Sentou na cama assustada e sentia-se gélida, como se estivesse fora de si. Apalpou seu próprio corpo para sentir se ainda era tempo de respirar, os olhos varriam o quarto para ver se estava tudo bem, ou se algo havia acontecido. O pijama claro e curto deixava a mostra seus pêlos arrepiados como num apelo não atendido pelo calor vital. A mediunidade não era bem vinda por todos e nem mesmo por ela, temia que aquilo fosse real e tudo indicava que era, o relógio anunciava que era hora de levantar, se havia sido sonho ou não ainda era necessário continuar, mesmo que lhe faltasse força. Colocou os pés no chão que parecia intangível, a sensação era de horror e medo, não se acostumaria fácil com aquilo, ainda que se tornasse freqüente. Levantou e por alguns instantes conseguiu se esquecer do que havia acontecido, ao certo não tinha esquecido... Conseguiu por um tempo não pensar.
Enquanto tomava o café ouviu ser chamada, olhou tudo ao seu redor e só sua mãe estava ali, não havia sido ela. Aquela voz grave não teria saído de tão delicada criatura, a menos que fosse uma brincadeira de mau gosto, mas não faria sentido. Como nenhum dos outros acontecimentos o fazia, seus pensamentos estavam sendo atormentados pelas mais diversas dúvidas, quando conversava com o seu irmão de alma ele sempre dizia a ela que ela era mediúnica, devido a diversas situações que ela tinha vivido. Tomou os livros pelas mãos e foi se dirigindo ao ponto de ônibus, todos os dias ela fazia isso... pegava sempre o mesmo ônibus para ir ao colégio. E sempre observava atentamente as ruas passando consigo, imaginava mil histórias durante o trajeto que não era muito maior que vinte minutos. Durante esse tempo sentiu a alça da bolsa cair do seu ombro, como se alguém tivesse puxado-a, o que seria impossível e logo depois sentiu um arrepio, mais um grande sinal de que ele estava por perto. Recordou-se do que havia acontecido naquela noite e tinha deixado-na tão assustada. O medo que ela sentiu só não poderia ser maior que a saudade que ela tinha dele, essa saudade atormentava-a sempre e fazia feridas que nunca poderia se fechar, a menos que o reencontro acontecesse e tinha acontecido, não era só mais um sonho ou um pensamento, não tinha sido um susto, era realidade. Eles estiveram juntos mais uma vez, as almas dos dois se reencontraram. E tudo o que ela precisava naquele momento era poder compartilhar com alguém aquele reencontro, mas o alguém não era qualquer. Poderiam rir da cara dela, poderiam chamá-la de maluca, de ridícula ou mentirosa. Mas, o coração não mente, apenas sente e ela estava sentindo aquela saudade um tanto amenizada, passou o dia na busca da pessoa correta e não foi possível.
Quando voltou para casa abraçou o travesseiro e se colocou a chorar, era um choro desmedido e merecido, as lágrimas corriam a sua face, não estava com medo do que tinha acontecido naquela noite e sim do que os outros pensariam quando descobrisse. Aquelas coisas não eram brinquedo com o qual poderia se brincar e depois deixar de lado, aquela não era uma história fictícia que ela veria no cinema e voltaria pra casa como se nada tivesse acontecido, ela era a personagem principal e o roteiro havia sido escrito pelo vida ou pela morte.
Sentiu lhe afagarem os cabelos. Ela olhou de lado e encontrou alguém que estava disposto a ouvir e não julgar, alguém que demonstrou interesse em conhecer uma história que tinha acontecido do outro lado da vida, uma história que nem todos estão dispostos a conhecer e nem todos vão viver. Lamentavelmente, sempre existe um alguém em nossas vidas para quem nós nunca gostaríamos de dizer adeus, ela sentia enquanto chorava que dizer adeus era necessário, aquela poderia ter sido a última visita do anjo a terra, poderia ter sido o momento em que ele conseguiu se desprender das coisas que ele tinha aqui, não era bom, não era satisfatório, mas era algo que precisava acontecer para o bem dele e dela. De qualquer forma era inegável que havia sido perfeito, mesmo em circunstâncias tão distantes. Foi quando cessou o choro e ouviu a voz que queria acolher aquela história.
- Anda, diga-me o que tanto te faz chorar...
Com a voz ainda embaraçada pelo choro e envolta por soluços, ela se acolheu ao colo da amiga e foi contando o que havia acontecido:
- Ele veio me visitar, eu não quis acreditar que tinha estado com ele quando acordei, mas foi real, foi tão real. Eu senti... – A amiga não quis interromper, apenas consentiu para que a aquela criatura ali em seu colo, se fazendo tão pequena, pudesse continuar. - Foi em sonho, eu até acordei assustada. Ele tinha vindo da Alemanha para o Brasil com a Camila e um filho, era filho deles. Eles tinham se casado e ele estava tão bem, com uma alegria que eu só conseguia ver quando estava por perto. Era tão sério com os outros. Eu trabalhava em um orfanato no qual a minha mãe era dona. E ele tinha vindo deixar o bebê, estava se separando da Camila que queria ficar no Brasil e voltando pra Alemanha, não consegui compreender os motivos que o fez tomar essa decisão. Mas, o engraçado é que ele não sabia que o orfanato era meu, ele tinha escolhido porque era um bom lugar, um lugar lindo... parecia uma casa no campo tinha uma árvore enorme e brinquedos por todos os lados, quando eu o vi dentro do carro foi impossível de controlar... eu saí correndo na direção dele. – um suspiro saiu dela, mas ela não se abalou. – Eu gritava como teria gritado se ele aparecesse agora ali na porta, eu gritava correndo na direção dele de braços abertos, como era a minha vontade de recebê-lo de volta. O bebê que ela trazia nos braços era a coisa mais linda de se ver, era loirinho e tinha os olhos azuis, eu acho que era menino e se chamava Josh, a Camila não queria deixá-lo, ou queria. Não falei com ela, deixei-a com outra pessoa, pra cuidar de toda a papelada e fui à varanda da casa matar a saudade do meu irmão. Ele me dizia que estava tudo bem com ele, melhor, muito melhor do que antes e que eu não tinha porque me preocupar, ele dizia que também sentia a minha falta e que nunca ia me esquecer, por um momento achei que ele sumiria da minha frente. Ele me pedia incansavelmente para que eu não deixasse meus estudos e eu disse que queria ir com ele, queria ir embora com ele porque a falta era demais. Eu o abraçava durante todo o tempo. Ele me disse que a Alemanha não era algo tão bom quanto eu pensava, que o Brasil era bem melhor, eu defendia que era bom porque ele não passava todo o tempo aqui e ele dizia que o povo brasileiro era muito mais receptivo do que os alemães. Pedi para que ele ficasse e foi em vão... Ele pegou as chaves do carro e chacoalhou-a na minha frente, fazendo tilintar e disse que precisava ir, as malas estavam no carro. Quis morrer com a partida, debrucei sobre a janela do carro dele, quando ele já estava sentado e ficava dizendo que ele sempre me faria muita falta. – A explicação foi interrompida por um grande silêncio, a amiga que prestou atenção em tudo o que lhe foi dito, voltou a afagar os cabelos da menina. Apenas sorriu como se concordasse – eu acredito em você.
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Esse texto eu escrevi a pedido de uma grande amiga, que disse que queria um reencontro, ainda que fosse um sonho. O sonho realmente aconteceu, eu realmente já tinha sonhado com isso, se aconteceu, se foi só um sonho, se foi real, se foi experiência mediúnica, como dizia o próprio personagem dessa história verídica, que eu tinha fica a critério de vocês. Eu acredito e isso é suficiente. Um beijo pra vocês todos! ♥
8 comentários:
Primeira pessoa a comentar *-* E que morram de inveja, foi EU, EUZINHA, EU MESMA, a própria que pediu esse reencontro *-* Mas deixando o ego de lado, vamos ao comentário u_u
Cara, eu tava estudando sobre psicanálise quando me mandou o link. Então não se assuste se eu viajar um pouco ou não falar coisa com coisa :(
Amor, você não me fez chorar dessa vez. Mas eu me arrepiei todinha com o começo e com o final, O QUE FOI ISSO? Está vendo só como você é poderosa, fadinha?!
E durante rolou um pouquinho de emoção, assumo u_u'
Eu achei triste e não consegui entender direito o motivo para eles estarem deixando o pequeno Josh em um orfanato. Estavam se separando e não queriam mais o bebêzinho? Por que não ficaram com ele?
E sendo assim, você ficaria com ele, veria o bebêzinho crescendo. De certa forma, teria para sempre um pedacinho do seu tão querido irmão. (?!)
Sobre o principal da história, sobre o reencontro. Eu achei tão rapidinho *cry* Td bem, sonhos não duram para sempre, mas esse bem que podia ter durado um pouquinho mais, né? ><' Mas eu gostei, achei tão legal você contando sobre tê-lo visto chegando e sair gritando, tipo cena de filme *-* E vocês abraçados, parecia mesmo que era segunda despedida, triste por ele não querer te levar junto. Mas lindo por demonstrar preocupação contigo e seus estudos... E quando ele foi embora, por que tu não abriu a porta do carro e se enfiou lá dentro?! u_u'
Quero outro reencontro :( Não para hoje ou para amanhã... Mas como esse sonho realmente existiu, poderia ter um recontro nº três; onde você escrevesse em cima da sua vontade, dos seus desejos.. Como montasse um terceiro reencontro. Algo mais animado, essas coisas tristinhos são tão tocantes. Quero alegria ><'
Mas resumindo: Eu amei (ok, agora eu vou contar a novidade, tá? Hahaha)! Você sempre é perfeita *-*
acho fantástica essa ligação entre as almas... pouco importa o que foi, e sim o que significou, o que representou...
o amor é força vital...
o amor pode tudo...
Lindo !
Fiquei arrepiada !
beijo
Eu acredito!!!
e meu deus... fiquei arrepiada enquanto lia...
Acredito nesses encontros em sonhos, nas aproximações das almas dos queridos que já se foram...
linda história a de vcs!!!
beijos
Para pessoas que nunca passaram por situações assim fica difícil acreditar. E mesmo acreditando, ainda tem tantas outras questões envolvidas.
Não sei se realmente conseguimos sentir pessoas que não estão nesse mundo.
Bjitos!
Que lindoo o textooo *-*
amei
As vezes tem sonhamos as coisas tão claramente, que duvidamos se aquilo foi só sonho ou se aconteceu de verdade. Adoro os seus textos e a sua maneira de escrever.
Saudaaaade
beijo
Nossa, tô aqui grudada na tela... então aconteceu com vc, querida? olha, mt surpreendente.. tbm acredito nessas coisas... sempre dizem que eu tbm tenho meu lado mediúnico mais avançado, mas prefiro não trabalhar isso.. opção... mas todos os dias eu sonho com minha mãe... no início era assim, como uma despedida, sabe? agora é como se ela estivesse acompanhando minha vida através dos sonhos.. apesar de acordaar triste, pq a gente quer que seja verdade aquilo, mas depois fico feliz, pois eu vejo ela tds os dias.. xD
bjusss
"Eu acredito e isso é suficiente."
Adorei o que li, e o que vou continuar lendo...
Um beijo!
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