Entra, deixa do lado de fora os teus sapatos e as tuas mentiras. Entra, mas bota pra fora toda essa verdade que anda tão apagada e escondida. Faz da minha casa a tua morada, o lugar onde você descansa essa tua alma tão calejada, tão cansada. Eu seco teu pranto, te cubro com manto de paz, te aceito com a condição de que você jogue todas as tuas mentiras janela a fora, mar adentro. Cansam-me esses teus sorrisos falsos e sem nenhum brilho, até sua tristeza pode me comover mais que isso. O encanto doce que a realidade pode ter, pode sim! É só você querer, tenho querido tanto e você, quer?
Não promova mais nenhum show com personagens de mentiras, recuso-me a conhecê-los, ainda se você acreditasse neles. Se não acredita, porque ainda insiste, persiste nessa mentira desvairada, na sua cara deslavada com essa sede desenfreada pelo que parou no tempo passado?
Te envolvo no meu abraço, te dou o meu sorriso e vendo todas essas fantasias podres que você custou a se livrar. Ofereça tua outra face se quiserem te bater, exponha sua alma e sinta o cheiro da essência que o teu calor emana. Se é teu, por que tens medo? Te direi que essas fantasias da dor não servem para nada, sofrer pelo que virá a ser não adianta, não ameniza tampouco cura essa dor que você inventou, só aumenta, como um dedo enfiado na ferida que sangra e se abre mais.
Entre na dança, baila comigo. A noite começou e não pode terminar sem o brilho triunfal dos seus olhos depois da libertação. Você é tão livre quanto um pássaro, uma borboleta ou um sonho, mas você é verdade. A minha verdade.
Agora que você não ouve mais o canto dos malditos, nem a gravidade pode trazer você para baixo, para o chão. Cuida com carinho e paixão do branco sublime e brilhante das tuas asas, elas não estão mais presas e não serão cortadas. Não se assuste nem se convença com os que se aproximarão de ti, assim como você eles estarão sob o efeito da hipnose que sua voz causa e não entenderão coisa alguma, não te levarão embora.
Tira teu coração da estante, está empoeirado e cansado, ameniza a dor do velho com o agora sem pretensões futuras. O hoje bem vivido é o melhor presente que você pode se oferecer.
Odoiá! Seus cabelos de Iemanjá marcam tua vinda, o vestido azul, curto e bonito convida a menina dos meus olhos a entrarem na sua dança, seus movimentos de quem há muito aprendeu a voar, mas só agora saiu da gaiola. A alegria plena que a só a liberdade de ser o que se tem vontade pode trazer. Que só você pode se presentear. Júbilo!
O amargo do seu fel que sustentava seu inferno se faz doce porque a ilusão bate na sua porta, mas você a convida a se retirar. Aprendeu rápido a enxergar o que te faz bem! E eu de pé aplaudo não o que você foi, ou o que você poderia ser... Mas, o que você é!
Linda, bem vinda. Bem viva. Sejas viva, seja vida em mim!