AG/F.
Eu não te amo mais. Não com a mesma
pureza, inocência e plenitude que amei quando você me ensinou o que eu era
capaz de sentir por um alguém que não fazia parte da minha vida e da minha
família. Mas, me lembro com alegria das vezes que senti que o meu coração
poderia saltar pela boca apenas porque você estava por perto. Como é doce a
inquietude de um primeiro amor. Talvez isso explique o carinho que ainda nutro
por você e a vontade de te abraçar cada vez que me sinto insegura. E também, a
falta de coragem de matar você de vez, dentro de mim.
Quando ouço falarem de amor, da boca pra
fora digo que esse tipo de coisa não existe, mas na verdade, penso que gostaria
de ser agraciada outra vez com um sentimento tão verdadeiro. A minha estratégia
de defesa favorita continua sendo a armadura, a cada decepção deixo que ela me
cubra na tentativa de não me machucar mais uma vez, afinal, nunca é tão simples
curar ferida.
Peço desculpas se, depois de tanto
tempo, ainda sou capaz de guardar tanto do que fomos, acontece que como posso
não tomar como referencial quem foi o meu primeiro amor? Aprendi muito e sofri
na mesma proporção. Não sou cínica a ponto de dizer que não há mágoas, ainda
não consegui te perdoar por abrir mão de tudo sem me fazer entender as suas
escolhas, você me conhece bem e sabe perfeitamente que meu orgulho jamais seria
capaz de permitir que eu pedisse para que você ficasse, apenas queria saber de
suas razões.
Na verdade, eu sequer tenho culpa se o
fantasma do que fomos vezenquando
ainda me assombra e me faz enfiar o dedo na garganta (ou na ferida) como agora
e dizer aquilo que nunca foi dito, ou pelo menos, não da mesma forma. E nesses
momentos encorajo a mim mesma a dizer coisas que nunca consegui. Talvez por medo,
por orgulho ou por uma mistura de sentimentos que não sou capaz de identificar.
Na espera de respostas que nunca
vieram, não de forma clara e coerente, muitas vezes pensei que a culpa de não
ter “funcionado” fosse minha, mas não foi. Você e eu sabemos bem. Se algum dia
sentássemos lado a lado eu sei que você só não me absolveria de toda a culpa,
pois seu orgulho é tão grande ou até maior que o meu. No entanto, hoje, depois
de tanto tempo eu sei que fiz tudo o que pude para ter você por perto, mesmo quando
não era possível. Só eu sei o quão grande foi o conflito entre razão e emoção,
mais do que isso, quão difícil foi deixar a razão vencer. Ainda depois de tanto
tempo, às vezes, me permito te esperar, como no meu aniversário, não para um
encontro amoroso ou coisa do gênero, mas para apenas ouvir você dizer qualquer
coisa no tom do seu humor ácido sobre como o tempo passou.
***
"Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás. Então eu pego o passado, e transformo em poesia-ou-coisa-assim."
(ABREU, CAIO F.)
2 comentários:
A quietude só existe no primeiro amor, depois o amor começa a ficar inquieto, é normal.
E o fato de tu guardares lembranças e carinho por ele, significa que ele representou algo bom pra ti.
Belo desenrolar do texto, adorei!
Beijo
Um amor nunca é esquecido. Podemos amar outras pessoas, mas àquele (a) que deixamos entrar em nossa vida sempre deixará o seu cheiro. Outro dia, pensando sobre isso, conclui que o amor é eterno sob essa medida.
Uma cicatriz é muito importante, ela nos faz lembrar que não só choramos, mas também sorrimos. Que nos permitimos viver, fizemos escolhas, nos arriscamos e acima de tudo que temos poesia dentro de nós.
Beijo, minha Pequena!
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