Era linda aquela jovem, tinha todos os sonhos do mundo dentro de si. Um sorriso que valia muito mais que diamante, um namorado que ela amava muito, uma família. Um dos seus maiores sonhos era ser mãe, apesar de ter criado uma sobrinha e amar muito a pequena, ela queria algo como sentir a vida dentro do seu ventre; bendita sois vós entre as mulheres. Ela e o namorado pensavam em se casar, tinham planos, tinham sonhos como todos costumam ter. Fora buscar informações sobre quais os procedimentos corretos para se ter uma gravidez saudável, ter um filho saudável e fazer tudo de melhor para aquela vida que ela esperava um dia ter, o que não esperava era que a medicina provou que ela não poderia ser mãe. Ficou chocada ao receber a notícia e aos prantos voltou para casa, o seu sonho havia sido destruído com palavras, um exame acabou com um sonho, com um pedaço dela que viria um dia.
Alguns meses depois outra notícia a surpreendeu. Ela estava grávida – Sim! Existia uma vida dentro dela, existia um sonho, uma fé. Mais do que depressa quis contar ao então amado que ela esperava uma vida e que ele também deveria esperar, esperar pela vida que ela carregava no ventre. Os exames que mostravam que ela tinha uma “laqueadura natural”, que acabara com as possíveis esperanças de ser mãe, talvez estivessem errados. Ou ali tinha acontecido um milagre, teria Deus Agido na vida da jovem? Eu creio que sim. O namorado não quis saber se era milagre ou não, para ele aquela vida não deveria continuar ali, a ordem foi: Aborte essa criança. Ele já não era tão jovem assim, tinha mais três filhos do casamento anterior e estava decidido, aquela vida não poderia mais continuar ali. Como se ele pudesse decidir, agir sobre a vida dos outros. Ela ficou chocada com a atitude do namorado e disse: Mate o seu filho mais novo, que eu vou lá e aborto. Estava cônscia de que ele não faria isso. E mais do que depressa ele respondeu: Não posso matar o Marcelo, isso seria uma crueldade! O fez sentir na pele o que ela sentiu quando ele pediu pra abortar. Pois bem – interferiu ela. – Eu também não abortarei, Marcelo já tem 18 anos; ele pode se defender, o meu filho não pode. Isso sim é uma crueldade. Se você não quer assumir, pode sumir da minha vida. E foi o que ele fez.
Cerca de 4 meses depois a vida dali quis sair. Quis conhecer o mundo que a esperava, queria ver o sorriso da mãe, queria poder retribuir aquele gesto de amor. A vida dela foi salva por amor. Era uma menina. A mãe enfrentou diversos problemas durante sua gravidez, médica falando que o bebê, da qual eles desconheciam o sexo, seria deficiente, não sobreviveria. Preconceitos por ser mãe solteira, filha adotiva acidentada e na cama. Entre tantas outras coisas, com 7 meses de gravidez a menina quis sorrir pra vida, sua mãe havia lhe concedido esse direito. Viver, ainda que talvez cheia de problemas. Não saiu, não havia ainda chegado a sua hora. Tão esperada hora.
Foi com 9 meses exatos, no dia 6 de junho de 1993 que essa criança pode vir ao mundo. Era um dia chuvoso, um domingo cheio de preguiça quando as 10h35min da manhã ouviu-se pela primeira vez aquela pequena dar glória por ter chegado, num choro manhoso. E o médico disse para sua mãe: Joyci Letícia chegou ao mundo, mãe! Era esse o nome se fosse menina não?! Sim, minha mãe me deu direito a vida. E lutou pra que eu pudesse estar aqui.
É por isso que eu digo que sou feita pro amor. Porque se ele não existisse, eu não estaria aqui hoje. Porque se minha mãe, minha guerreira, minha heroina não me amasse desde o primeiro instante que ela soube de mim, eu não estaria aqui. Eu não poderia falar de amor, nem de coisa alguma. É por isso que eu sempre canto pra ela: Se existo devo a TI meu respirar.
Quando eu fiz 7 anos de idade, eu perdi uma das coisas mais preciosas da minha vida. O meu avô, aquele que junto da minha mãe estava todos os dias ao meu lado, que me deu caráter, amor e fé. Que ocupou o lugar de PAI na minha vida. É, ele não deixou com que eu sentisse a falta disso. Ele foi meu pai, meu avô e é, ainda hoje o meu amor maior. Sem dúvida.
E ainda com 7 anos de idade, depois da morte do meu Pai, o meu pai do coração. Fui convidada por um tio meu para conhecer aquilo que biologicamente, por exames e sangue provam que é o meu pai, mas que não merece este título. Nem homem, o considero. Foi na inocência de uma criança que aceitei o conhecer, foi dentro de um bar que eu vi o meu pai pela primeira e (até hoje, graças a Deus) última vez. Ele me ofereceu doces e eu disse a ele que não, eu não precisava daquilo por que na minha casa, havia com fartura. Desde pequena, muito orgulhosa. Prometera-me uma visita que faria no dia seguinte e até hoje nada, mas não faz falta.
Um pouco depois disso, minha mãe veio a adoecer, eu me vi perdida. Acordava todas as manhãs e ia dormir pedindo pra que ela pudesse continuar viva e ficasse bem. Tive que aprender a fazer tantas coisas como num passe de mágica, tive que aprender que a vida nem era assim lá tão mágica como eu pensava. Graças a Deus ela foi melhorando gradualmente e ela continua do meu lado, cada dia mais guerreira.
Com 14 anos o governo colocou meu pai na Justiça e até hoje ele está sendo processado. É a justiça brasileira, lenta feito um caracol. Mas a justiça do cara lá de cima não tarda nunca, o que você faz aqui, você paga aqui. E no dia que ele precisar de mim, que eu sei que vai chegar eu vou contar essa história pra ele. E não vou ajudar, porque no que dependesse dele. Eu não existiria. E não adianta chegarem, como muitos já chegaram e dizer: Mas é aí que você tem que ajudar. Porque é sempre assim, falar é tão fácil. Ele tem de ser responsabilizado pelas atitudes dele.
E é por isso que eu digo:
E quando chega o fim de tarde,eu me invado de saudade daquilo que era bom. Dos sonhos de criança, do sorriso, da vida que era vivida sem medo de trombar na próxima esquina.
O problema é que eu nem percebi que a vida estava passando e eu nem vi, só vivi.
E toda vez que eu conto, lembro dessa história. Eu me lembro da minha metade alemã. Ah, Sebastian quanta falta você me faz! Quero sentir seu quase riso perto de mim... Porque eu te amo tanto, te amei tanto. Te quero do meu lado, que saudade daquela tarde em que eu ouvi de você: Depois eu acho que eu é que tenho problemas. E daquela outra frase que eu jamais me esquecerei: “De quem te ama mais que tudo na vida.”
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* A foto é um clic da Juliana Lohmann. ;)
Sem muitos enfeites porque estou com pressa!