26 de julho de 2009

Por não ser você...

Os medos, os defeitos, as atitudes, as qualidades, as particularidades. São coisas que definem uma pessoa e sua personalidade, a forma com que ela age referente as mais diversas situações que surgem em sua vida. Cada um age diferente, cada um tem um modo de encarar as coisas, um ponto de vista. E é justamente isso, que nos difere das demais criaturas, a capacidade de pensar, de interpretar os acontecimentos do dia a dia, da melhor forma ou não. Racionalidade. Mas nem sempre se pode ser movido pela razão. Existe um elemento 'x', in ou felizmente nós temos coração. Qual o melhor caminho a ser seguido? Entre a razão e a emoção, qual a melhor saída?
Se você está do lado de fora é muito fácil e até divertido fazer aquele tão famoso comentário: Se eu fosse você... Atualmente isso é algo muito visado, até pela sétima arte, com o filme: Se eu fosse você e Se eu fosse você II. E pelo programa de televisão transmitido pela Rede Record: Troca de Família.
A questão é, você acha mesmo que ser outra pessoa é realmente fácil? Você acha que se você fosse a Britney Spears (nada contra ela) você erraria menos? Você teria menos escândalos? Se você respondeu sim para todas as perguntas, meu caro. Vou te mandar um presente, uma daquelas camisas que amarram atrás, mais conhecidas como "camisa de força" muito utilizadas em manicômios. Porque apontar o dedinho para qualquer pessoa e falar: Você está errado, você é muito burro! É realmente muito fácil, mas quem é que vai arregaçar as mangas e falar: Você errou, meu caro! Mas eu posso te ajudar a fazer melhor, a começar de novo.
Certo dia eu li uma frase de Abraham Lincoln: "Só tem o direito de criticar aquele que pretende ajudar"
Então, meu caro. Se você não está disposto a ajudar outrém a construir um castelo, com as pedras que atiraram nele, não atire mais uma. Por que você nunca sabe quais as circunstâncias que o levaram a errar (ou acertar) daquela forma, provavelmente se fosse você no lugar dele, você vivênciaria tudo exatamente igual.


Os filmes e os programas que discutem esse tema, só tentando evidenciar o que é óbvio até para uma criança. Viver não é fácil, todo mundo tem problemas. Os problemas dos outros, que lhe parecem mais fáceis de serem resolvidos, para ele não é. Cabe você a tentar ajudar, se pra você é uma bobagem. Mas nunca tentar fazer aquele 'fardo' ficar ainda mais pesado, ainda mais insuportável...
Porque eu não posso ser você.


Tema proposto pelo "Post-it".. tá aí, faz tempo que eu não escrevia pra eles. :) Aliás, escrevi só uma vez. :D

Blog tá difereeeeeeeeeeente! Alguém aí percebeu? Topo novo, tem orkut, twitter, flickr ali do lado pra vocês acessarem e comprovarem o que a Fernanda sempre me diz: Só você mesmo pra cuidar disso tudo! UHAHUAHUAHU Tem o fotolog também, mas tô pensando numa foto pra postar aê aê! HUAHUAHU parei. *-*
Beijo pra quem leu;*


23 de julho de 2009

Gravíssimo, gravado.

Ela entrou pela porta do consultório médico quando o Doutor a chamou pelo nome. Seu coração estava disparado há dias, os olhos tinham um brilho fora do comum brilhavam mais que as estrelas e suas mãos suavam frios. O Doutor quis saber o que estava acontecendo com aquela menina que aparentava perfeita saúde:
- E o que você sente?
- Não sei Dr, meu coração está querendo fugir durante esses dias, minha mão gelada e eu sinto como se existissem borboletas dentro da minha barriga. Meu pensamento aéreo e eu fico cantalorando durante todo o dia aquelas músicas bobas.
O médico fazia cara de que não gostava do que ouvia e a menina ficou ainda mais preocupada, o que seria... então questionou:
- É grave?
- Suas pernas tremem? Você fica impaciente?
- Sim tremem Doutor, não... não fico impaciente! Mas é grave? É grave? Me responde?
A cabeça do velho Doutor já estava grisalha, ele bem conhecia como funcionavam aquelas coisas. Imagine se ela não é impaciente, era o que ele conseguia pensar. Depois de um longo silêncio, enquanto procurava a forma mais amena de falar, depois de um suspiro soltou de uma vez:
- Muito grave.
- Grave? - Ela se assustou e começou a ficar ainda mais inquieta. - Eu vou morrer?

(...)



Grave, grave sim. Muito grave, não tem cura. Está gravado. Bom ou ruim vai ser assim. É o amor, você está contaminada até o fim dos teus dias. Funciona desse jeito, você não escolhe. Mas, para alívio dos muito apaixonados é a melhor das "doenças". Digo mais, a salvação do mundo. O que seria de nós se não fosse o amor? Mas não. Ninguém morre de amor, morrem aos poucos por suas complicações. Mas o amor é chama, o amor é vida.. é tudo que existe de mais terno em você. Você morre de saudade, morre de desejo... mas de amor não morre. O amor acontece, não é uma escolha... O seu amor, a sua sina... são teus. O amor é algo que não é ensinado na escola, nem nos doutorados. Você aprende na marra, você aprende na prática, olho no olho, frio na barriga, calafrios, brigas. Sim, elas fortalecem... solidificam esse sentimento. É o amor, ele vai escorrer pela tua alma... te contaminar. Eis que quando você vê já não se pode voltar atrás a entrega total foi feita e não tem retorno. Ou você o vivência, ou vivência a contra mão do mundo.

18 de julho de 2009

Galerinha! ;)

Sim, eu estou viva e muito bem. ;) Dois posts hoje, Jô? Exato. Dois posts hoje. :)
O primeiro post, Os dragões não conhecem o paraíso. É da autoria do meu querido e amado Caio Fernando Abreu. Seguinte, postei um texto e ia continuar só com ele. Porque eu gostaria mesmo que vocês conhececem o cara que me entende, praticamente meu psicólogo. É lendo os dele, que eu muitas vezes me encontro. Só que não cabe a mim forçá-los a conhecê-lo. Só acho que vocês gostariam disso e tal. O Texto é grande e vocês precisam de paciência pra ler... mas é tão perfeito. Na minha opnião ele compara os Dragões aos amores eternos, que por ventura deram ou não certo. No livro de onde o texto foi retirado, ele fala: "Não se pode aprisionar os que têm asas".

Então vamos fazer um combinado? Quem quiser ler.... comenta lá e quem não quiser, comenta aqui e nós seguimos SEM RESSENTIMENTOS. Até porque eu sou da paz... HAUUHAUHAUHAUHAUH

Gente, o que tem sido as férias de vocês? A minha está sendo excelente, na minha opnião... tão bom dormir! Tô colocando em dia meu sono... *-* Ganhei dois selos da Ari, mas eu posto depois!



:*


l

17 de julho de 2009

Os dragões não conhecem o paraíso.

Tenho um dragão que mora comigo.

Não, isso não é verdade.

Não tenho nenhum dragão. E, ainda que tivesse, ele não moraria comigo nem com ninguém. Eles são solitários, os dragões. Quase tão solitários quanto eu me encontrei, sozinho neste apartamento, depois de sua partida. Digo quase porque, durante aquele tempo em que ele esteve comigo, alimentei a ilusão de que meu isolamento para sempre tinha acabado. E digo ilusão porque, outro dia, numa dessas manhãs áridas da ausência dele, felizmente cada vez menos freqüentes (a aridez, não a ausência), pensei assim: Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma que precisam da ilusão de Deus. Da ilusão do amor para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta; da ilusão de Deus, para não se perderem no caos da desordem sem nexo.

Isso me pareceu gradiloqüente e sábio como uma idéia que não fosse minha, tão estúpidos costumam ser meus pensamentos. E tomei nota rapidamente no guardanapo do bar onde estava. Tenho medo da minha lucidez daquele dia.

Estou me confundindo, estou me dispersando.

O guardanapo, a frase, o medo - isso deve vir mais tarde. Todas essas coisas de que falo agora - as particularidades dos dragões, a banalidade das pessoas como eu -, só descobri depois. Aos poucos, na ausência dele, enquanto tentava compreendê-lo. Cada vez menos para que minha compreensão fosse sedutora, e cada vez mais para que essa compreensão ajudasse a mim mesmo a. Não sei dizer. Quando penso desse jeito, enumero proposições como: a ser uma pessoa menos banal, a ser mais forte, mais seguro, mais sereno, mais feliz, a navegar com um mínimo de dor. Essas coisas todas que decidimos fazer ou nos tornar quando algo que supúnhamos grande acaba, e não há nada a ser feito a não ser continuar vivendo.

Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se não fosse nada.

Depois continuo a contar para mim mesmo, como se fosse ao mesmo tempo o velho que conta e a criança que escuta, sentado no colo de mim. Dói, um pouco. Não mais uma ferida recente, apenas um pequeno espinho de rosa, coisa assim, que você tenta arrancar da palma da mão com a ponta de uma agulha. Mas, se você não consegue extirpá-lo, o pequeno espinho pode deixar de ser uma pequena dor para se transformar numa grande chaga.

Assim, agora, estou aqui. Ponta fina de agulha equilibrada entre os dedos da mão direita, pairando sobre a palma aberta da mão esquerda. Algumas anotações em volta, tomadas há muito tempo, o guardanapo de papel do bar, com aquelas palavras sábias que não parecem minhas e aquelas outras, manchadas, que não consigo ou não quero ou finjo não poder decifrar.

Ainda não comecei.

Queria tanto saber dizer Era uma vez. Ainda não consigo.
Assim confuso, disperso, monocórdio, me parece um jeito tão bom ou mau quanto qualquer outro de começar uma história. Principalmente se for uma história de dragões.

Gosto de dizer tenho um dragão que mora comigo, embora não seja verdade. Como eu dizia, um dragão jamais pertence a, nem mora com alguém. Duvido que um dragão conviva melhor com esses seres mitológicos, mais semelhantes à natureza dele, do que com um ser humano. Não que sejam insociáveis. Pelo contrário, às vezes um dragão sabe ser gentil e submisso como uma gueixa. Apenas, eles não dividem seus hábitos.

Ninguém é capaz de compreender um dragão. Eles jamais revelam o que sentem. Quem poderia compreender, por exemplo, que logo ao despertar sempre batem a cauda três vezes, como se tivessem furiosos, soltando fogo pelas ventas e carbonizando qualquer coisa próxima num raio de mais de cinco metros? Hoje, pondero: talvez seja essa a sua maneira desajeitada de dizer, como costumo dizer agora, ao despertar - que seja doce.

Mas no tempo em que vivia comigo, eu tentava - digamos - adaptá-lo às circunstâncias. Dizia por favor, tente compreender, querido, quando você desperta na sala, as plantas ficam todas queimadas pelo seu fogo. E, quanto você desperta no quarto, aquela pilha de livros vira cinzas na minha cabeceira.

Ele não prometia corrigir-se. E eu sei muito bem como tudo isso parece ridículo. Um dragão nunca acha que está errado. Na verdade, jamais está. Tudo que faz, e que pode parecer perigoso, excêntrico ou no mínimo mal-educado para um humano igual a mim, é apenas parte dessa estranha natureza dos dragões. Na manhã, na tarde ou na noite seguintes, quanto ele despertasse outra vez, as prímulas amarelas e as begônias roxas e verdes, e Kafka, Salinger, Pessoa, Clarice e Borges a cada dia ficariam mais esturricados. Até que, naquele apartamento, restássemos eu e ele entre as cinzas. Cinzas são como sedas para um dragão, nunca para um humano, porque a nós lembra destruição e morte, não prazer. O que não podemos compreender, ou pelo menos aceitar.

Além de tudo: eu não o via. Os dragões são invisíveis, você sabe. Sabe? Eu não sabia. Ele diria, com aquele ar levemente pedante: "Quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno. Os dragões não cabem nesses pequenos mundos de paredes invioláveis para o que não é visível".

Ele gostava tanto dessas palavras que começam com in - invisível, inviolável, incompreensível -, que querem dizer o contrário do que deveriam. Ele próprio era inteiro o oposto do que deveria ser. A tal ponto que, quando o percebia intratável, suspeitava-o ao contrário: molhado de carinho. Pensava às vezes em tratá-lo dessa forma, pelo avesso, para que fôssemos mais felizes juntos. Nunca me atrevi. E, agora que se foi, é tarde demais para tentar requintadas harmonias.

Ele cheirava a hortelã e alecrim. Eu acreditava na sua existência por esse cheiro verde de ervas esmagadas dentro das duas palmas das mãos. Não acredite se alguém, mesmo alguém que não tenha um mundo pequeno, disser que os dragões cheiram a cavalos depois de uma corrida, ou a cachorros das ruas depois da chuva - nunca foi esse o cheiro dos dragões. A hortelã e alecrim, eles cheiram. Quando chegava, o apartamento inteiro ficava impregnado desse perfume.

Eu aprendi o jeito de perceber quando o dragão estava a meu lado. Os dragões param sempre do lado esquerdo das pessoas, para conversar direto com o coração. O ar a meu lado ficou leve, de uma coloração vagamente púrpura. Sinal que ele estava feliz. Sorríamos suaves, meio tolos, descendo juntos pelo elevador numa tarde que lembro de abril - esse é o mês dos dragões - dentro daquele clima de eternidade fluida que apenas os dragões, mas só às vezes, sabem transmitir.

Por situações como essa, eu o amava. E o amo ainda, quem sabe mesmo agora, quem sabe mesmo sem saber direito o significado exato dessa palavra seca - amor. Se não o tempo todo, pelo menos quanto lembro de momentos assim. Infelizmente, raros. A aspereza e avesso parecem ser mais constantes na natureza dos dragões do que a leveza e o direito. Mas queria falar de antes do cheiro. Havia outros sinais, já disse. Vagos, todos eles.




Nos dias que antecediam a sua chegada, eu acordava no meio da noite, o coração disparado. As palmas das mãos suavam frio. Sem saber porque, nas manhãs seguintes, compulsivamente eu começava a comprar flores, limpar a casa, ir ao supermercado e à feira para encher o apartamento de rosas e palmas e morangos daqueles bem gordos e cachos de uvas reluzentes. Arrumava em pratos, pelos cantos, com flores e velas e fitas, para que os espaços ficassem mais bonito.

Como uma fome, me dava. Mas uma fome de ver, não de comer. Sentava na sala toda arrumada, tapete escovado, cortinas lavadas, cestas de frutas, vasos de flores - acendia um cigarro e ficava mastigando com os olhos a beleza das coisas limpas, ordenadas, sem conseguir comer nada com a boca, faminta de ver. À medida que a casa ficava mais bonita, eu me tornava cada vez mais feia, mais magra, olheiras fundas, faces encovadas. Porque não conseguia dormir nem comer, à espera dele. Agora, agora vou ser feliz, pensava o tempo todo numa certeza histérica. Até que aquele cheiro de alecrim, de hortelã, começasse a ficar mais forte, para então, um dia, escorregar que nem brisa por baixo da porta e se instalar devagarzinho no corredor de entrada, no sofá da sala, no banheiro, na minha cama. Ele tinha chegado.

Esses ritmos, só descobri aos poucos. Mesmo o cheiro de hortelã e alecrim, descobri que era exatamente esse quando encontrei certas ervas numa barraca de feira. Meu coração disparou, imaginei que ele estivesse por perto. Fui seguindo o cheiro, até me curvar sobre o tabuleiro para perceber: eram dois maços verdes, a hortelã de folhinhas miúdas, o alecrim de hastes compridas com folhas que pareciam espinhos, mas não feriam. Pergunte o nome, o homem disse, eu não esqueci. Por pura vertigem, nos dias seguintes repetia quanto sentia saudade: alecrim hortelã alecrim hortelã alecrim hortelã alecrim.

Antes, antes ainda, o pressentimento de sua visita trazia unicamente ansiedade, taquicardias, aflição, unhas roídas. Não era bom. Eu não conseguia trabalhar, ira ao cinema, ler ou afundar em qualquer outra dessas ocupações banais que as pessoas como eu têm quando vivem. Só conseguia pensar em coisas bonitas para a casa, e em ficar bonita eu mesma para encontrá-lo. Os dragões não perdoam a feiúra. Menos ainda a daqueles que honram com sua rara visita.

Depois que ele vinha, o bonito da casa contrastando com o feio do meu corpo, tudo aos poucos começava a desabar. Feito dor, não alegria. Agora agora agora vou ser feliz. E forçava os olhos pelos cantos de prata esverdeadas, luz fugidia, a ponta em seta de sua cauda pela fresta de alguma porta ou fumaça de suas narinas, sempre mau, e a fumaça, negra. Naqueles dias, enlouquecia cada vez mais, querendo agora já urgente ser feliz. Percebendo minha ânsia, ele tornava-se cada vez mais remoto. Ausentava-se, retirava-se, fingia partir. Rarefazia seu cheiro de ervas até que não passasse de uma suspeita verde no ar. Eu respirava mais fundo, perdia o fôlego no esforço de percebê-lo, dias após dia.

Tudo apodrecia mais e mais, sem que eu percebesse, doído do impossível que era tê-lo. Atenta somente à minha dor, que apodrecia também, cheirava mal. Então algum dos vizinhos batia à porta para saber se eu tinha morrido e sim, eu queria dizer, estou apodrecendo lentamente, cheirando mal como as pessoas banais ou não cheiram quando morrem, à espera de uma felicidade que não chega nunca. Ele não compreenderia. Eu não compreendia, naqueles dias - você compreende?

Os dragões, já disse, não suportam a feiúra. Ele partia quando aquele cheiro de frutas e flores e, pior que tudo, de emoções apodrecidas tornava-se insuportável. Igual e confundido ao cheiro da minha felicidade que, desta e mais uma vez, ele não trouxera. Dormindo ou acordado, eu recebia sua partida como um súbito soco no peito. Então olhava para cima, para os lados, à procura de Deus ou qualquer coisa assim - hamadríades, arcanjos, nuvens radioativas, demônios que fossem. Nunca os via. Nunca via nada além das paredes de repente tão vazias sem ele.

Só quem já teve um dragão em casa pode saber como essa casa parece deserta depois que ele parte. Dunas, geleiras, estepes. Nunca mais reflexos esverdeados pelos cantos, nem perfume de ervas pelo ar, nunca mais fumaças coloridas ou formas como serpentes espreitando pelas frestas de portas entreabertas. Mais triste: nunca mais nenhuma vontade de ser feliz dentro da gente, mesmo que essa felicidade nos deixe com o coração disparado, mãos úmidas, olhos brilhantes e aquela fome incapaz de engolir qualquer coisa. A não ser o belo, que é de ver, não de mastigar, e por isso mesmo também uma forma de desconforto. No turvo seco de uma casa esvaziada da presença de um dragão, mesmo voltando a comer e a dormir normalmente, como fazem as pessoas banais, você não sabe mais se não seria preferível aquele pântano de antes, cheio de possibilidades - que não aconteciam, mas que importa? - a esta secura de agora. Quando tudo, sem ele, é nada.

Hoje, acho que sei. Um dragão vem e parte para que seu mundo cresça? Pergunto - porque não estou certo - coisas talvez um tanto primárias, como: um dragão vem e parte para que você aprenda a dor de não tê-lo, depois de ter alimentado a ilusão de possuí-lo? E para, quem sabe, que os humanos aprendam a forma de retê-lo, se ele um dia voltar?

Não, não é assim. Isso não é verdade.

Os dragões não permanecem. Os dragões são apenas a anunciação de si próprios. Eles se ensaiam eternamente, jamais estréiam. As cortinas não chegam a se abrir para que entrem em cena. Eles se esboçam e se esfumam no ar, não se definem. O aplauso seria insuportável para eles: a confirmação de que sua inadequação é compreendida e aceita e admirada, e portanto - pelo avesso igual ao direito - incompreendida, rejeitada, desprezada. Os dragões não querem ser aceitos. Eles fogem do paraíso, esse paraíso que nós, as pessoas banais, inventamos - como eu inventava uma beleza de artifícios para esperá-lo e prendê-lo para sempre junto a mim. Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia.

Quando volto apensar nele, nestas noites em que dei para me debruçar à janela procurando luzes móveis pelo céu, gosto de imaginá-lo voando com suas grandes asas douradas, solto no espaço, em direção a todos os lugares que é lugar nenhum. Essa é sua natureza mais sutil, avessa às prisões paradisíacas que idiotamente eu preparava com armadilhas de flores e frutas e fitas, quando ele vinha. Paraísos artificiais que apodreciam aos poucos.
Agora apenas deslizo, sem excessivas aflições de ser feliz.

As manhãs são boas para acordar dentro delas, beber café, espiar o tempo. Os objetos são bons de olhar para eles, sem muitos sustos, porque são o que são e também nos olham, com olhos que nada pensam. Desde que o mandei embora, para que eu pudesse enfim aprender a grande desilusão do paraíso, é assim que sinto: quase sem sentir.

Resta esta história que conto, você ainda está me ouvindo? Anotações soltas sobre a mesa, cinzeiros cheios, copos vazios e este guardanapo de papel onde anotei frases aparentemente sábias sobre o amor e Deus, com uma frase que tenho medo de decifrar e talvez, afinal, diga apenas qualquer coisa simples feito: nada disso existe.

Nada, nada disso existe.

Então quase vomito e choro e sangro quando penso assim. Mas respiro fundo, esfrego as palmas das mãos, gero energia em mim. Para manter-me viva, saio à procura de ilusões como o cheiro das ervas, ao encontrá-los, mesmo apenas na mente, tornar-me então outra vez capaz de afirmar, como num vício inofensivo: tenho um dragão que mora comigo. E, desse jeito, começar uma nova história que, desta vez sim, seria totalmente verdadeira, mesmo sendo completamente mentira. Fico cansada do amor que sinto, e num enorme esforço que aos poucos se transforma numa espécie de modesta alegria, tarde da noite, sozinha neste apartamento no meio de uma cidade escassa de dragões, repito e repito este meu confuso aprendizado para a criança-eu-mesma sentada aflita e com frio nos joelhos do sereno velho-eu-mesmo:

- Dorme, só existe o sonho. Dorme, meu filho. Que seja doce.

Não, isso também não é verdade.



O Grande, eterno - Caio Fernando de Abreu.

9 de julho de 2009

Por quê?

Eu não sei por que o amo. Cada vez mais confusa por não saber. Pode ser pela mania que ele tem de sempre querer me proteger, ou pelo modo com que me aperta em cada recomeço. Ou será ainda pela maneira encantadora que ele pede para que eu repita que o amo, com o brilho nos olhos? Eu não sei por que o amo. Será que é pelo brilho nos olhos? Ou pelo tom de voz que exprime sempre certa razão? Me fazendo rir. Eu paro inúmeras vezes, olhando pro céu ensolarado ou estrelado e fico a pensar por que o amo, por que o amo tanto assim? Não sei. Não queria desistir, mas não sei. Talvez pela maneira com que ele me olha e diz que almas gêmeas nunca se separam. Ou pelo humor que só ele tem quando diz que devo me pintar com as cores do Fluminense.
Todas as pessoas tem motivos para amar, definido por um item. Como se uma lista de compras, comprarei de tal marca - amarei se ele for assim. Mas eu não, sempre nessa indecisão. Eu não sei por que te amo.
Será que é pelas vezes que ele me deu um merecido puxão de orelha e que além de meu amor, foi meu amigo? Ou pelos planos para que fiquemos bem? Será que é pelo modo como ele fala quando está sério, ou quando triste? Pode ser porque somos do mesmo signo, do mesmo dia. Mas tantas pessoas são regidas pelo mesmo signo e não se amam. Será que é pela respiração ofegante dele enquanto me deseja? Ou pelo sotaque goxxxxxxxxtoso dele? Eu não sei por que o amo. Será que me apaixonei porque ele fala e escreve corretamente? Será que foi pela maneira bonita como ele coloca as palavras? Ou eu só gosto de tudo isso porque o amo? Ou até pela maneira que ele é apaixonado pelo time. Sempre me encantei com o jeito que ele impõe seus argumentos, será por isso que eu o amo? Ou pela maneira que ele se desculpa quando tento fazer com que se sinta culpado? Ou ainda pela forma com que ele me coloca pra andar como boneca sobre seus pés? Ou pela forma que ele me protege de mim mesma e diz que não é bom fazer assim? Ou pelos apelidos bobos que ele me dá, ou pela forma que ele ri dizendo que tenho nome de Traveco. Ou então, pela forma que diz que eu sou a única travequinha que ele ama. Pelas risadas... Pelas piadas com duplos sentidos e segundas, terceiras... intenções.
Eu juro que não sei porque o amo. Porque acordo todos os dias querendo ouví-lo e vou dormir ainda querendo contar todo o meu dia, como se aquilo fosse o maior dos meus problemas, não poder contar a ele o meu dia. Não sei e não finjo saber. Poderão pensar que faltam motivos, mas motivos é o que tenho de sobra. E quase enlouqueço-me ao pensar que as pessoas amam por motivos. O amo sem motivos e tenho cem, mil, milhões de motivos.
Será que amo porque me fez torcer pelo Tricolor, ou pelo medo que tenho de nunca mais tê-lo por perto? Ou pelas grosserias passageiras dele? Pela minha ânsia em atender o telefone na esperança de ouvir a voz dele do outro lado, ou por ele dizendo pra eu gravar na alma ele dizendo o quanto me ama e me chamando de manhosa pelos meus dramas e manhas.
Eu não sei porque o amo e não me arrependo. Nem me falem, quem sabe eu deixo de amar.


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Releitura de "Aos meus pés - Fabrício Capinejar"
Nunca tinha feito uma releitura de um texto, fiz um no colégio. Mas não por escolha, por nota. E há muito tempo atrás. Esse texto do Fabrício é lindo, só que é de um homem para uma mulher e eu fiz ao contrário. Usando situações totalmente nossas, minha e dele. Ele quem? Ele sabe! ;) O meu
Tricolor mais lindo do mundo, que eu taaaaaaaaaaaaaaanto amo. Mesmo não sabendo o porque, haha. *-* No fundo, lá no fundo eu acho que o amo porque ele é a minha alma gêmea, como a gente mesmo diz um pro outro. F


"Olha, ela até aprendeu falar alemão pra dizer que me ama!" *-*
Für immer Dich! ;) (Eternamente você!)

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Queria descobrir
Em 24hs tudo que você adora
Tudo que te faz sorrir
E num fim de semana
Tudo que você mais ama
E no prazo de um mês
Tudo que você já fez
É tanta coisa que eu não sei

Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você
Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você

E até saber de cor
No fim desse semestre
O que mais te apetece
O que te cai melhor
Enfim eu saberia 365 noites bastariam
Pra me explicar por que
Como isso foi acontecer


Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você
Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você

Por que em 'tão pouco' tempo
Faz tanto tempo que eu te queria

Zélia Duncan - Tudo sobre você.


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Esse só não é melhor que a nossa... né? HAHA Não contarei pra ninguém qual é a nossa. ;) Tô morrendo de saudaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaade!

5 de julho de 2009

A delícia e a dor de ser sozinha.

É delicioso estar sozinho na primeira noite, você sai... Enche a cara, volta sozinha no carro sem ninguém pra te encher o saco ouvindo aquela música de solteirice aguda no volume mais alto e cantando ela, como se a solteirice fosse a melhor coisa do mundo.
No outro dia, você amanhece com o gosto amargo na boca e o despertador tocando, sua cabeça está explodindo e não, ninguém vai lhe trazer um café quentinho. Você tira a venda dos olhos e o sol passa a te incomodar, incomodaria também se ele estivesse ao seu lado, mas o despertador não estaria tocando, os raios de sol teriam o acordado primeiro, já que você sempre dorme com aquela venda perfumada de lavanda. E você teria um abraço aconchegante de bom dia, aquele do encaixe perfeito que você sonhou tantas vezes na sua adolescência. Você se levantaria, correria para a suíte e lavaria o rosto, pensaria duas vezes antes de pegar a escova no armarinho, afinal você sempre demora pra saber qual a dele e qual a sua. Mas isso não vai acontecer, já que só a sua estará ali.
Então depois de uma ducha quente você caminhará até a sala e não vai se deparar com ele sorrindo sinicamente enquanto lê o caderno de esportes do jornal que vocês assinam porque o seu time perdeu ontem. Você se arrumará muito bem para fingir que nada mudou, mas lá pelas 10hs no seu trabalho ele não te convidará pra almoçar naquele restaurante bacana que vocês adoram. E você se lembrará do perfume dele. Você vai almoçar no centro com as suas amigas para disfarçar a solidão, naquele restaurante com comida balanceada, afinal você não pode engordar ou elas acharão que você está deprimida porque seu relacionamento acabou. Só então você se recordará o quanto chocolate engorda.
Depois do almoço seu chefe vai pedir para você fazer hora extra e você aceitará, já que não tem bons motivos para chegar em casa mais cedo e certamente você chegará a tempo de ver a novela mexicana. Ao fim do expediente ele não terá te ligado para saber os motivos de tamanha demora e quando pegar o carro com o “Jão” do estacionamento da empresa, você não ficará brava com ele se ele te cantar. Afinal, você não usa mais aliança e seu ego precisa e merece ser enaltecido.
A caminho de casa a música de vocês tocará na rádio e você buzinará pra não chorar. E quando o sinal ficar vermelho, você não terá nada além do freio de mão para descansar a sua. Não, a coxa dele, macia e aconchegante não ficou de brinde. Quando chegar na garagem do seu prédio a vaga que costumava estar ocupada pelo carro dele estará com uma placa de aluga-se que você mesma pediu para que colocassem, depois de uns dias estará ocupado por um carro que não o dele.
Nos primeiros dias você optará por subir as escadas, caso alguém pergunte é porque não tens mais tempo para a academia que você nunca fez, mas você, só você e ele sabem que é porque quando o elevador começar a subir e você sentir aquele calafrio de medo que sente desde quando pequena não terá a mão dele para apertar.
Destrancará a porta da sala e a única luz acesa será a da secretária eletrônica, uma esperança. Que logo é perdida quando a voz ouvida é a da gerente do seu banco. Não terá comida congelada na geladeira, ele não comprou. Você vai pro quarto, assistir a novela mexicana que você ama e ele odeia, chora na parte que os mocinhos brigam e se coloca no lugar dela. E começa a devorar um livro sobre astrologia e ninguém pedirá para parar com essa bobagem, nem para apagar a luz. Então você decide tomar banho, a meia noite pra ver se alguém implica e nada!
Depois do banho sai descalça, porque o chinelo velho dele pro seu pé cansado não estava lá. Você milagrosamente sorri porque recebeu uma mensagem no celular e seu cérebro logo acusou: É dele! Mas, é a sua operadora constatando a nova promoção do dia dos namorados, droga. Você veste a última e única camisa velha que ficou no ninho pra sentir o cheiro dele e coloca sua venda, não sem antes colocar mais uma vez o celular para despertar. Cobre o corpo todo e a alma permanecerá fria, você rolará a noite toda na cama inteira sem esbarrar nele ou ao menos ouvi-lo pedir para que sossegue.
Estar sozinha é resumidamente não ter. Você não terá dor de cabeça e nem de quem sentir ciúmes. Você não vai ter quem te ligue durante a noite precisando ouvir sua voz. Não vai ter que se preocupar com ninguém, mas não terá quem se preocupe com você. Não vai ter quem vai puxar seu cobertor durante a noite, nem te cobrir quando você se descobrir feito criança. Não vai ter com quem falar como bebê sem parecer idiota, tampouco quem fará piadas de duplo sentido sem estar te desrespeitando, você não vai ter com quem dividir seus medos sem parecer uma criança boba. Não, não vai ter.



Ou você pode até ter... que sustentar que está tudo bem.

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Está vendo como faz falta? (:
Gente do céu, ontem fui pra capital e foi tudo de bom! Que pastelão... ;) Quem sabe, sabe! :*