver em você o meu anjo mais velho. Não é o que dizem? A gente enxerga apenas o que quer ver e eu vi em você um anjo, pintei uma asa de cada lado e ao meu lado, desde então, está você.
Digo que permaneceu porque quis, dei mil chances de você virar as costas e partir. Por vezes virei as costas e fui embora. Entretanto, entre tanto amor, nunca soube dizer adeus. Ou até disse, mas nunca soube ser partida. Foram cartas, sorrisos, lágrimas, presentes, presença, ligações, mensagens e promessas. E quando aquela música começou a tocar, eu pensei pela primeira vez na possibilidade de um Adeus que não pudesse ser desfeito e se fosse? Como eu aqui do outro lado poderia me orientar?
E no susto, coberta pelo medo do que poderia ter sido vi o que esteve diante de mim durante todos esses anos de você tatuado em minha vida, você é mais que importante, você é mais que amigo, você é conforto, amparo. Você é vida. E o que aconteceu quando o medo tomou conta de mim? Mais uma vez, eu corri pra você. Mais uma vez, eu te procurei e mais e outra vez encontrei em você: descanso, segurança.
Algo que não sei traduzir em palavras, mas que quando você disse: “Nada vai acontecer, eu não vou sair do seu lado nunca, entendeu?” me senti uma criança no colo, faz tempo, mas você não pode ter esquecido a sensação de ser criança no colo. Ser criança sem medo de bicho papão ou lobo mau. Não sou criança, mas você espantou meus fantasmas. Você não é eterno, eu não sou eterna. Somos meros mortais que encontramos um no outro, um porto seguro. Às vezes balança, pudera também, sou tempestade, você é vento! Força, força, você consegue. Força, força, uma hora acaba. Força, força, estou aqui. Força, força... onde você está (pra mim)?
Dividimos muitos momentos, muitas coisas ruins e outras tantas tão boas que nos fizeram superar um passado tão cheio de marcas e de mágoas. Aqui estamos, outra vez. Agora e para sempre, quem sabe? Talvez.


I will love you like you do.
Love,
Your princess.
Your heart daughter.

20 de junho de 2011

Ao meu herói.

Senhor Antônio,

            A figura de herói é muito vista nas telas dos cinemas e nas revistas de quadrinhos espalhados por todo o mundo, são seres invencíveis e muitas vezes com poderes especiais que lutam para salvar o universo do mal que nele existe. O mal de fato existe, mas e os heróis? Eu não os vejo, eles são frutos da criatividade de pessoas que eu não conheço e provavelmente nunca conhecerei. Os heróis que todas as pessoas aplaudem, admiram, colecionam objetos referentes a eles e mil outras coisas, não existem e acabam no mesmo instante que a luz dos cinemas volta a acender, seus criadores ganham muito dinheiro com isso, não os condeno, contudo você há de convir comigo de que eles são uma mentira e mentiras não me valem de nada. O que quero dizer é que herói não é isso, para mim, ser herói é ser alguém como você, de carne e osso, ou posso até dizer – todo coração.
            Você não é herói porque salvou o dia, o mês, o ano, ou a vida de boa parte do mundo e sim, porque você salvou os meus dias, meses e anos, você salvou a minha vida e ensinou-me a ser como deveriam ser os heróis – humana. Aprendi com a sua presença na minha vida que os erros existem, podem ser perdoados e auxiliam no crescimento, que não teremos tempo para cometer todos os erros do mundo e com isso, deveríamos ao menos tentar aprender com o erro alheio. Você é responsável pelo meu caráter, pelo meu jeito (quase) único de enxergar as coisas e pela mania de acreditar que sempre existe algo de bom dentro de cada um. Com você aprendi a sonhar e principalmente a lutar por aquilo que eu acredito.
            Acredito que todas as pessoas seriam mais felizes se tivessem um herói como eu tive, que não é capaz de combater todo o mal do mundo e exterminá-lo para todo o sempre, entretanto eu sei que você estará aqui ou em qualquer lugar do mundo quando eu precisar, ajudando-me a recolher todos os pedaços do meu coração e a reconstruir mais uma vez aquilo que fora destruído. Carrego-lhe dentro do peito, pois você é humano, logo mortal, você pode até morrer, você será enterrado ou cremado, porém tudo o que você passou para mim a cada dia de convivência permanecerá em mim até o fim de minha existência.
            Algumas vezes eu cometi alguns erros na vida, no entanto nunca consegui ir contra os meus princípios, preceitos que trago comigo porque você me ensinara assim. Como todas as pessoas, sinto-me segura por acreditar em herói, embora ao contrário de todas elas eu ainda possa bater no peito dizendo o quão inexplicável é poder dizer que o meu herói não é super, mas é tangível e não é fruto de uma imaginação demasiadamente fértil. E nem toda a criatividade do mundo seria capaz de colocar em palavras a imensa admiração que tenho por você, pelo seu jeito herói de ser humano e seu jeito humano de ser herói.



                                                                       Com todo o meu carinho e admiração. 



11 de junho de 2011

MicaBela e a Fera.

Aposto o quanto você quiser que você já ouviu falar – e muito – sobre grandes amores. Eu também já havia ouvido e até contado sobre eles, até mesmo quando eu ainda não tinha vivido grande amor algum. Por isso digo, antes dessa criatura aparecer em sua vida você é incapaz de imaginar a dimensão de tal sentimento, de tal paz de espírito. Há quem diga que não, mas esse amor tão grande – apesar de muitas outras sensações incríveis – me trouxe paz de espírito. E você certamente já ouviu falar sobre o amor ser cego e é. Aprendi a amar tal criatura sem nunca tê-la visto, só sabia que estava ali dentro daquela embalagem nada plástica, completamente viva e eu do outro lado, sabendo tudo ou grande parte do que a esperava e ainda espera aqui – o mundo inteiro (por um sorriso seu).
Ah, meu docinho, se eu soubesse alguma forma de te proteger de tudo. Guardada ali para sempre você nunca sentiria frio ou medo, ali o conforto era inigualável. Por que tanta pressa, você sabe me dizer? Minhas mãos acariciavam àquela barriga na torcida de que você se mexesse, te sentir sempre foi uma alegria infinita, desde o princípio, uma explosão de felicidade, de um amor que eu não conhecia. Nunca tinha visto! Ainda que eu não soubesse a cor dos seus olhos e nunca tivesse ouvido o som do seu choro, você já estava dentro de mim, do meu coração.
Por que você corre contra o tempo? Há uma coisa que você precisa saber, o tempo é ilusão. A brincadeira não foi, tudo ficou muito sério quando você decidiu que a todo custo conheceria o que já temia por você e não teve medicamento ou repouso que te aquietasse, remediasse por tempo suficiente a sua decisão. Aconteceria, sabemos. Por que tão cedo? Você não sabia explicar sua pressa desse mundo na nossa língua, sua sede de realidade. Não tive tempo de te ensinar que aqui do lado de fora tem muita gente que não se importa com nada e quebra corações como eu quebro castanha, sem querer provar nada, apenas por diversão, depois os outros que se virem com a bagunça que eu mesma fiz. Não, não quero não! Com a minha boneca ninguém brinca, o meu brinquedo ninguém quebra. Colo, conforto, carinho, comida tem aqui, eu te dou meu amor, eu te dou. Fica? Quer chocolate, quer risadas? Eu dou também, mas fica... Fica aí dentro. Fica, por favor. Eu te amo, fica...
Não ficou. Você veio. Amei ainda mais quando toquei as tuas mãos tão pequeninas que seguravam com força meus dedos tão maiores e sua beleza prematura me emocionou. Nunca amei tanto algo tão pequeno. Sua fragilidade me dava forças para quem sabe te proteger. Você veio antes da hora, mas me trouxe fé no tempo exato. Me explica de onde você tirou tanta força para continuar? Acreditei que tudo ficaria bem e você ficou bem ao meu lado o tempo todo. E eu que acreditava saber de tudo, quis aprender de novo – e por que não o novo – com você. Posso te contar um segredo? Sua risada é o som mais harmonioso do mundo, quando você encolhe os ombros e tampa a boca com a mão, meu coração pára por um milésimo de segundo e eu só consigo pensar no quanto eu amo você. Há beleza mais sensata que a tua, criatura? Sua preciosa idade, minha eterna preciosidade. Minha Micaela, minha Micabela... Minha bela, sou tua fera. Vou te proteger. Vou te carregar como uma irmã. Vou te amar como uma mãe. Eu sempre estarei lá por você.

27 de maio de 2011

Para dizer Adeus.

Não sei se é meu sexto sentido ou se são os sinais esparsos que você deixou pra mim, no entanto, desde que este dia branco amanheceu notei você dando voltas e voltas em torno do seu próprio umbigo, agindo como se eu não te conhecesse suficientemente bem pra saber o que isso quer dizer, eu sei. Apesar de saber do que se trata, não sei o que dói mais: a sua partida ou você agindo como se eu fosse criança, procurando a melhor hora para me contar a pior notícia que no fim, acaba escapando dos seus lábios por descuido.
Serei sincera como gostaria que você fosse comigo, eu conheço todos os seus jogos e cada passo que você dá, entendo o que você quer dizer até quando não diz nada. E se você quer saber, para que eu me esqueça de cada pequena coisa que grita o que você sempre cala, você precisaria sumir por mil anos. O que não acontece nunca. Por conhecer tudo eu deveria saber como lidar com essa história que já virou um ciclo vicioso, ainda não aprendi, você vai embora sem me dizer adeus e volta sem pedir perdão, como se a casa fosse sua e a culpa completamente minha.
Eu não sei se é uma vantagem aprender a lidar com os seus erros. Estou aqui na mesa do café da manhã esperando que você saia pela porta que deixou aberta ao entrar, como aconteceu em todas as outras vezes. Dentre as – infinitas – coisas que eu não entendo, a minha grande dúvida é: Por que adiar o que – por algum motivo que eu ainda não compreendi – haverá mesmo de ser feito? Eu não peço explicações a respeito daquilo que você não está interessado em esclarecer, você gosta mesmo da inexplicável beleza do inacabado.
A minha cabeça parece uma bomba relógio e está contando os segundos finais para explodir e o meu sexto sentido já cansado está rouco de tanto gritar que já me avisou. Então você vem como se nada – que eu soubesse – estivesse acontecendo e me pergunta do que é o suco, quando eu respondo que é de laranja você parece decepcionado. Não me atrevo a ser lisérgica como deveria, contenho-me com um gole de suco. Algo me diz que você queria que ele fosse de maracujá para me acalmar e facilitar as coisas para você, ainda não se acostumou, querido? Que seja feita essa sua vontade infantil de não saber ser feliz sem um brinquedo novo, vá buscá-lo onde você quiser e volta depois onde sabe que vai encontrar aconchego. Só não prometo que outra vez vou estar aqui para afugentar os seus medos que eu já conheço.
Enquanto você aprecia esse café da manhã que parece – para ambos – ter gosto de fel, eu noto a sua ansiedade em não saber como fazer o que quer. Você tem mesmo certeza? Não pergunto, sou imparcial. Às vezes tenho a ligeira impressão de que você só sai pela porta porque eu não me ajoelho no chão e te peço pra ficar, se for por isso partirá quantas vezes a sua vontade pedir. Não vou fingir que não sei viver sem você apenas porque é disso que você precisa. Se você quer alguém pra dizer o que você quer ouvir, fica na casa da mamãe, onde você encontra até comida no prato na hora do jantar. Então você começa a conversa da mesma forma que foi das outras vezes e como das outras vezes, não te interrompo e não te peço pra ficar, sei que nada do que eu faça pode mudar a sua decisão que já foi tomada e planejada articuladamente, você terá cartas na manga para todas as minhas atitudes. Não faz o meu tipo querer complicar, te testar. Quer ir? Vá! A porta esteve aberta o tempo todo.
Afinal de contas, eu acabei compreendendo que não há maneira doce de se dizer adeus, você se acostuma a ter aquela companhia e quando ela se vai, ainda que continue inteira, como sempre foi, parece faltar um pedaço de você. E eu sempre me pego ouvindo o Cazuza cantando, como se quisesse me ensinar: “Toda manhã parece um parto”. Está claro para mim, por mais que eu queira que você fique eu sei que para você também não é fácil deixar, nada que justifique ou amenize sua infantilidade, sua indecisão. Mas, é sempre um parto, partir. 

21 de maio de 2011

Eu sou minha.

            Eu sou minha. E me divido com poucos; ainda assim - só de vez em quando. Se eu não te conheço, tua vida não me importa, não vou querer saber dela, evite me olhar nos olhos ou qualquer intimidade; eu não gosto. Para mim, instantâneo é só miojo e mesmo assim, você consegue ver? Sem sal, sem gosto e sem valor. Se eu não gosto de você, evito até ouvir seu nome, não precisa sorrir pra mim. Isso não vai mudar em nada a minha opinião, ou talvez, até mude, posso gostar ainda menos de você, por te ver aí se dando aos montes para quem não quer nem saber de você. Quanta falta de amor próprio!
            Agora quando eu gosto de alguém, preciso tocar e sentir. Trocar e sentir a energia boa que ela emana, porque esse papo de “eu gosto de você de graça” pra mim não está com nada. Que isso? Gosto de quem me faz bem, de quem não tem preguiça de enfrentar meus leões, pular meus muros e atravessar minhas fronteiras para me conhecer. Quem me faz pensar que eu valho mesmo a pena, ou até o pássaro inteiro e me faz querer voar.
            Gosto também de quem gosta de mim, porque brother, não é tarefa fácil, requer tempo e dedicação. Só gosta de mim quem me conhece, quem sabe que se eu não to afim é por algum motivo. Não, eu não disse que quem gosta de mim entende os meus motivos, porque ninguém nesse planeta – e ouso dizer até que em nenhum outro – é capaz de entender meus motivos, mas quem gosta de mim, sabe que eles existem. Até porque, meu caro, conhecer transcende o entendimento e um bucado de outras coisas que o homem inventou para dominar o homem.
            Tem também os que acham que gostam de mim (só acham, porque nem me conhecem e se eu abrisse minha santa boca, em meio tempo eles teriam certeza do contrário, o que pra mim não seria nenhum problema) e desses eu não gosto, se queres mesmo saber; nem respeito. São quase inimigos, têm preguiça de mim, só escutam o que eu grito, só vêem o que eu escancaro e isso, não é nem um centésimo de mim.
            Quem gosta de mim precisa respeitar o meu silêncio e saber que há nele mais de mim do que em todos os meus discursos “eu sei bem quem eu sou”, quem gosta de mim reconhece-me também quando me fantasio e não me acusam, embora tentem me proteger da minha própria ilusão; conhece o pouco sã que eu sou na minha loucura e sabe o quanto há de plural na minha pseudo-singularidade. Eu nunca estou sozinha, nem mesmo quando me tranco no quarto, estou sempre na companhia do meu eu-lírico e da minha gêmea boa, porque a má sou eu. E quem me conhece sabe que o grito mais ensurdecedor é o que eu calo. 

17 de maio de 2011

Carta ao homofóbico.

Querido homofóbico,

De mim você não merece nada além do que desprezo – o mais puro e sincero – no entanto hoje resolvi te escrever porque tenho pena de você, deve ser tão triste ser alguém tão pequeno, tão inútil e tão desvirtuoso que eu não sei como e nem por que você ainda sobrevive. Fobia é, segundo o meu queridíssimo Aurélio, medo mórbido. Vamos combinar que homossexuais existem em todos os lugares, como você ainda respira? Ultimamente você anda em completa evidência, é verdade, sempre me disseram que o ridículo também chama a atenção. Eu teria vergonha de ser quem você é, me desculpe se isso te ofende, mas não tenho nada de mais agradável para te dizer.
Será que você, caro homofóbico, se importa em dizer a mim como ainda tem coragem de sair todos os dias às ruas vestido dessa armadura de ignorância e munido desses argumentos que já não convencem mais? Nem ao menos sei por que digo ‘mais’, eles nunca me convenceram. Vai me dizer que Deus fez o homem para amar a mulher e vice-versa, não é? Querido, poupe sua saliva nojenta, esse seu veneno maldito! Se você se acha tão digno e expert na palavra dele, qual é o segundo mandamento? Justamente: Amar o próximo como a ti mesmo. Um homossexual pode não estar cumprindo a palavra, mas deixe de tanta prepotência e pseudo-superioridade e admita: você o faz da mesma forma, senão pior.
Guarde a sua falta de amor pra você. Poupe-me da sua deselegância, falta de educação e de consciência, além é claro da sua santa arrogância – ok, eu sei que ela é grande, que você tem de sobra, mas pode guardar só pra você. Se você é tão contra o casamento, a união estável, a felicidade entre pessoas do mesmo sexo, é tão simples, case-se com alguém do sexo oposto. Ou simplesmente não se case, o que em minha opinião é melhor, porque quem será que consegue aguentar você? Talvez você vá mesmo para o céu, só Deus com sua extrema bondade pode aceitar alguém como você, porque meu filho, até o capeta vai querer distância de pessoas ridículas assim, quando você chegar lá terá uma plaquinha na porta: ‘Boate gay: fechada pra balanço’ só pra te espantar, pra você sair correndo ou morrer (após a morte) de urticária.
Sei também que nada o que eu diga será bom o bastante para te livrar da sua escrotisse, talvez você esteja mesmo fadado a viver nesse mundo medíocre que você cria pra si próprio a cada dia que levanta. Talvez você seja tão inútil que mereça mesmo uma sociedade onde opção sexual seja mais importante que caráter, aliás, você sabe o que é isso? Imagine se por – apenas um dia – você passasse por àquilo que você e o seu preconceitozinho barato os submete diariamente, imagine se um dia você está numa festa com a pessoa que você ama e de repente, o simples ato de você beijá-la na boca fosse motivo pra você ser convidado a se retirar do recinto, quando não ser motivo de você ser espancado até a morte na próxima esquina. E se você acha isso completamente normal, quer saber o que eu penso sobre você? Você não merece ser chamado de ser humano, porque você não sabe o que é ser humano, você não é humano, você não é racional e você não tem coração. Falta-lhe não apenas amor próprio como todo e qualquer outra forma de amor, o que te torna um ser desumano e digno de pena. 




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Tá rolando no twitter o #diacontrahomofobia, não vi hora mais propícia pro meu desabafo. 

21 de abril de 2011

Do que eu sou, do que eu sinto: Muito.

Eu sou exatamente assim, assim mesmo: Mais do jeito que se sente, do que da forma que se enxerga. Aprendi a ser gigante no alto dos meus cento e cinqüenta e nove centímetros. E comigo carrego um coração, não dentro - porque não cabe, embora ele não caiba nesse mundo dentro dele cabe quase todo mundo. E se for sua vontade: que o mundo se acabe.
De mim sou majestade! Exijo que a vida saiba me levar, leve. De pesado bastam todos esses pesares que os outros carregam no peito. Em mim não cabe. Não! No meu peito não cabe dor. E se doer, que passe. Exijo que não me atropele. Não guardo em mim nada além de amor. Com calma levo esse andor de alma, acalme-se, criança louca.
Não sei me relacionar sem me doar completamente. Admito que às vezes isso faz doer completamente. Então pergunto: Se eu me doei a ti, de quem é a dor que há em mim? Tua. Leve embora. Leve ou pesada, carregue com você.
Sou poesia que não se prende (e nem se aprende na escola).
E se eu for barco furado, você vai remar mesmo assim por mim?

7 de abril de 2011

Bodas de papel.

Você lembra quem eu era quando conheci você? Um "eu" completamente diferente do que sou agora, meio do avesso e descompassado. Mas era e você viu isso. Viu com os olhos que a vida não sabia me enxergar, viu com os olhos o que o espelho não mostrava (para mim) até então. Não bastasse ter visto, você acreditou no que viu e insistia: Você é linda. Você é maravilhosa. Você é incrível. Você é a mulher que todo homem procura e eu tive a sorte de encontrar. Você dizia. E quanto mais insistia, mais eu me escondia: de quem? por quê? até quando? Você não sabia, não sabíamos. Então quando viu que eu tinha medo era da claridade, você segurou a minha mão e ficou ali comigo, no escuro, conversou comigo, me fez promessas. Mais do que qualquer coisa, você me abriu os olhos e me salvou de quem eu era, de quem eu queria ser. Passado. Não importa, sou grata. Você me deu a melodia da sua risada quando tudo o que eu escutava era o medo, você me fez crer no tempo e dizia que só ele resolveria o nosso caso. Você conseguiu me fazer acreditar.

É quase como se tivesse me libertado do castigo em que eu mesma me coloquei, uma auto punição severa da qual não me veria livre sem você tão cedo. Você foi herói, apesar dos erros. Você foi o príncipe, apesar das ausências. Você foi o amigo, apesar das grosserias. Você foi o ouvido, apesar do silêncio. Você me leu, mesmo do avesso e me alcançou no fundo de mim. Você foi longe por mim. Você me fez rir e me fez desejar. Você fez com que eu me sentisse desejada. Você deu pra mim o maior presente que uma mulher pode querer: sentir-se amada.

E conjulgar tudo isso no passado não é gostoso, mas foi minha escolha.

E de você ficou os muitos ensinamentos, as ligações que não acontecem mais na calada da madrugada, no silêncio do que fomos e a saudade, nessas bodas de papel que nunca se completaram. Mas, que talvez seja errôneo dizer que nunca se completarão.


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Postando diretamente do trabalho numa folguinha que eu tive aqui. Não podia passar em branco, não podia. :)
E quanto ao carinho de vocês, prometo retribuir! Em breve.

Beijos,

Pequena.

27 de março de 2011

Deusa de mim.

            Compenetrada em seus pensamentos inóspitos buscando a concepção do que é incompreensível, ali estava ela. Lara, Uma viagem em quatro letras, duas sílabas que não poderiam ser traduzidas nem por todas as outras sílabas existentes em todo o universo. Dizem-no de origem grega, onde quer dizer – A Deusa do silêncio eterno. Contudo, discordo. Talvez, para ela coubesse um nome que quisesse dizer - A Deusa das palavras sábias. Doce e ousada, sábia e leal. Poderia eu, até indicar ela como um sinônimo de Lealdade. Não indiquei ainda porque nunca me perguntaram, apenas por isso. É preciso deixar claro, sempre claro. Como a luz dos olhos dela, como a luz que ela emana. Traz paz a mim, sim. O cabelo negro e liso escorria pela face meiga e o sorriso que fazia sorrir (não naquele momento, pois nesta hora ele inexistia), os olhos de um profundo azul varriam mentes e mentes buscando as sementes do que viria a ser, seria? Não dá para saber. Eu queria entender. Incomodava-me o fato de que ela parecia agora desejar fazer jus ao seu nome, parecia que ficaria ali, no silêncio eterno, sempre. Fiz de tudo, eu juro que tentei ser notada, até que cedi. Entreguei-me ao tédio que era folhear todas as revistas, fazendo um barulho completamente desnecessário só para, talvez, quebrar o possível transe em que Lara se encontrava. Uma página colorida e fútil qualquer prendeu instantaneamente a minha atenção, até que a voz dela recobrou minha consciência:

- Que quer dizer “Muito Gente”?

            Reconheço que engoli seco. Como eu responderia? Definição de “muito gente” não estava no dicionário, eu sabia o que era ser, mas não descrever o que seria. O meu silêncio buliu a Deusa do silêncio eterno e ela voltou a repetir a pergunta, nunca se deu por vencida e não seria meu silêncio que a venceria. Sorri cautelosamente, era evidente que possuir apenas a ausência da resposta incomodava-me de forma extraordinária, titubear não fazia nem um pouco o meu tipo. Gostava – assim como ela – de possuir todas as respostas na ponta da língua. Os meus olhos em questão de segundos varreram o ambiente na busca de algo plausível, tentativa essa vã e obtusa. A verdade é que eu não sabia como dizer que não sabia dizer o que era ser muito gente, ou sabia e apenas não queria. Dar o braço a torcer é uma coisa que eu só faço quando não há outra alternativa, portanto a segunda alternativa deve ser a mais provavelmente correta.

- O que quer dizer com isso? Ser muito gente é apenas ser muito gente. Você sabe.

- Se soubesse, não estaria perguntando. Isso é tão óbvio.

            A resposta dela veio como um tiro e quem morreu foi eu. Era ululante que ela não se calaria a menos que eu fornecesse uma resposta digna. A altura do meu ego. Bem feito para mim, não sou a senhora de todas as coisas? Possuidora de todas as razões? Parabéns. O mais engraçado de tudo – se é que alguma graça conseguiria cortar a tensão do momento – era que ela falava com uma propriedade assustadora. Como quem interroga um alguém que já fora condenado. Teria ela condenado-me ao desgosto que é não possuir a resposta que me pareceria em qualquer outro momento tão óbvia?  Não sabia explicar, não naquele momento. Foi quando os braços de Lara se abriram, como asas querendo causar em mim o aconchego que só o abraço dela costumava trazer. E ser muito gente, estava mais ligado as ações e emoções do que as explicações e palavras. Ser muito gente era compreender, sem delongas, que viemos ao mundo para somar e não dividir, perceber que o outro é tão importante quanto você e amar como se o amor fosse a única salvação do mundo, o amor próprio, o amor ao próximo, o amor a todas as coisas. Ser muito gente é saber ouvir, saber falar e saber calar, tudo em seu devido momento. Ser muito gente é admitir que não sabe tudo isso, mas que está, pelo menos disposto a aprender. Ser muito gente é se preocupar, é chorar, sorrir, é cantar, gritar, dançar... É abrir o jogo sempre que sentir vontade. Ou para resumir, simplificar e facilitar tudo, bastava dizer apenas que ser muito gente era ser exatamente como ela era. Mas, não era necessário. 
Para minha Doll, com todo amor do mundo.
p.s.¹ E não, o nome dela não é Lara. Mas, baby isso é quase ficção
p.s² DEEEEEEZEMBRO! *-*


4 de março de 2011

Quentes, por favor.

Eu cheguei um pouco atrasada, falta de educação, eu sei. Mas, para minimizar o tédio que é esperar, enviei uma mensagem para ela. Minha amiga de longa data, a gente quase não se vê, a vida é assim mesmo, te separa – quando você menos espera – de quem você menos espera. Sabe aquela pessoa que você confia de olhos fechados, mas no entanto, algumas vezes você esconde segredos porque sabe que ela tem verdades indelicadas que você não quer ou não está pronta para ouvir? É ela. Acho que sou um pouco grandinha demais para classificar alguém como melhor amiga, mas no Hall das grandes, está ela. Firme e forte desde os meus seis anos de idade.
Quando eu entrei na cafeteria a vi sentada num canto, parecia inquieta com meu atraso e foi só me ver que sorriu feito boba, notei nos olhos dela um segredo gritante, que ela parecia querer esconder. Não era um dos meus melhores dias, mas eu não pude conter o sorriso também. Cheguei à mesa e ela pôs-se em pé diante de mim e me deu um abraço, tive a sensação de território seguro – aquele mesmo que ela sempre foi, desde que entrou na minha vida. Assim que nos separamos eu joguei a minha bolsa sobre a mesa e me sentei, em frente a ela. O garçom se aproximou apressado e quis anotar o meu pedido, perguntou se eu já tinha escolhido, como velha conhecida daquele lugar, pedi o de sempre:
- Um café, bem quente.
Ele me olhou como se perguntasse se eu queria mais alguma coisa. Não me lembro de ter sido atendida anteriormente por ele, então eu sorri e agradeci, com a fina educação que recebi quando pequena. Eu pensei e quase disse: “Um amor tão quente quanto, faria bem. Você tem um que possa durar pra sempre? É só. Obrigada!”, mas não disse, parecer louca para desconhecidos é uma coisa que eu sei fazer muito bem, só não me sinto a vontade. E ela, do outro lado da mesa pareceu ter lido o pensamento, quando perguntou com um sorriso que dizia: “eu quero te contar, eu vou te contar, mas deixa eu fazer charme antes!”, parecia mais linda do que nunca e sua voz era tão suave, como quem alcançou a felicidade que tanto buscava – e merecia:
- E o coração, amiga? Como vai?
Quase me levantei da mesa e me retirei do recinto. Eu hein? A pergunta dela intensificou o frio e não era eu que parecia sentir, sem contar os funcionários da cafeteria, não havia ninguém sem casaco ou um moletom que fosse. Eu sorri sem graça, já tinha sido grosseira o bastante ao chegar atrasada, sair e deixá-la falando sozinha seria o ápice da falta de educação que eu nunca tive. Então eu peguei o copo de água sem gás que era servido de praxe para limpar o paladar – amargo? – e depois limpei a boca com um guardanapo de papel. Acho que ela entendeu e se incomodou com meu silêncio, apenas pegou o celular que tinha acabado de vibrar sobre a mesa e sorriu amarelo, ela ainda esperava uma resposta. Então eu dei:
- Batendo porque essa é a única opção. Mas, desisti do amor... – e então eu ouvi uma voz dentro de mim gritar estridente: Mentira, você não desistiu!  E eu continuei, ignorando-a. – Você sabe, nunca funcionou pra mim.
- Não sei como você pode dizer isso – ela disse desacreditada – você sempre foi a mais romanticazinha de todas as minhas amigas. Sonhava com o príncipe encantado!
E ainda sonho, quis responder. Mas, ultimamente busco transparecer mais uma mulher forte do que qualquer outra coisa. Não sabia o que dizer e neste instante pus a me observar o ambiente, num giro de 180º com meus olhos atentos, algo me dizia que não adiantava tentar prosseguir, não convenceria, ou melhor não a convenceria.          
- Você tem notícia da turma do colégio? Nunca mais vi ninguém.
Ela percebeu que eu não queria falar do meu pseudo coração de pedra e deu corda pra eu me enforcar:
- Eu vi semana passada o Pedrinho, lembra dele?
- O senhor Brownie?
- O senhor seu primeiro amor.
Minha vontade naquele instante foi não só sair daquela mesa e daquele lugar, como também me jogar na frente do primeiro carro que visse. Ela sempre me zoou com essa história maluca. O japinha da primeira série.
- Meu primeiro amor? Eu tinha 7 anos, não sabia nem o que era isso.
- Mas, você o paquerava.
- Paquerar eu paquero o eletricista, o cara do meu escritório. Mas, amor... amor é mais que isso. Muito mais. – Eu sabia que se eu negasse seria pior – E então, como ele está?
- Ué, tá preocupada por quê?
Ela adorava me tirar do sério.
- Quem disse que eu estou preocupada, céus? É só uma pergunta boba pra continuar conversa.
- Ele está lindo. Acabou de chegar de Madrid.
Eu olhei pra fora e senti um frio que estava dentro de mim. Como se faltasse algo. O garçom veio e trouxe nossos pedidos, o que ela havia feito antes – capuchino, tem coisa mais doce? Coisa de quem tá amando, presumi. E o meu café, mais amargo do que doce e quente, muito quente. Beberiquei rapidamente e senti o líquido quente rasgando de imediato as minhas entranhas. E só depois de alguns minutos percebi que a nossa respiração era a única coisa que cortava o silêncio da nossa conversa. Ouvia-se outras conversas, outros amigos em reencontros e alguns profissionais cumprindo agenda em reunião, mas tudo parecia bem distante. Tais quais meus pensamentos.
- Ei – disse ela querendo me trazer de volta pra terra – o que foi?
- Nada, - respondi, eu não tinha resposta mais exata. – só estava longe, nos meus pensamentos. – e o celular dela vibrou outra vez. Curiosa, eu perguntei – você não vai responder?
- É só o Guga, dizendo que tem algumas reuniões importantes hoje. Mas, que amanhã a gente já pode ir viajar. Sabe como é, né? Carnaval.
- É, eu sei. Você sempre festeira. – Essa não era a resposta que eu queria dar. Que tal um: É, eu sei. Vou pra edredons, já que para lençóis estará frio demais.
- Conseguimos um pacote pra Olinda, já ouvimos falar muito bem de lá. Vamos conhecer. Por que você não vai com a gente?
“Porque eu não tenho namorado, hm”. Foi o que eu pensei, mas não disse.
- Tá bem em cima da hora, não dá.
- É, isso é.
- Vou ficar aqui mesmo, família, amigos e chuva. Bem propício.
Fui irônica e arranquei mais um sorriso bobo dela. Sentia saudade da companhia. Ela, que não sabia ficar quieta emendou:
- Mas, ia ser legal. Lugar novo, gente nova, amor novo.
- Você é maluca? Não sou nem louca de arrumar um namorado no carnaval. Até porque, quem vai pro carnaval solteiro quer voltar solteiro. Com alguns nomes a mais na agenda telefônica, mas solteiro.
- Pelo menos você beijava na boca.
- Urgh! Trocar bactérias com desconhecidos nunca fez minha cabeça.
- Ai, como você é careta...
- Ou você que é maluca?
- Nunca neguei, mas pelo menos você queimava umas calorias e ficava feliz, de sobra.
- Tá me chamando de gorda é? – sabia que não, mas era melhor estar certa.
- Nunca, você é linda. Mas, mulher tem dessas paranóias.
- Falou o homem da relação, - descontraí – Enfim. Tá tudo certo no namoro? Tá com quanto tempo?
- Dois meses e meio. To adorando.
- O Guga é aquele que estava com você no show da virada, na praia?
- Hm, é sim.
- Eu lembro dele. Simpático, gostei.
- É.
A conversa parecia cada vez mais sem pé nem cabeça, o que fazia o vazio em mim aumentar. Estava me dando conta de que vestir uma armadura para parecer alguém que eu não era, não me fazia feliz. E sim, fazia eu me sentir cada vez mais desconfortável e vulnerável. Me dei conta de que a minha felicidade consistia naquilo que eu lutava contra naquele momento, pelo menos por fora, me doar e me doer. Não queria parecer disponível, ao alcance do toque do próximo, do amor do próximo. Queria parecer intangível e estava sendo, até para a felicidade.  Continuamos conversando por mais alguns longos minutos, até que eu tive de voltar ao trabalho, nos despedimos e ela me orientou que era bom eu tomar cuidado, que todo mundo que vivia ao meu redor era apaixonado pela pessoa que eu sempre fui, intensa. E que talvez, eu pudesse estar deixando a felicidade escapar pelas minhas mãos. Eu sabia de tudo isso, só não queria ouvir. Dei voltas e voltas para não chegar no assunto que doía feito ferida aberta, que eu mesma tinha criado. Às vezes a gente veste uma armadura que não nos pertence para entrarmos numa guerra que é nossa e desta forma, ferimos a nós mesmos. Lutando contra os princípios, os mais importantes, que estão na nossa essência. Eu me dei conta. Não adiantava fingir que não tinha coração ou que ele era de gelo porque me decepcionei outras vezes. Eu tinha um coração sim e ele deveria estar sob os meus cuidados, ser ignorado como fiz por algum tempo, não resolvia nada. Só tirava a dor do foco, mas sozinha na minha casa, eu sabia o quanto sangrava e o quanto doía. Quando entrei no carro, dirigi em silêncio por algumas avenidas e de repente vi uma pichação que parecia ter sido feita para mim, ou por mim. Para me acordar: Um café e um amor, quentes por favor. Como num estalo ouvi Renato Russo cantando pra mim: “Como um anjo caído fiz questão de esquecer que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira.”

30 de janeiro de 2011

            Infinito, pensei. Assim mesmo: o oito deitadinho na cama da eternidade a espera de tanto sempre. Todo sempre. Por via das dúvidas é melhor deixar claro, não? Assim como eu deitei na curva do seu ombro aquele dia, ficaria uma eternidade ali e se fosse possível até duas ou três. Entretanto, eu não pude. As coisas não são tão simples como deveriam, embora às vezes sejam muito mais simples do que parecem. Eu sei que não parece fácil e se você quiser, eu posso explicar: Nada na vida é unanimidade. Certas coisas são simples e essas a gente costuma complicar, porque o ser humano nunca está satisfeito com coisa alguma e outras coisas são realmente complicadas, enlouquecem-nos e no fim, costumam valer à pena. Agora eu te pergunto: Por que tanto mistério a cerca do sempre e do nunca? Do tudo e do nada? Vou dizer o que eu penso e por sua vez você tem o direito de pensar também, mas é difícil você mudar a minha opinião.         
            Sempre é uma promessa e como na maior parte das promessas raramente são cumpridas. O sempre é passageiro, o sempre é uma contradição que sai de nossas bocas quando a felicidade é quem te leva à diante. E quando é que você deixa de descumprir o sempre? Quando o nunca entra em ação. Olha só, quanta incoerência! O sempre é bonitinho para se colocar na estante, como bibelô, enfeite. Na prática não funciona, na vida real ele empoeira, se quebra ou simplesmente acaba a pilha e é deixado de lado, trocado pelo seu mais novo brinquedo: o nunca.
            Nunca é uma palavra que nossas bocas parvas nunca deveriam dizer. Deveriam ignorar, com raras exceções. No meu caso só digo nunca em momentos de extrema raiva, quando o que domina o meu corpo não sou eu, é ela. E depois me arrependo. Digo nunca mais e daqui a pouco faço outra vez. Nunca é mais incerto que o sempre, nunca é o vão entre dois abismos que as pessoas se jogam no momento em que são tomadas por uma insanidade passageira e depois, quando voltam a si há uma corda que as puxam de volta para o território (in)seguro.
            Tudo. Sacana essa palavra que em tão pouco espaço, duas sílabas e um biquinho que querem dizer tanta coisa, que querem dizer tudo mesmo. A união do sempre e do nunca, do vão e dos abismos, do medo e da coragem, da mentira e da verdade. Tudo. Meu escudo para acreditar no que eu quiser, porque se eu quiser, tudo existe, eu só preciso acreditar, com bastante força e lutar, com muita coragem. Tudo é difícil, mas é tão bonito.
            Sobre o nada, pouco tenho a dizer. Ouvi uma vez que nada é uma palavra esperando tradução. Para mim, nada é abstrato demais e tão pequena quanto tudo e nada quer dizer, ou quer dizer o que tudo não sabe ainda que é dele. Nada fica bem na estante, na rua, no carro e quando você se cala, porque você nada tem a dizer. Vai dizer que é inútil? Você está errado.
            Agora, ou sempre, ou nunca não sei: O infinito é tão bonito. É abstrato na medida certa. Eu não toco, você não toca e por isso não entendemos e nem por isso ele é complicado. Ele é tão grande que não cabe na estante e por isso não fica empoeirado, não sai de moda nunca mais, não é uma coisa pra você sair dizendo por aí, você não sai dizendo: “Vai ser infinito”, porque você não pode dizer. Infinito é uma espécie de desejo, lembra do Vinicius de Moraes? “Que seja infinito enquanto dure”, infinito está além de nós, como um ser supremo que nos escolhe para brincar de eternidade.
            Será que fui escolhida?