25 de dezembro de 2010

02:07 a.m.

Um brinde aos meus bons amigos que estão de malas prontas, um brinde aos velhos amores que estão sendo velados sem lágrimas, um brinde ao que se perdeu por puro desleixo e um brinde também - e principalmente - ao que ganhei enquanto piscavam meus olhos. Para que - ou quem - brindar senão ao acaso? Não sei, será? Se não fui, se não foram ou se virão, verás, brindaremos também. Histórias e desafetos, risadas e vinho tinto, seja bem vindo, meu bem, ao Clube do Desapego. Senta, mas eu aviso: Não terás tu tempo para descansares, o novo sempre vem e derruba, deixa o velho para trás, ele não se importa se foi bom ou ruim: "O velho fica!", diz o novo em tom autoritário, no entanto, não diz onde deixar o velho, então você sempre faz como bem entende: Na memória? Talvez. Mas, pode e provavelmente irá atormentar-te, experimenta deixar o velho em seu lugar, numa caixinha enfeitada, com letras bem bonitas:  P A S S A D O.
O novo não chega se o velho não sair, só de birra, vai embora. "Não tenho mais tempo para assistir". Já viu esse filme tantas vezes, pobrezinho. Ele, por sua vez, também fica velho e entra pra história - esta que será contada em pouco tempo no Clube do Desapego. Um conselho? Cuide para que você não sinta um arrependimento ao contar essa história, você só tem essa chance de fazer diferente e deveria usar como se fosse a última, e se for? Você não vê. Talvez estivesse ocupado demais vestindo o terno das tradições, tomando o chá do bom conselho e comendo o biscoito da sorte.
Diga-me, para que lhe servem essas asas se seus pés não querem sair do chão? Poupe sua voz e seu corpo em encenar outra vez a mesma história, nesse palco o diretor nunca avisa qual é o ato final porque ele quer que você brilhe - igualmente - em todos os momentos e seja ovacionado. É preciso equilíbrio e paciência para encontrar o tom certo, para chamar a atenção da melhor forma. Você não é a única estrela, mas saiba ser único de alguma forma, cuide-se para que não te ofusquem e cuidado para não ofuscar, há de fato espaço para todo mundo, mas é preciso que você encontre (e ofereça, obviamente) o seu melhor. E é isso que farei questão de aplaudir.

16 de dezembro de 2010

Sobre manhãs e tardes sem você.

            Às vezes eu fico olhando pros papéis brancos, pras canetas pretas e pro céu azul e tenho uma vontade imensa de escrever pra você, uma carta onde eu diria tudo o que eu deveria ter dito antes de você partir. Então, eu começo a me questionar: “Por que não fiz isso antes?” e nenhuma resposta chega, pelo mesmo motivo, não escrevo de novo, de novo e de novo. Eu me sento no sofá, estico as pernas colocando-as sobre a mesa de centro, pego o controle mudo de canal umas quinhentas vezes e às vezes tenho até vontade de acender um cigarro, será que um cigarro na boca ou entre os dedos resolveria meu problema? Não, eu sei que não. Acabo me irritando e desligo a televisão, saio pela porta e dou de cara com aquele céu tão, mas tão azul que me dói os olhos – e se fossem só os olhos, tudo estaria muito bem -, a alma também dói.
            Ainda não inventaram nenhum anestésico pra alma, algo que você aplica na veia e sente a dor ir amenizando-se, pouco a pouco até ser completamente sanada. Ainda não inventaram algo ou alguém capaz de substituir qualquer pessoa que você perdeu. Ainda não inventaram ninguém que esteja a sua altura. E enquanto não inventam eu fico aqui assistindo o céu perder a cor, vejo dias chegarem e partirem e a dor que eu carrego comigo continua aqui, tende a aumentar mais e mais a cada dia. Agora me diz: De quem é esse problema? Todinho meu. Ninguém se importa se você se foi, ninguém se importa se o melhor irmão do mundo não está mais entre nós, se os meus braços não são mais suficientes para te abraçar e minha voz não pode alcançar os seus ouvidos. Então, se eu apertar meus braços contra o meu peito eu posso te apertar lá dentro? Porque de lá você não sai, não sai mais não. Se eu fechar meus olhos com muita, muita força eu posso ver você sorrindo dentro de mim?
            Permaneço na ânsia de saber se algum dia eu conseguirei me perdoar por não ter estado ao seu lado, por não ter impedido de alguma forma. Eu poderia quem sabe ter tentado uma última vez, eu poderia ter lutado mais um pouco, eu poderia. Não importa, Sê, não importa se os meus braços já estavam suficientemente cansados, eu ainda queria te abraçar, eu ainda queria remar por você e pelo seu barco furado, eu ainda podia, eu ainda faria isso por você. Nada e ninguém teria força pra me impedir, só você. Mas você não tinha esse direito, não tinha! Você deveria ter me dado a oportunidade de dizer que aquilo era a pior merda da sua vida, de novo. Você deveria ter me deixado te abraçar, só mais uma vez. Você deveria, era sua obrigação de irmão.
            Eu sei, eu sei. Agora não adianta mais nada, é melhor eu calar a boca, não é? Mas, se eu me calar vai adiantar alguma coisa? Os meus olhos continuarão vermelhos, inundando qualquer ambiente que me lembre você. Só os seus pulsos não doem mais, mas o meu corpo dói inteirinho. Por fora e do avesso, todas as vísceras, todos os cantos, todas as dobras, tudo. E nada do que eu faça dará um jeito nisso, posso viajar até pra Alemanha que isso não vai passar, Paris está fora de cogitação. Mas nada, nada vai doer mais do que sentar num gramado e ver o céu de Brasília todinho sobre mim, pesaria tanto nos meus ombros, doeria tanto, tanto que eu não sei dizer se posso aguentar.
            Agora eu olho pra tudo que fica ao meu redor e aos poucos as lembranças que eram suas vão se perdendo, aos poucos vão se findando e o que eu vou fazer quando não restar mais nada material? O bilhete de papel cada vez mais amarelado e aos poucos aquele “de quem te ama mais do que tudo” vai sumindo, será que é a promessa se quebrando? Será que onde você está, para onde você foi, você conseguiu outra coisa para amar mais do que a mim? Essa ideia fica cada dia mais insuportável, mais dolorida, mais amarga. Verdade ou ilusão? Véu de qualquer porcaria? 
          Eu queria tanto você aqui comigo agora, eu queria que fosse mentira, que um dia você aparecesse e dissesse rindo da minha cara de pateta: “Era brincadeira, Kleine, eu não morri... continuo aqui por você, pensei melhor”. Eu só queria isso e o pior, o pior é que eu sei que é pedir demais. Eu sei que infelizmente não dá pra voltar a fita, que eu não posso tentar de novo por você, que não há uma segunda chance, que nenhum apelo que eu faça aqui ou acolá terá alguma serventia.
            Só que se coloca no meu lugar, só tenta se colocar no meu lugar... Você era meu melhor amigo, eu confiava em você, desejava seu bem e lutava por isso, fazia absolutamente tudo que eu podia, é verdade que não era muito, mas era o que eu podia e de repente tudo se esvai pelo vão dos meus dedos sem eu poder fazer mais nada. De repente tudo acaba e eu não tenho uma explicação palpável, plausível. Nada do que eles me disserem vai me satisfazer, entende? A menos que eles digam: Calma menina, tudo vai ficar bem. E dentro de alguns poucos instantes fique tudo bem mesmo. Eu não acredito mais nas pessoas, eu não posso mais acreditar nelas. Você prometeu que estaria comigo pra sempre e agora, quando eu mais preciso (o tempo todo) você não está.
            Você se lembra como eu era forte quando você estava comigo? Eu podia aguentar qualquer coisa, meus braços eram grandes o suficiente pra abraçar o mundo e agora? Agora eles se cruzam apenas diante de mim mesma e eu não faço nada, eu não posso fazer nada. Eu não posso mais aguentar o peso do universo sobre os meus ombros e agora o universo não é mais apenas o meu problema com meu pai. O universo é cada vez maior, cada vez mais honra o seu nome.
            E eu tenho a impressão de que tudo seria mais fácil se eu pudesse te contar tudo, se eu pudesse abrir minha vida diante dos seus ouvidos como se abre para um diário. E que você me ajudaria a ver o mundo sempre com outros olhos, com os seus olhos. Eu penso que com você do meu lado eu poderia aguentar qualquer coisa, só porque você ia me dizer pra aguentar só mais um pouquinho e mais um pouquinho e mais um pouquinho, até passar. Era isso que você fazia o tempo todo. Você me fazia forte, eu lutava um pouco com os seus braços quando os meus estavam cansados.
            Era só isso que eu queria fazer por você. Só isso. Só queria deixar você ver com os meus olhos, pensar com a minha cabeça e enfim, lutar com os meus braços. Se isso fosse útil pra você, eu poderia fazer. Juro.
            Eu aguentaria facilmente você do meu lado, qualquer coisa com você do meu lado, olhando nos meus olhos, dizendo que eu poderia aguentar só mais um pouquinho, só mais uma vez, porque você dizia, eu me lembro de você dizendo: “Você é forte” e eu me lembro da forma como você me amava por isso.
            Não sou mais tão forte agora, ou sou forte de uma forma que eu não perceba. Porque as pancadas já não doem mais, estou anestesiada de uma forma que não dá pra contar nas cartas, explicar nos versos ou rabiscar a prosa. É por isso que não mais te escrevo. Só te amo, irmão.