12 de março de 2009

A carta que eu não deveria ter escrito (mas escrevi).







A começar, escolhi esse papel porque eu te conheço a tal ponto que sei que você não gosta das folhas desenhadas, branco é simples e simples pra você é tudo. Talvez por isso não tenha dado certo, eu sou complexa. Complexamente complexada. Chega a ser ridículo você dizia nos momentos de raiva. Agora que somos dois, quero te dizer que eu odiava sua mania de mascar chiclete enquanto conversava. Me irritava e me irrita ainda. Mas eu gostava tanto de quando você apertava as minhas mãos enquanto nós íamos pra qualquer lugar.
Ah, mudei meu telefone. Não adianta ligar durante as madrugadas, eu não quero ouvir sua voz amarrotada dizendo que não ia conseguir dormir mais sem me ouvir. Não durma, oras. Ou então fica falando com a minha mensagem pessoal da caixa postal do celular, ele eu não troquei. Afinal de algum modo quando a saudade apertar você vai ter que me encontrar. Dizem que nada é para sempre, será que os fins são eternos?
Agora sinto que posso falar todas as coisas que senti vontade e não falei quando você era meu. Parece que se eu falar não vai te machucar agora. Sempre morri de medo de machucar alguém e você sempre pareceu tão frágil, eu tão frágil, você tão frágil. Caímos no chão e nos quebramos, partimos em dois. E eu achava que você era minha alma gêmea. Agora acho que isso não existe, ou que a minha fugiu. Ela acha que ela é auto suficiente.
E você também se acha auto suficiente. Vivia coberto de tarefas e achava sempre que poderia fazer algo mais, quando não conseguia? Você se lembra o que fazia quando não conseguia? Agia feito um menino mimado e pedia ajuda pra mim.Queria que eu te ajudasse e pedia pra que eu fizesse boa parte, então agora que somos separados fique atento. Você não é capaz de fazer todas as coisas do mundo ao mesmo tempo, só eu sou capaz de ver novela, preparar o jantar, conversar com a mamãe, ouvir você e cuidar da Pety! Aliás, Pety está muito bem. Levei-a ao veterinário semana passada e ele disse que está tudo ok.
Quando eu te encontrar com certeza eu vou querer fugir, mas eu queria tanto aquele meu brinco de argola que esqueci no seu carro. Até pediria pra você me mandar pelo correio se não morassemos no mesmo edifício. Mas sabe?! Eu não sei o que eu seria capaz de fazer se eu pegasse alguma baranga no elevador usando ele. Juro que se isso acontecer um dia eu nunca mais olho pra sua cara. E você perde o direito de visitar Pety, minha filha (ok, nossa cachorra) aos fins de semana.
Você foi ao dentista como havia me prometido? Está se virando com as compras do super mercado? Está sentindo que Izabel (nome infeliz para a sua secretária) assinou literalmente sua lei Áurea pra você poder jogar futebol as quintas, sextas e sábados? E ela beija bem? Ah, que nojo! Não sabia que você gostava de mulher vulgar.
Acho que é só. Se responder essa carta, é porque recebeu e se recebeu é porque eu perdi toda a vergonha que me restava e enviei. Mas se responder não me chame por apelidos.
E não, Mathew. Eu não te amo. E não eu não vou te encontrar na doze semana que vem.

Mil beijos, Letícia.


Um comentário:

Anônimo disse...

A Letícia deveria aparecer mais vezes. Ela é quase tão talentosa quanto a Joyci. ;)
(L)