Enlouqueci-me. Não, não houve nenhum diagnóstico
onde um especialista me certificava de que eu estava louca, no entanto,
aconteceu. É tão delicada a linha que separa a sanidade da insanidade e eu nem pude
perceber – o exato momento em que ela – se apagou. Porque na verdade não, você
não fez pergunta alguma pelo simples motivo de que você já sabia de tudo. Então
eu arrumei mecha do meu cabelo que caiu sobre os meus olhos e tampava de uma
maneira tão deseducada a minha visão de você. Naquele momento eu não sabia se
era uma visão boa ou ruim, minha capacidade de discernir as coisas já havia
sido afetada, ainda agora eu não sei, mas era uma visão de você. Os meus olhos
negros te olhavam aliviados, não mais tão tristes apenas com uma profundidade
que chegava ao desconhecido de mim, quietos, como quem já viu muito e não quer
dizer mais nada. Somente mergulhavam no oceano silencioso das minhas águas,
negras também. Eu pedi para você afrouxar a sua gravata e você o fez, sem me
questionar, embora eu tivesse resposta para te fornecer: ela de uma forma que
eu não podia entender me sufocava. Meus dedos, sem as mordaças do que é certo
ou errado, moviam-se lenta e carinhosamente pela sua face, a ponta deles tocava
com cuidado a barba que estava por ser feita e os seus lábios sorriam como se
soubessem – e eu tenho a impressão que sabiam – que eu tinha enlouquecido. Eu acho que quem me enlouqueceu foi você com o
seu silêncio que dizia tudo o que eu queria escutar e eu calava respondendo
tudo o que você queria como resposta e acho que enlouqueci justamente por não
me importar em responder o que não era perguntado e assim, calados, eu tinha
com você o diálogo mais interessante de minha vida inteira.
2 comentários:
Ah, que momentos são esses de silêncio completo onde tudo pode ser dito mesmo sem nada dizer?
Linda essa tua insanidade, pequena. Saudades daqui! :)
entendo completamente esse momento... às vezes são os mais sinceros, né? xD
bjussssssss
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